ECONOMIA

Negócios de youtubers: 'Burlões modernos' investigados pela Polícia Portuguesa

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Por JOSÉ DAVEIRO TOSTES

Publicado em 13/04/2021 às 13:02

Alterado em 13/04/2021 às 13:07

Bitcoin Reprodução

No mês de março foi lançado, em Portugal, uma petição online pedindo uma investigação por parte das autoridades a youtubers portugueses que estariam vendendo cursos de criptomoedas aos seus seguidores junto com promessas de dinheiro fácil.

Essa petição - que já tem mais de 15 mil assinaturas - acusa os Youtubers Windoh, DavidGYT, Numeiro, Fx_Papi, Claudio André, Consultor.academy, Joaofox92 e Jamestradingjar de usar sua influência sobre seus seguidores e de exibir um estilo de vida de luxo para vender cursos falsos e lucrar através de sistemas de afiliação a corretoras e casas de apostas.

“Estes burlões usam os mercados financeiros como ilusão para o enriquecimento rápido, para enganar as pessoas burladas como, por exemplo, Forex, ações e criptomoedas, além de promoverem grupos especiais com pagamentos mensais para terem acesso a sinais”, acusam os autores da petição.

Algumas vítimas destes esquemas fraudulentos já se pronunciaram e dizem que como o número de pessoas que investem está aumentando tudo parecia certo, mas o desespero da sua situação financeira, combinado com as promessas de enriquecimento rápido por parte de alguém que idolatram como o principal “culpado” por ter caído em esses esquemas.

Pensa-se que muitas das vítimas sejam menores - pois a grande maioria dos seguidores desses youtubers são dessa faixa. Isso levantou a questão acerca da avaliação e validação das corretoras, assim como os perigos e riscos associados ao uso da internet por parte dos jovens.

Esses assuntos, porém, não são novidade. Em 2019, houve notícias que alguns dos mais influentes youtubers portugueses - que têm uma audiência constituída em grande parte por crianças - estariam a publicar sites de jogos e apostas online que são ilegais no país e que não exigiam a verificação da idade do usuário.

Até agora, o youtuber Windoh tem sido o centro das atenções pois recebeu uma visita das autoridades portuguesas por ter criado a Blvck Network, uma suposta escola de Forex que vendia cursos de criptomoedas por 400€ - cerca de 2700 R$ - mas que não passava de cópia de conteúdo da Wikipedia e de acesso grátis na internet.

O Ministério Público Português e também a CMVM de Portugal confirmaram que a Blvck Network não estaria registrada como uma empresa que pudesse prestar serviços de aconselhamento financeiro nem da venda de cursos relacionados com a área financeira.

O Windoh negou todas as acusações e rejeita a ideia de haver qualquer tipo de burla e assegura que seu curso foi vendido através de uma empresa que criou porque ele não tinha "legitimidade nenhuma para vender uma coisa dessas” em seu nome.

A verdade é que foi checado o site da Blvck Network e viu-se que ele não existe mais. Houve também um video publicado (mas também já foi apagado) pelo Windoh onde prometia devolver o dinheiro a todas as pessoas que compraram os cursos mas rejeitando sempre as responsabilidades e acusações de ser um burlão.

Este escândalo chocou muita gente até porque o Windoh foi considerado, pela Forbes Magazine, como o segundo youtuber mais influente de Portugal em 2020 - tendo chegado a trabalhar com a MEO (Altice/Telecom de Portugal) em anúncios publicitários - e nada fazia esperar um comportamento deste gênero.

Para maior choque do povo, no início de abril o denunciante - um youtuber pelo nome de RedLive13 - também foi identificado e está sendo investigado pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária de Portugal por crimes informáticos e acesso indevido a informações dos yotubers.

Questionado pela Lusa, as autoridades portuguesas - a Polícia Judiciária e a Procuradoria-Geral da República - dizem não haver evolução no caso e que eventuais esquemas envolvendo youtubers portugueses estão sendo investigados, mas relembrou que negócio de afiliação é legal, o que dificulta o trabalho da acusação.