NAS QUADRAS
Futuro do presente
Por PEDRO RODRIGUES - [email protected]
Publicado em 07/08/2024 às 14:25
Alterado em 07/08/2024 às 14:35
Como avaliar a participação da seleção brasileira de basquete nas Olimpíadas de Paris 2024? Como relevar os erros cometidos neste ciclo Olímpico em face da boa campanha brasileira? E para onde vamos depois de Paris? Perguntas como estas surgiram após a derrota do Brasil frente aos Estados Unidos, 122 a 87, pelas quartas de final do torneio olímpico de basquete masculino.
Primeiramente, temos que reconhecer que o cenário de 2024 é bem melhor que o de 2016. Pelo menos dentro de quadra. Isso porque hoje formamos um “esqueleto” de time com jogadores com idade para encarar os desafios que podem nos levar para Los Angeles 2028. Temos que lembrar que a equipe que jogou no Rio em 2016 era, sem dúvida, mais talentosa, já que possuía nomes como Leandrinho, Nenê, Splitter e Alex, mas eram veteranos em sua última participação. No final daquela eliminação, o Brasil simplesmente teve que recomeçar do zero absoluto. Já hoje, temos Bruno Caboclo, Yago, Mãozinha, Gui Santos e Didi ainda em idade para estarem bem em quadra pelos próximos anos. Caboclo, por exemplo, terá apenas 32 anos em 2028. Estas são as faces da nossa seleção pelos próximos anos.
Para comandar esse grupo, independente do técnico principal (o nome mais comentado é de Thiago Splitter), a comissão técnica deve ter pelo menos um auxiliar que seja técnico de um time do NBB. De preferência um time de ponta, como, por exemplo, o Sesi- Franca. Fora de quadra, é notório para quem acompanha o basquete nacional que a Confederação Brasileira de Basquete, CBB, e a Liga Nacional de Basquete, que faz o NBB, vivem às turras. Dentro de quadra, o papo é outro. Um lado pode não admitir que a seleção brasileira está ligada umbilicalmente com o NBB e a LNB, a Liga de desenvolvimento. Lucas Dias, Yago, Caboclo, Georginho, Gui Santos, Didi… Enfim, todos esses nomes vieram de trabalhos da Liga Nacional que “transbordaram” na seleção. Ter um técnico que vive, sofre, ganha e perde no NBB só pode fazer bem à seleção.
Já a participação do time chega ser um sopro de alívio que, em um país conhecido pelo improviso - o famoso “jeitinho”, conseguimos planejar, executar e entregar um plano de trabalho completo. Não dá para esquecer que apesar desse trabalho ter dado frutos a partir do pré-olímpico, demitir o técnico Gustavo de Conti a 100 dias dos Jogos Olímpicos com um Pré-olímpico pelo caminho foi, no mínimo, bizarro. A chegada de Aleksandar Petrovic causou estranheza, mas o técnico Croata teve uma participação decisiva neste bom momento do time. Isso passou pela boa preparação em Split, na Croácia, com bons amistosos, e uma participação no Pré-olimipico de Riga que entregou a melhor atuação em décadas da seleção, contra o time da casa, a Letônia, no jogo decisivo (lembre aqui). O plano para a Olimpíada foi seguido à risca: perder de pouco para França e Alemanha e decidir a vida contra o Japão. No final, a campanha de duas derrotas (78 a 66 para a França e 86 a 73 para Alemanha) e a vitória sobre o Japão (102 a 84) carimbou a passagem do Brasil como um dos melhores terceiros colocados, e nos colocou em rota de colisão com a seleção americana (falaremos mais sobre o “sleep Team” nesta semana). Era o objetivo para manter o basquete relevante e, principalmente, em evidência. Só fica a sensação de que dava para vencer os franceses na estreia. Uma pena porque a história poderia ser outra.
Marcelinho Huertas se despediu da seleção no jogo contra os EUA Foto: Fiba Basketball
Paris 2024 pode ficar marcada como a retomada da seleção brasileira de basquete. Enquanto nos despedimos do craque Marcelinho Huertas, o Brasil mostrou para o público jogadores brasileiros como Bruno Caboclo e Yago. O trabalho em quadra está sendo feito, fora dele ainda falta muito. Cabe saber se o Brasil terá um “futuro do presente” a partir dessa olimpíada, ou o já conhecido “futuro do pretérito” no basquete nacional.