POLÍTICA

Greve de funcionários públicos desgasta Bolsonaro e complica situação eleitoral, diz analista

A paralisação é uma resposta às intenções do governo federal de garantir aumentos salariais a policiais, considerados parte da base de apoio do governo

Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 18/01/2022 às 08:13

Alterado em 18/01/2022 às 09:55

[Bolsonaro] 'Não há nada oculto que não seja revelado' (Lucas 12:2) Foto: Antonio Lacerda/Ansa

Está marcada para esta terça (18) uma paralisação dos funcionários de carreira, considerados a "elite" do funcionalismo público. O ato busca cobrar reajuste salarial do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O movimento deve juntar ainda servidores do Ibama e do ICMBio e recebe apoio da base dos servidores federais.

A paralisação é uma resposta às intenções do governo federal de garantir aumentos salariais a policiais, considerados parte da base de apoio de Bolsonaro. A medida foi anunciada ainda em dezembro do ano passado e gerou inquietação no funcionalismo público.

Diante do ocorrido, o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) aprovou paralisação da categoria nos dias 18, 25 e 26 de janeiro. A entidade reúne funcionários com poder de pressão de instituições como a Receita Federal, o Banco Central e também da diplomacia.

Para Guilherme Carvalhido, cientista político e professor da Universidade Veiga de Almeida, a paralisação cria problemas sociais e políticos, e a responsabilidade pelas consequências do movimento deve cair sobre os ombros do governo federal. Segundo o pesquisador, ao privilegiar determinadas categorias do funcionalismo público em detrimento de outras, o Planalto gerou "instabilidade" entre os servidores públicos.

É evidente para Carvalhido que Bolsonaro busca fortalecer sua base de apoio com as medidas, visto que não há espaço no orçamento para garantir aumento para as demais categorias. A instabilidade gerada pela escolha, porém, pode desgastar a imagem do governo, que tem como característica movimentos em direção à sua base de apoio, explica o cientista político.

Carvalhido ressalta ainda que esse tipo de medida é comum em anos eleitorais, mas por si só não é capaz de garantir vitórias nas urnas. Segundo o pesquisador, o conjunto de medidas do governo deve ser levado em conta nessa avaliação.

 

Desgaste político 'irreversível'

A popularidade do presidente Bolsonaro está em queda ao longo da pandemia da covid-19. Carvalhido acredita que o presidente perdeu apoio entre os eleitores devido à gestão da crise sanitária, que vitimou mais de 620 mil brasileiros, mas também pelo que chama de "letargia" da atividade econômica.

Segundo o pesquisador, há uma tendência para que nas eleições presidenciais deste ano o eleitorado prefira "votar com o bolso", tendo em vista indicadores como a inflação. Em 2021, a inflação oficial divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 10,6%, a maior desde 2015. (com agência Sputnik Brasil)