ARTIGOS
Não me aproximo
Por TARCISIO PADILHA JUNIOR
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Publicado em 12/05/2022 às 20:50
Alterado em 12/05/2022 às 20:50
Lição que era
tão simples.
Hannah Arendt (1955)
O indivíduo pode refugiar-se num estilo de vida preestabelecido, como meio de aliviar ansiedades que poderiam afligi-lo.
Vivemos imersos numa cultura centrada em expectativas, exigências e frustrações, que gera dor por não haver presença. Conforme um modo de existência em que cada indivíduo encontra-se ao mesmo tempo em toda parte e em parte alguma.
Viver a humanidade envolve aprendizagem no sentido de configurar a vida em referências concretas, a partir da dimensão espiritual. Somente assim conseguiremos dominar a agressividade, que exerce papel decisivo também na esfera política.
Pensar que nos relacionamos uns com outros como indivíduos isolados é não entender a natureza da existência humana. Não somos indivíduos independentes e completos, que podem decidir em um momento iniciar relacionamentos com outros.
Fato é que o poder não é um fenômeno natural, pertence à esfera política dos negócios humanos. Nos dias que correm, aparentemente indivíduos só existem por relacionamentos que conseguem criar e manter, pelas redes que desenvolvem.
Crescente conhecimento geral das condições comuns da nossa vida passa ao largo da crescente racionalização, pela qual a dimensão operacional é parte indissolúvel da ciência moderna - tudo pode ser dominado mediante o cálculo e a previsão.
Predomínio das estatísticas é uma mostra dessa mentalidade; estatísticas são como recontagens e inventários das coisas. Assim, parece não haver nada que não se possa explicitar. O que está dentro, no interior, pode ser extraído, à luz do dia.
O cidadão conectado sente-se informado quase pelo fato de que tem disponível extraordinária quantidade de informação. Na contramão de simples quantidade, informação elaborada e pensada exige o amadurecimento que provém do raciocínio.
Percebo as pessoas, as situações e as coisas com a aproximação. "Perceber ligações, interações e implicações mútuas", conforme ensina o eminente pensador Edgar Morin, realmente confere autonomia e sentido à breve existência humana.
Não me aproximo para descobrir utilidade ou benefício, pois responsabilidade acompanha a aproximação com respeito.
Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Multifoco, 2019)