ECONOMIA
Tarifaço e especulação com dólar: Moraes manda averiguar o que pode ser uma das maiores 'insiders informations' do Brasil
Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 22/07/2025 às 08:08
Alterado em 22/07/2025 às 08:08

Atendendo à representação do Advogado Geral da União, Jorge Messias, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que já determinou à Polícia Federal, através do inquérito 4.995/DF, de 18 de julho, investigar a conduta do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, enviou ofício à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ordenando investigação de possível manipulação do real no mercado de Nova York em 9 de julho, quando o presidente Donald Trump divulgou em sua rede social a ameaça de tarifaço de 50% contra as exportações brasileiras aos EUA, a partir de 1º de agosto.
O pedido da AGU cita comunicado feito pelo investidor Spencer Hakimian, fundador da Tolou Capital Management, um fundo de hedge sediado em Nova York, que alertou sobre possíveis ganhos de 25% a 50% em operações de “insiders tradings” que teriam sido feitas com base em informações privilegiadas sobre as sanções dos EUA, três horas antes de as ameaças se tornarem públicas. Numa típica manobra de especular bem-informado; alguém comprou no boato e realizou lucros no fato consumado.
Cronologia da especulação
O salto na cotação do dólar logo após o anúncio era esperado, devido à instabilidade causada pela medida. Mas o que chamou a atenção foi a aposta bilionária feita horas antes, em valores muito acima da média e de forma concentrada.
Às 13h30, houve uma operação de compra entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões ao preço de R$ 5,46 por dólar, o que chamou a atenção dos operadores. A operação fugia ao padrão, sendo muito superior à média dos negócios diários. Só às 16h17 o presidente Trump publicou carta anunciando tarifaço de 50% contra o Brasil. Três minutos depois, exatamente às 16h20, a mesma posição em dólares foi vendida à cotação de R$ 5,60. O ganho na cotação foi de 2,561.
Mas, em se tratando de hedge, há efeito multiplicador. Numa compra normal de US$ 3 bilhões, o ganho seria de R$ 76,9 milhões. Numa movimentação de US 4 bilhões, o ganho poderia chegar a R$ 102,65 milhões.
A cobrança do Itamaraty
A maneira inusitada da ameaça de tarifaço de Trump chegou a ser objeto de pedido de confirmação pela Secretaria Geral do Itamaraty, que convocou o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, a confirmar se a mensagem era oficial. O que foi confirmado (os Estados Unidos estão sem embaixador no Brasil desde o começo do governo Trump, que completou seis meses em 20 de julho).
A divulgação de medidas de alto impacto pelas redes sociais do presidente americano permite manobras especulativas com uso de “inside informations”.
Mercado está sem xerife para investigar
Mas, por uma coincidência ainda não explicada, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, o “xerife” do mercado de capitais brasileiro, pediu demissão de seu cargo que teria a missão de investigar esse suposto escândalo, justamente na sexta-feira, 18 de julho.
Muito prestigiado pela área econômica do governo Bolsonaro, o especialista em direito societário saiu à francesa da função de investigar possíveis aliados políticos ou altos funcionários americanos que estariam envolvidos nas retaliações discutidas contra o Brasil. A Securities Exchange Comission (congênere americana da CVM) também deveria participar da investigação.
Empossado na presidência da CVM em 18 de julho de 2022, em cerimônia com a presença do alto escalão da área econômica do governo Bolsonaro, incluindo o então ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, João Pedro Nascimento, cujo mandato terminaria em 18 de julho de 2027, renunciou ao cargo, alegando “motivos pessoais”, ainda tendo dois anos de mandato a cumprir.
A maior 'Insider' nunca provada
A maior operação de “Insider information”, nunca provada no Brasil, teria sido a revelação pelo presidente eleito Fernando Collor de Mello, em fevereiro de 1990, de que iria fazer o confisco dos depósitos, incluindo as cadernetas de poupança, e as aplicações financeiras acima de R$ 50 mil cruzados novos. A revelação foi feita ao economista e banqueiro Daniel Dantas, que foi a Brasília acompanhado de seu mestre, o ex-ministro Mário Henrique Simonsen. Dantas teria sido convidado para ministro da Fazenda, e soube de todo o plano, mas declinou do convite.
Na ocasião, a editoria de Economia do velho JORNAL DO BRASIL – onde eu era então editorialista – investigou a fundo o assunto, mas não consegui confirmar. A versão que circulava no mercado financeiro do Rio de Janeiro, então o centro financeiro do país, foi de que ao sair da reunião, Daniel Dantas, que era conselheiro financeiro e gestor da fortuna da família de Antônio Carlos de Almeida Braga, dono da Atlântica-Boavista e sócio do Bradesco, ligou para o chefe (na época não havia celulares) e teriam combinado o resgate de todas as aplicações financeiras. Ambos tinham um trato: Dantas ganharia 50% do que ultrapassasse a remuneração da poupança.
Ainda segundo a suspeita da época, para escapar do confisco acima de R$ 50 mil e do IOF de 15% na conversão dos cruzados novos para cruzeiros (nova moeda adotada com perda de três zeros), os recursos teriam sido recolhidos à Brinks. Só nos ganhos do IOF, o lucro teria sido incrível. Menos de um ano depois, Dantas fundou o Banco Opportunity.