NAS QUADRAS

Tem, mas acabou

Por PEDRO RODRIGUES
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Publicado em 05/07/2025 às 14:21

Alterado em 05/07/2025 às 14:21

A saúde financeira dos times da NBA virou motivo de preocupação para jogadores e agentes da Liga Foto: Pedro Rodrigues/feito com IA

Vencer custa caro na NBA. Vencer mais de uma vez, então, é hoje uma empreitada financeira muito mais complicada que a empreitada esportiva. Isso porque cada dólar hoje é olhado com lupa na maior liga de basquete do mundo. Acabou a era de excessos. Bem-vindos à era contábil nas quadras de basquete e nos escritórios dos times. Por que essa mudança? Tivemos uma rápida troca no perfil de quem gere esses times.

Se nos anos 70, 80, os donos eram, na maior parte, do chamado “dinheiro velho” (imóveis e petróleo), a partir do boom da internet, no final dos 90 e 2000, vemos uma transição para o dinheiro “novo” (internet, empresas digitais e mídia), com a compra do Dallas Mavericks por Mark Cuban, um pioneiro neste caso.

Hoje, o perfil é do “novíssimo” dinheiro. São grupos de investimentos gigantes e empresas de apostas (cassinos on-line ou físicos) que compraram times como o Boston Celtics, Los Angeles Lakers e o próprio Mavericks. Ao juntar esse novo perfil com a complicadíssima folha salarial da NBA, chegamos na situação de hoje: dinheiro os times têm, mas não querem gastar. Mesmo que seja para vencer e continuar vencendo.

Sei que é chato, mas precisamos entender um pouco essa história de teto salarial. A NBA anunciou que o teto salarial para a temporada 2025-26 será de US$ 154,647 milhões, enquanto o limite para pagamento de taxas (tax level) foi fixado em US$ 187,895 milhões. A menor folha salarial por equipe será de US$ 139,182 milhões. A liga também estabelece dois limites adicionais — o First Apron, de US$ 195,945 milhões, e o Second Apron, de US$ 207,824 milhões — que funcionam como barreiras para conter os gastos das franquias. O First Apron impõe restrições moderadas, como a proibição do uso da Mid-Level Exception completa e limitações em trocas que aumentem a folha salarial. Já o Second Apron traz penalidades mais severas: impede o uso de qualquer Mid-Level Exception, restringe trocas a valores equivalentes (dólar por dólar) e pode até afetar escolhas de Draft se o time permanecer acima desse limite por temporadas consecutivas. Essas regras visam promover maior equilíbrio financeiro e impedir que franquias mais ricas tenham vantagens excessivas no mercado. Está dando certo. Vamos ver os efeitos no espetáculo em 2025/2026.

Além disso, o Acordo Coletivo de Trabalho (CBA) define três tipos de Mid-Level Exceptions, que são exceções ao teto salarial usadas para contratar jogadores sem a necessidade de abrir espaço no cap. Elas variam conforme a situação financeira da equipe: a Non-Taxpayer Mid-Level Exception, de US$ 14,104 milhões, é destinada a times que estão abaixo do tax level; a Taxpayer Mid-Level Exception, de US$ 5,685 milhões, é para equipes acima do tax level, mas ainda dentro do Second Apron; e a Room Mid-Level Exception, de US$ 8,781 milhões, pode ser usada por franquias que abriram espaço significativo no teto antes de recorrer às exceções. Essas ferramentas são fundamentais para a montagem dos elencos, mas ficam restritas ou até proibidas conforme os gastos do time ultrapassem os limites definidos pelos aprons.

É confuso? Demais. E foi essa confusão que fez com que o time campeão de 2024, o Boston Celtics, fosse pulverizado com as saídas de Jrue Holiday, Kristaps Porziis e Luke Kornet (por enquanto) e situações como a do pivô Miles Turner, que assinou com o Milwaukee Bucks depois de 10 anos no Pacers, simplesmente porque o time de Indiana não queria entrar no perigoso território das exceções. Esse movimento levou à traumática dispensa do armador Damian Lillard através de um conceito chamado “waive and strech” (dispensar e estender) onde o time dispensou o jogador e estendeu o restante de seu contrato de 113 milhões de dólares de 2 para 5 anos.

A era da imprevisibilidade tem um preço. E as diretorias estão procurando pagar somente o necessário para isso.

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Erramos! Publicamos na edição passada, sábado 28 de junho, que o ala Shaq Johnson Sr. tinha fechado com o Sesi-Franca. O jogador não fechou e o destino dele continua em aberto até o fechamento desta edição.

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