BRASIL

'Situação das vacinas no Brasil é fruto da inação do governo', diz ex-diretor da Anvisa

Com desgaste político provocado pelo atraso da vacinação no Brasil, o governo de Jair Bolsonaro iniciou uma operação internacional em busca de acordos de doação de vacinas por parte de países que tenham excedentes de imunizantes

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 06/05/2021 às 08:02

Alterado em 06/05/2021 às 08:02

Gonzalo Vecina Ministério da Saúde

O governo identificou que apenas EUA e Reino Unido devem contar com excedentes de vacinas hoje no mundo, tendo condições de enviar estoques ao exterior em um curto período de tempo.

O presidente dos EUA, Joe Biden, chegou a declarar anteriormente que o país enviará "até 4 de julho, cerca de 10% do que temos [de excedente] para outras nações".

Ao comentar as perspectivas da cooperação internacional do Brasil para a aquisição de vacinas, o médico sanitarista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Gonzalo Vecina Neto, afirmou que os países ricos "com certeza devem ter sobra de vacinas", e disse não acreditar que estes países guardem a sobra dos imunizantes.

"Mesmo que haja resistência à vacina com variantes novas [do novo coronavírus], terá que existir então uma vacina nova. Então o mais adequado é doar mesmo as vacinas excedentes", observou.
No entanto, Gonzalo Vecina Neto, que já também já atuou como diretor da Anvisa, afirmou que a expectativa é que os países ricos façam doação de vacinas a países pobres, que não têm acesso a imunizantes. De acordo com ele, o Brasil também não tem acesso a vacinas, mas neste caso é por "má gestão".

"A situação brasileira na área de vacinas é fruto da inação governamental na compra de vacinas no momento em que as compras deveriam ter sido realizadas em meados do ano passado. O governo brasileiro só se movimentou para comprar vacinas em março de 2021", observou.

O ex-diretor da Anvisa declarou que é evidente que o Brasil vive uma falta e uma escassez de vacinas, contando apenas com as vacinas do Butantan (CoronaVac), que vez uma compra de 100 milhões de doses e entrega parcelado mês a mês, em torno de 15 milhões de doses por mês, e 210 milhões de doses da Fiocruz (Oxford/AstraZeneca) que também estão divididas em lotes de 15 a 25 milhões de doses por mês até fevereiro do ano que vem.

Segundo o especialista, as doses do Butantan vão terminar por volta de agosto ou setembro, quando o "Butantan ficará sem entregar vacina até o início das atividades de sua fábrica que está em término de construção".

"Temos a possibilidade de receber as 40 milhões de doses da Covax Facility da OMS, mas será no segundo semestre, e as 100 milhões de doses compradas da Pfizer, que está entregando esse semestre um milhão de doses, mas o restante virá por volta do quarto trimestre", acrescentou.

"Vamos ver como vai ser o futuro e torcer para que não apareçam variantes que sejam resistentes a essa coleção de vacinas e que o governo pare de fazer incompetência, de tal forma que não piore a situação. Tem jeito de piorar e esse governo tem a sabedoria de encontrar esse jeito de piorar. Espero que na saúde isso não aconteça", completou Gonzalo Vecina.(com agência Sputnik Brasil)