MEIO AMBIENTE

Amazônia tem o segundo pior índice de desmatamento desde 2008, aponta pesquisa

Levantamento da Imazon abrange o primeiro trimestre; nesta quarta, os EUA anunciaram plano para ampliar verba do Fundo

Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 20/04/2023 às 14:31

Alterado em 20/04/2023 às 20:32

Apreensão de madeira nativa da história do Brasil, feita pela Polícia Federal na divisa do Pará com o Amazonas Foto: Exército Brasileiro

O desmatamento na Amazônia triplicou no mês de março e fez o primeiro trimestre de 2023 fechar com a segunda maior área de floresta derrubada em pelo menos 16 anos. O pior índice foi registrado nos três meses iniciais de 2021.

O monitoramento por imagens de satélite do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), implantado em 2008, mostra a desflorestação de 867 km² entre janeiro e março deste ano, uma área equivalente a quase mil campos de futebol - por dia - de mata nativa. Essa destruição só não foi maior do que a registrada em 2021, quando foram postos abaixo 1.185 km² de floresta no mesmo período. No último ano do segundo mandato de Lula (PT), em 2010, esse índice era de 227 km².

O mês passado registrou mais um índice negativo: oito dos nove estados que compõem a Amazônia Legal apresentaram aumento no desmatamento - a exceção foi o Amapá. Somente a unidade de conservação APA Triunfo do Xingu, no Pará, perdeu uma área de floresta equivalente a 500 campos de futebol. Com isso, já foram registrados 42% do desmatamento previsto pela plataforma PrevisIA para o período de agosto de 2022 a junho de 2023, de 11.805 km².

"Os governos federal e dos estados precisam agir em conjunto para evitar que a devastação siga avançando, principalmente em áreas protegidas e florestas públicas não destinadas. Será preciso também não deixar impune os casos de desmatamentos ilegais e apropriação de terras públicas”, alerta o pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon

Na última semana, o governo federal colocou em consulta pública a quinta fase do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), criado na primeira gestão Lula (PT). Elaborado pela pasta de Marina Silva com outros 11 ministérios, o novo texto poderá receber sugestões de pessoas ou organizações até o dia 26 de abril.

 

Amazonas lidera desmatamento

No Amazonas, a devastação aumentou 767%: de 12 km² em março de 2022 para 104 km² em março de 2023. O estado lidera as estatísticas, concentrando 30% de toda a devastação na região. A região sul do Amazonas, em municípios próximos à divisa com o Acre e com Rondônia, na localidade conhecida como Amacro, é a mais afetada pelos homens. Em março, porém, a região próxima às divisas com o Pará e o Mato-Grosso também foi desflorestada.

O Amazonas também tem o município que mais derrubou a Amazônia em março: Apuí, com 49 km². As outras duas cidades do estado que ficaram entre as 10 que mais desmataram foram Novo Aripuanã (14 km²) e Lábrea (11 km²). Ou seja: somados, esses três municípios tiveram 71% de toda a destruição registrada no estado em março.

 

EUA querem ampliar verba para Fundo

Nesta quinta-feira (20), mesmo dia em que a pesquisa da Imazon sobre o desmatamento foi divulgada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um plano para aumentar o verba de seu país ao Fundo Amazônia, programa de financiamento internacional do governo brasileiro que banca ações contra o desmatamento na Floresta Amazônica.

Segundo um documento da Casa Branca, Biden solicitará ainda nesta quinta ao Congresso norte-americano US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) para o fundo, a serem usados ao longo de cinco anos. O valor é dez vezes superior ao que foi planejado por Washington em fevereiro, quando os Estados Unidos anunciaram intenção de aderir ao Fundo.

 

O Fundo Amazônia

Criado há 15 anos para financiar ações contra o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa na Floresta Amazônica, o Fundo Amazônia foi paralisado em 2019 pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Em novembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a reativação do fundo em um prazo de 60 dias.

Após a eleição de Lula, a Noruega e a Alemanha, os principais patrocinadores do fundo, anunciaram que retomarão o financiamento. Ambos os países haviam cancelado sua participação no programa também em 2019, após a vitória de Bolsonaro.