"Já teve recheio aqui que a gente colocou porque as pessoas sugeriram e deram dicas. A gente acredita que possa expandir o negócio até para fora mais para a frente. É a nossa meta, mas tudo aos poucos. Antes, vamos incrementando os sabores. Tem um bacalhau que estou planejando há uns meses", projeta Filipe.
Gigante do Parque União
O Comida de Favela abrange negócios menores como os vistos acima, mas também tem entre os participantes aqueles que viram as vendas multiplicarem e se tornaram grandes empreendimentos. Logo na entrada da favela Parque União, um prédio verde se destaca pelo tamanho das demais casas. O Bar e Choperia Esperança tem quase 150 funcionários. Mais de 90% deles mora na Maré. E recebe, em média, 1,2 mil clientes por dia.
Para escolher o prato que representaria o estabelecimento no festival, eles fizeram um concurso interno com funcionários. E a vencedora foi a Coxinha Arretada. O salgado e os ingredientes não foram escolhidos à toa. Além do sabor, pesou o quanto o salgado seria representativo do encontro de culturas e tradições brasileiras.
"O nosso restaurante é nordestino. Carne seca e o nosso jerimum, ou abóbora, são bem característicos do Nordeste. E a coxinha é um salgado que você encontra em todas as comunidades. Então, a gente fez essa junção e ficou bem bacana. O retorno tem sido muito positivo", diz Marcos Salles, gerente geral do Bar Esperança.
A presença nordestina no Comida de Favela é algo a ser destacado e reforça a herança trazida por migrantes que ajudaram a construir não só a Maré, mas a cidade do Rio de Janeiro. Alguns números do festival ajudam a dar essa dimensão: dos inscritos, 46,4% tinham donos de origem do Rio de Janeiro e 30,9% do Ceará.
O atual proprietário do Bar e Choperia Esperança, Rondinele, é um desses exemplo. Ele veio de Hidrolândia, no Ceará, e trabalhou durante 13 anos no barzinho do sogro. Em 2006, herdou o negócio e conseguiu transformar no que é hoje. O que era um negócio pequeno virou um exemplo para os outros estabelecimentos que sonham em crescer, atrair mais clientes e expandir os rendimentos.
Boteco LGBTI+
A carioca Edissandra Oliveira e a paraibana Edinalva Montenegro decidiram abrir um bar há 3 anos na favela Conjunto Pinheiro. Era para ser um empreendimento como qualquer outro do tipo, mas o acolhimento e incentivo da população LGBTI+ transformaram o local em um ponto de encontro para além das comidas e bebidas. As bandeiras arco-íris distribuídas pelas paredes deixam claro que ali é um espaço de festa, diversidade e afeto.
"Aqui virou uma referência da comunidade. Até pensei que outras pessoas iriam implicar, mas todo mundo respeitou. Os clientes falam que em outros estabelecimentos não podem ficar à vontade, conversar em paz e trocar um carinho, porque todo mundo fica olhando feio. Aqui, podem ser eles mesmos. Se tiver que namorar, se beijar, estão tranquilos", conta Edissandra.
O Boteco Tô Chegando concorre no festival com o Gurjão de Frango. Mesmo que não ganhe o prêmio, os resultados já estão aparecendo. Clientes de diferentes bairros do Rio têm ido conhecer o espaço e têm se surpreendido com o que veem.
"É bom que as pessoas percebem que a favela não é só violência. Ela tem muita coisa boa. Tem gente que vem com família, se surpreende e fica muito feliz. Porque também tem essa imagem de que por receber a população LGBT, é bagunça. E não. Aqui tem muito respeito por todos", defende Edissandra. (com Agência Brasil)
Serviço:
Festival Comida de Favela
Data: até 02/12 na Maré
Preços dos pratos variam de R$ 2,50 a R$ 30,00
Roteiros guiados com monitores-moradores da Maré aos sábados e domingos, às 12h. Saídas de dois pontos: Praça do Parque União e ponto de ônibus da Vila do João.
Informações: (21) 99723-5681 ou no site.