NAS QUADRAS

Conquistas da maturidade

Por PEDRO RODRIGUES
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Publicado em 01/09/2025 às 10:41

Alterado em 01/09/2025 às 10:41

O Brasil conquistou o pentacampeonato da Americup Foto: FIBA Americas

A conquista de uma montanha não é linear. O alpinista precisa subir aos poucos, sempre tendo em mente que existem pontos importantes para chegar ao cume. Não é uma linha reta de “A a B”. O basquete brasileiro chegou, nesse domingo (31), a um ponto importantíssimo. Jogando em Manágua, capital da Nicarágua, em uma partida nervosa e tecnicamente complicada, a seleção brasileira venceu a final da FIBA AmeriCup 2025 por 55 a 47 sobre a Argentina — uma revanche da decisão da AmeriCup 2022, disputada no Recife.

O primeiro período foi elétrico. Os dois times estavam afiados, e a pontuação foi alta para os padrões FIBA. Os argentinos prepararam a defesa para que Gui Deodato fosse o foco do ataque do Brasil. O jogador do Flamengo agradeceu e colocou 9 pontos na conta. O segundo período começou de forma estranha para o time brasileiro. Em um movimento que não lhe é característico, o técnico Aleksandar Petrovic rodou muito o elenco e demorou a achar o quinteto ideal. Ainda bem que a Argentina também não estava bem. Foram 5 minutos em que o placar do segundo quarto ficou apenas 1 a 0 para o Brasil. Só que, então, as bolas de três começaram a cair: Caboclo, Benite e Yago marcaram, e o Brasil começou a desgarrar.

Desta vez, Petrovic conseguiu dar um descanso para o armador Yago Matheus (MVP da competição), graças à boa atuação do rubro-negro Alexey Borges, que teve minutos produtivos (terminou com 4 pontos e uma assistência em 12 minutos em quadra). Falando em minutos, o astro do Sesi-Franca, Lucas Dias, descansou “apenas” 3 dos 40 disputados na final. O mais impressionante foi a entrega defensiva que proporcionou ao Brasil. Lucas Dias é hoje o melhor jogador em atividade no NBB e sabe os caminhos da vitória. Seus números atípicos mostram isso: apenas 2 pontos, mais 8 rebotes (7 defensivos). Sua entrega e consciência do que o time precisava para vencer foram emocionantes. Sem sombra de dúvidas, foi a melhor participação do jogador pela seleção.

Melhores momentos 

A defesa foi a tônica do jogo. O time brasileiro conteve o craque argentino José Vildoza (ex-Flamengo), que marcou apenas 8 pontos, e o perigoso pivô Fernández, limitado a 2 pontos e carregado de faltas durante toda a partida. Muito se falou que a vitória nesta AmeriCup foi “a cara do Brasil”: um time raçudo, o famoso “contra tudo e contra todos”. Discordo dos nobres colegas que acompanham o basquete. A vitória brasileira na AmeriCup foi uma vitória da maturidade, da organização e do planejamento.

Maturidade mostrada contra adversários complicados como a República Dominicana (vitória nas quartas por 94 a 82), quando o Brasil não revidou a violência dos rivais. Maturidade de um time que perdia por 22 pontos para os EUA na semifinal e virou o jogo, entregando sua melhor atuação no último quarto (92 a 77). E maturidade de se sacrificar pela vitória após perder o pivô Ruan Miranda, lesionado no joelho contra os próprios EUA.

A organização e o planejamento passam muito pelo trabalho iniciado pela CBB em 2017. Após a Olimpíada do Rio, o basquete brasileiro estava no fundo do poço. O projeto foi sério e, apesar de algumas frustrações (como a AmeriCup de 2022), a confederação conseguiu levar o Brasil à Olimpíada de Paris no ano passado e, ontem, exorcizou a Argentina.

Dizem os céticos que argentinos e americanos não estavam com seus times principais. Não importa. O que importa foi vencer e marcar posição: quando está organizado e unido, o basquete brasileiro é uma força.

Por fim, é preciso destacar os dois jogadores que representam a fundação, o presente e o futuro da seleção: Bruno Caboclo e Yago Matheus. Caboclo é um jogador moderno, um pivô/ala que defende bem o garrafão e tem bom aproveitamento no perímetro. Um privilégio o Brasil contar com um atleta assim em quadra. Seu complemento é Yago. O armador de apenas 1,78m pode ser baixo para os padrões do basquete, mas seu jogo é gigante. Campeão do NBB por Paulistano e Flamengo, ídolo na Alemanha e comandante da seleção brasileira, Yago mostrou que tem o tamanho dos grandes.
Com os dois, o Brasil está em boas mãos.
Parabéns à seleção brasileira de basquete!

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