ECONOMIA

Novo choque inflacionário? Especialista explica riscos da onda de frio no Brasil

A onda de frio que se instalou no Brasil nesta semana ameaça gerar prejuízos à produção agrícola. E uma eventual redução da oferta de alimentos não passa despercebida pela inflação, sempre muito pressionada pelo setor

Por ECONOMIA JB
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Publicado em 19/05/2022 às 07:58

Alterado em 19/05/2022 às 08:04

Temperaturas negativas em zona rural de Santa Catarina Marleno Muniz Farias/Governo de SC

Lucas Baldez - Pandemia, ambiente político nacional conturbado e conflito na Ucrânia. Embora desconectados em suas causas, esses elementos combinados têm contribuído para a escalada da inflação brasileira, em meio à estagnação econômica do país nos últimos anos. Como se já não bastasse, um novo fator pode acelerar ainda mais o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2022.

A onda de frio que se instalou no Brasil nesta semana ameaça gerar prejuízos à produção agrícola. E uma eventual redução da oferta de alimentos não passa despercebida pela inflação, sempre muito pressionada pelo setor.

Conforme previram meteorologistas, alguns estados brasileiros registram geada e neve, com recordes de temperatura para o mês de maio. Desta vez, a frente fria veio acompanhada de um ciclone extratropical, nomeado pela Marinha como Yakecan (o som do céu, na língua tupi-guarani), além de uma intensa massa de ar polar.

De acordo com a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), citado pelo G1, o cenário levará boa parte da região Sul a registrar temperaturas negativas entre os dias 16 e 20 de maio.

Mas as condições climáticas terão de fato o poder de impactar ainda mais os preços dos alimentos no país? A produção agrícola pode ser danificada a ponto de gerar novos déficits no setor?

Cristiano Palavro, consultor técnico da Associação dos Produtores de Soja, Milho e outros Grãos Agrícolas do Estado de Goiás (Aprosoja-GO) e sócio-diretor da consultoria Pátria Agronegócios, afirma que as maiores preocupações se concentram na segunda safra das lavouras de milho do Paraná e do sul do Mato Grosso do Sul. Para Goiás, por exemplo, o especialista aponta como "muito baixa" a probabilidade de geada.

Contudo, em sua avaliação, mesmo com as baixas temperaturas registradas desde segunda-feira (16), até o momento não há relatos de geadas generalizadas nas principais regiões produtoras desses estados. Segundo ele, o que os produtores têm visto são "eventos de formação de gelo pontuais", mais concentrados no centro-sul do Paraná.

"O frio deve persistir até a próxima sexta-feira [20], mas o risco de geadas agressivas se mantém entre baixo e moderado, segundo os órgãos climáticos locais", disse Palavro em entrevista à Sputnik Brasil.

Ele explica que períodos de frio extremo, quando evoluem para um "quadro de geadas generalizadas", reduzem o potencial produtivo das lavouras devido ao encurtamento do ciclo de desenvolvimento das plantas.

"Em 2021, a situação foi observada em vários estados do centro-sul do país, o que agravou os problemas já iniciados pelas estiagens registradas no ano. Neste ano, o risco de perdas agressivas por frio se mostra menor até o momento", afirmou.

 

Qual é o risco de mais inflação?

Além de a situação nas lavouras estar aparentemente sob controle apesar do frio, o especialista ressalta que os efeitos sobre a inflação costumam ser diluídos por diversos fatores.

Além das adversidades climáticas, que atingem a oferta, ele cita a própria demanda, o câmbio e a logística como elementos que, se por um lado contribuem para gerar inflação, por outro atenuam agentes isolados.

"Qualquer fator que cause perdas produtivas, como o frio intenso ou a falta de chuvas, por exemplo, que provocou grandes perdas na soja do sul do Brasil neste ano, gera impactos sobre os preços dos grãos e, consequentemente, pode pressionar os índices inflacionários", afirmou. (com agência Sputnik Brasil)

 

 

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