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Depois do estádio do Maracanã, a aldeia: governador do RJ quer vender terra indígena para quitar dívida do estado com União

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Por JB RIO com Revista Fórum
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Publicado em 28/10/2025 às 07:45

Alterado em 28/10/2025 às 08:50

Claudio Castro Foto: Eliane Carvalho/Governo do RJ

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Por Julia Motta - A Aldeia Maracanã, localizada ao lado do estádio de mesmo nome, corre o risco de ser vendida pelo governo do Rio de Janeiro para pagar a dívida do estado com a União. O local, que abriga indígenas em contexto urbano de diversas etnias, é alvo de ameaças de despejo há pelo menos dez anos, inclusive por autoridades políticas. Agora, a luta da comunidade se intensifica com a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), de um projeto que autoriza a venda de 62 imóveis, dentre eles, a aldeia.

O projeto de lei 40/25, apresentado pelo governador Cláudio Castro (PL-RJ), foi aprovado pela CCJ na última quarta-feira (22) com algumas alterações. Antes, a lista previa 48 imóveis disponíveis para leilão. No entanto, os deputados excluíram 16 endereços e incluíram novos 30 imóveis. O Estádio do Maracanã, um dos maiores símbolos esportivos do país, também está na lista, além de diversos prédios da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

A inclusão da Aldeia Maracanã na lista foi feita pelo deputado e presidente da CCJ Rodrigo Amorim (União), que tem um longo histórico de ataques contra a comunidade indígena localizada na Zona Norte da cidade. Desde 2019, o parlamentar profere ofensas e ameaças contra a aldeia e chegou a declarar que o local era um "lixo urbano". Em sua justificativa para incluir a aldeia na lista, ele voltou a atacar a comunidade, afirmando que o local é "subutilizado por meia dúzia de indivíduos que se apresentam como índios".

Em entrevista à Fórum, o líder indígena da Aldeia Maracanã, Urutau Guajajara, comentou sobre a batalha judicial que vive a comunidade. Em 2012, a aldeia entrou com uma ação civil pública pedindo que a Aldeia fosse retomada pela União após ser vendida para o governo do estado, que até hoje não finalizou o pagamento. Antes, o terreno era administrado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Também em 2012, a aldeia começou a sofrer um processo de expulsão ainda mais intenso devido à Copa do Mundo. Por se localizar ao lado do Maracanã, a aldeia virou alvo de processos de retirada para que o terreno virasse um estacionamento provisório e em seguida um shopping. No ano seguinte, em 2013, a comunidade começou a ser alvo da ação constante de dezenas de policiais da Tropa de Choque.

Desde então, as comunidades indígenas da Aldeia Maracanã vivem sob insegurança e ameaças e lutam pelo reconhecimento de seu território, que funciona como um ponto de acolhimento para indígenas que chegam aos centros urbanos e como um centro cultural com atividades abertas para a sociedade. Além disso, a Aldeia também luta pelo reconhecimento de uma Universidade Indígena no local, onde diversas aulas são ministradas.

Manifestação em frente à Alerj
Diante dessa nova ofensiva, Urutau afirmou que uma manifestação está sendo organizada para esta quarta-feira (29) em frente à Alerj para pressionar contra o ataque à aldeia. Ele afirmou que as investidas são sempre muito pesadas, mas que o estado sempre consegue se surpreender. Ele também citou o próprio deputado Rodrigo Amorim como uma das principais pessoas que atacam o local.

O líder indígena também lamentou uma série de ofensas racistas que a aldeia recebe pelas redes sociais e que se intensificaram após a aprovação do projeto na CCJ. Pessoas que os desrespeitam afirmando que eles são "menos indígenas" por estarem em contexto urbano e defendem a expulsão da comunidade.

O projeto agora segue para o plenário onde pode sofrer mais alterações com a inclusão ou retirada de imóveis e, se aprovado, parte para a sanção do governador Cláudio Castro.

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INFORME JB:

As perguntas que não querem calar são as seguintes:

1) O que o nobilíssimo governador fez com o dinheiro que arrecadou com a venda da Cedae?

2) Em quantas mochilas coube essa grana?

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