ARTIGOS

O lacerdismo

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Por MAURO MAGALHÃES

Publicado em 15/05/2021 às 13:59

Carlos Lacerda teria feito 107 anos, no dia 30 de abril. E, no dia 21 de maio, os lacerdistas vão lembrar em homenagens póstumas (de forma virtual, devido à pandemia), os 44 anos da morte do jornalista, político e editor.

Por causa do ex-governador do antigo Estado da Guanabara, o termo "lacerdismo" foi incorporado aos dicionários da língua portuguesa. O lacerdismo significa tipo de pensamento ou ação política associados a Carlos Lacerda (1914-1977). Corrente política que se baseia nesse tipo de pensamento ou ação política.
Com uma administração bem avaliada, até por seus inimigos, Lacerda deixou como alguns legados, nos subúrbios, Zona Norte, Centro da Cidade e Zona Sul do Rio de Janeiro.

Os túneis Rebouças, o Aterro do Flamengo, o Túnel Santa Bárbara (inaugurado em 1963 por Lacerda). A Universidade do Estado da Guanabara (UEG, posteriormente, UERJ), e a estação de tratamento de água e esgotos do Guandu foram algumas das inaugurações e ações positivas do governo lacerdista .

Sobre os túneis Antonio e André Rebouças, as obras foram iniciadas no governo de Carlos Lacerda, mas só foram entregues à população no governo de Negrão de Lima, em 1967.

A obra do túnel Santa Bárbara começou em 1947, mas só foi concluída em 1963, no governo de Carlos Lacerda.

Na Zona Norte e subúrbios, ele ligou os dois lados das vias férreas e uniu os bairros através da construção de novas avenidas.

Foi projetado o Trevo das Forças Armadas, por quatro viadutos num ponto de ligação do Centro à Zona Norte. Isso atendeu à Grande Tijuca, Vila Isabel e aos subúrbios da Central do Brasil. O viaduto dos Marinheiros ligou a Presidente Vargas à Praça da Bandeira, com reflexos até o Méier. O segundo viaduto, inaugurado em 1965, foi na direção contrária, entre a Praça da Bandeira e a Presidente Vargas. O terceiro e o quarto, planejados por Lacerda, foram construídos mais tarde.

Lacerda interligou a Avenida Brasil até Campo Grande e, logo depois, a Santa Cruz. Pela Avenida Suburbana, foi interligada aos subúrbios da Central e pela Avenida dos Democráticos aos da Leopoldina, com a construção de dois viadutos.

Construiu o viaduto João XXIII, na rua Lobo Junior, ligando a Penha à Avenida Brasil.

O elevado da Perimetral ligou a Presidente Vargas ao Aeroporto Santos Dumont e seguiu pelo Aterro do Flamengo, em ligação até os bairros da Zona Sul .

Os adeptos do lacerdismo sempre citam essas obras para explicar as várias faces do ex-governador do antigo Estado da Guanabara.

Embora tenha se arrependido depois (quando formou a Frente Ampla contra a ditadura militar), Carlos Lacerda foi um dos articuladores civis da derrubada de João Goulart. Jornalista influente, na época, chegou a dar uma série de entrevistas a veículos de imprensa dos EUA, em defesa das Forças Armadas e contra o comunismo.

Um dos principais críticos da construção de Brasília, por JK, Lacerda e os lacerdistas se aproximaram de Juscelino Kubitschek durante a Frente Ampla, a partir de 1966, e sentiram muito a morte do ex-presidente e criador da capital federal, em desastre na Via Dutra, em agosto de 1976.

Depois que eu conheci Juscelino, fiquei fascinado por ele e confesso que fui um dos lacerdistas que chorou pela morte do grande político e democrata.

Uma das características do lacerdismo foi o moralismo e o combate à corrupção.

Orador brilhante, opositor ferrenho ao governo de Getúlio Vargas, Lacerda fundou a "Tribuna da Imprensa".

A família do ex-governador era ligada à politica. Seu pai, Maurício de Lacerda, foi prefeito de Vassouras e dirigente do Partido Comunista Brasileiro.

Carlos Lacerda também chegou a filiar-se ao PCB, no início, mas, depois, tornou-se anticomunista ferrenho.

O avô paterno de Carlos, Sebastião Lacerda, foi ministro do Supremo Tribunal Federal e ministro dos Transportes no governo de Prudente de Moraes.

Quando cursou Direito na UFRJ, Carlos defendia ideias comunistas, envolveu-se em política nos centros acadêmicos, e não concluiu o curso.

Um dos fundadores da Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização que congregava militantes do PCB e pessoas insatisfeitas com a Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas, Lacerda chegou a ler o manifesto que lançou a organização.

Quando decidiu abandonar os ideais comunistas, Carlos Lacerda passou a atacar Getúlio Vargas, o Estado Novo e os trabalhistas, com sua oratória ferina.

Depois que Vargas renunciou, em 1945, Lacerda elegeu-se vereador e, posteriormente, deputado estadual pela União Democrática Nacional.

Com a vitória de Getúlio nas eleições presidenciais de 1950, os ataques lacerdistas continuaram. E, no dia 5 de agosto, de 1954, ele sofreu um atentado na Rua Tonelero, em Copacabana, que culminou com a morte do major Rubem Vaz (do grupo de seguranças lacerdistas, que acompanhava Carlos Lacerda).

Lacerdistas insatisfeitos com o governo Vargas aproveitaram esse fato para pressionar as Forças Armadas contra Getúlio.

A Aeronáutica (repleta de udenistas que faziam oposição a Vargas) decidiu fazer sua própria investigação para apurar o atentado contra o jornalista e político (a "República do Galeão").

Lacerda exigiu a renúncia de Vargas. Acusou Gregório Fortunato (chefe da guarda pessoal de Getúlio) de ter sido o responsável pelo atentado.

Com o ultimato das Forças Armadas, Getúlio evitou a deposição com o suicídio.

A morte do presidente Getúlio causou grande comoção. A "Tribuna da Imprensa" foi atacada por populares.

Lacerda ficou um tempo fora do país e só voltou para a posse de JK.

Alguns integrantes do lacerdismo tentaram impedir, também, a posse de JK.

Mas, depois que Juscelino Kubitschek morreu, lacerdistas sentiram muito a ausência do político que concordou com a ideia de dialogar com Lacerda, no histórico movimento A Frente Ampla.

*Ex-deputado e empresário.

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