ARTIGOS

Um comportamento de poder

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Por TARCISIO PADILHA JUNIOR, [email protected]
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Publicado em 12/05/2021 às 13:30

Alterado em 13/05/2021 às 16:32

Uma sociedade consciente de si não desfruta de tranquila segurança conforme uma gestão pacífica de seus conflitos. É atravessada por uma imaginário social que pode trazer devaneios, exaltações, medos irracionais. Nenhuma sociedade tem de tal forma seguros seus princípios, que não tenha, constantemente, de reformulá-los, ou, simplesmente, de dar-lhes novo alento. Será ainda necessário que os princípios não degenerem de fato.

Concepção que objetivamente põe no centro a responsabilidade de homens e mulheres. O que ocorre efetivamente não depende de um destino cego nem do capricho dos deuses, mas do que o ser humano faz, ou não. Os princípios da organização social ou o sentido da vida coletiva não podem existir como heranças ou títulos de propriedade - uma espécie de realidades que, uma vez aparecidas na história, teriam então um estatuto garantido.

Nosso olhar condiciona nosso empenhamento, mais do que espontaneamente pensamos. Daí ser hoje imprescindível pôr em evidência várias preocupamos que nos habitam, quando olhamos para nossa sociedade. Contra as violências sociais, a institucionalização dos conflitos por parte da democracia em nome de uma espécie de não violência implícita busca encontrar soluções judiciosas na existência do debate tão largamente possível.

Nos dias que correm, está ampla e profundamente disseminada ideologia que reduz tudo o que existe a um comportamento de poder. Como se o poder fosse a única categoria para explicar o mundo e a comunidade. O mundo não é o lugar de realização última de nossos desejos e nossas expectativas, põe as condições de ação transformadora da realidade: mantida e sempre posta novamente, podem surgir pequenas ou grandes inventividades.

Não estamos no mundo sem vínculo com outros, nem a sorte deles nos é indiferente. Sentimos dor pela sua dor, sentimos sua comunidade de origem e dor mesmo sem conhecê-la, para não romper o encadeamento de nossas lembranças, o sentido de comunidade de nossa consciência. Será que, nesta sociedade em rede, o problema é conseguir o máximo de conquistas com mínimo de gastos, o máximo de prazer com mínimo de dores?

Para muitos a vida parece corrida individual em busca de bem estar e sucesso. Como o tempo constitui elemento fundamental de interação entre indivíduos, estabelece relação de poder: quem tem o poder controla o tempo.

A racionalização crescente do mundo não significa um crescente conhecimento geral das condições comuns de nossa existência. Temos de reconhecer as exigências que nos podem ser dirigidas numa dada situação. De fato o conhecimento procede de olhar atento e sistemático na direção adequada. Reconhecer os atributos de uma situação é sempre uma resposta complexa de toda a personalidade. Como fazê-lo quem vive a toda pressa?

Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)