
SAÚDE E ALIMENTAÇÃO
A silenciosa e mortal causa dos seus problemas com a memória (Dica: não é Alzheimer)
Publicado em 09/06/2025 às 06:09
Alterado em 12/06/2025 às 15:02
Você já conhece os sinais indicativos de um AVC… a fala arrastada, dormência de um lado do corpo, a repentina confusão mental. Se você não estiver familiarizado com esses sinais, você deveria se familiarizar. Porque, se você tiver um AVC, sua melhor chance de ter uma evolução boa é obter tratamento imediatamente.
Mas aqui está um pensamento assustador. E se você tiver um AVC — e não há nenhum sinal? Para 30 por cento das pessoas acima de 65 anos de idade, esse não é apenas um pensamento assustador. É uma realidade. E o pior de tudo é que você pode estar nessa categoria sem saber.
Como é possível isso? É porque esses AVCs silenciosos não afetam as áreas do cérebro envolvidas com as funções motoras — eles afetam a área envolvida com o pensamento. Se a sua memória tem dado algumas escorregadas ultimamente, essa pode ser a razão.
Infelizmente, quando se trata de AVCs silenciosos, o problema em si jaz no nome — eles são silenciosos. Então, essa perda gradual de memória pode estar ocorrendo vez após outra, causando danos cumulativos, e você nunca saberia. Capacidade mental diminuída, perda da habilidade computacional e perda de memória acontecem tão gradualmente que você nunca suspeita da causa verdadeira.
O AVC silencioso é um tipo de AVC isquêmico que consiste de um coágulo sanguíneo em um vaso que fornece sangue para o cérebro. Ninguém sabia que esses AVCs silenciosos tinham uma participação tão importante na perda de memória, até um estudo recente ser publicado no jornal Neurology, elucidando esse assunto. E foi bem na hora…
Essa descoberta revolucionária pode mudar significantemente a maneira que tratamos e a prevenção contra o declínio cognitivo
Os pesquisadores estudaram 658 indivíduos com idade média de 79 anos que não tinham histórico nenhum de demência. Os participantes fizeram um teste que analisava sua memória, aptidões para línguas e habilidades cognitivas. Eles passaram por uma mensura do seu hipocampo (essa é a parte do seu cérebro que é crucial para a memória, aprendizado e emoção), e tiveram o seu cérebro registrado por ressonância magnética.
Os escaneamentos revelaram que 174 pessoas tinham sofrido derrames silenciosos. Essas pessoas não se saíram tão bem nos testes de memória, independentemente de ter o seu hipocampo diminuído em tamanho ou não.
Esse estudo é importante porque até então o tamanho do seu hipocampo era o principal determinante do declínio cognitivo. Afinal, o hipocampo é a parte do cérebro envolvido na memória a longo prazo de pessoas, lugares, eventos e coisas.
Também é a parte do cérebro mais provável a sofrer declínio na velhice, encolhendo até 2 por cento por ano. Quando o seu cérebro encolhe, as células encolhem e param de se comunicar entre si. O resultado final é perda de memória.
Mas agora sabemos que o encolhimento cerebral não é o único fator que contribui para a perda de memória — o sistema vascular tem um papel também. Mas há algo mais que esse estudo nos informa… Um AVC pode ser um fator potencial no desenvolvimento de Alzheimer’s.
“Nós mostramos que, além do tamanho (do hipocampo), o derrame também contribuía para a perda de memória e podia ser um indicador em potencial para o desenvolvimento de Alzheimer’s”, disse Adam Brickman, o coautor do estudo publicado em “Neurology”.
Mas, por mais assustador que isso seja, não é só escuridão e destruição. A boa notícia é que não só é possível proteger o seu cérebro contra AVCs, mas também pode ser possível:
Fazer recrescer seu cérebro em encolhimento - e melhorar sua memória ao mesmo tempo!
Se a ideia de recrescer seu cérebro lhe parece loucura, espere até você ouvir como fazê-lo. Pronto? Dê uma caminhada. Você ouviu corretamente!
Simplesmente se levantar e andar por aí pode ser todo o “exercício” que você vai precisar para incrementar a sua memória e proteger o seu cérebro.
Eu achei isso loucura também, até que li a pesquisa do jornal “Nature Communications”. Os pesquisadores da Universidade de Pittsburgh seguiram 120 pessoas de terceira idade que foram colocados em dois grupos. Um andava por 40 minutos, três vezes por semana. O outro (o grupo de controle) fez alongamento e exercícios de tonificação.
Os seus resultados não eram baseados em um mísero questionário. Ao invés disso, eles fizeram uma série de três escaneamentos cerebrais — antes, aos seis meses e um ano mais tarde — para determinar o tamanho do cérebro ao longo do tempo. Eles descobriram que enquanto o grupo que não andava experimentou o declínio típico no tamanho associado ao envelhecimento, o grupo que andava até experimentou um aumento no tamanho do cérebro ao longo desse período de um ano.
Esse crescimento aumentado traduzido em resultados de vida real: esses pacientes experimentaram melhorias na chamada “memória espacial”— que é a memória de espaços e orientações, incluindo a habilidade para navegação. Incrementar o tamanho do cérebro não melhorará todos os tipos de memória, já que há outros fatores de memória que não têm relação com o tamanho do seu cérebro, mas é um bom começo!
Aqui está o “x” da questão — os pesquisadores não sabem o que ocasionou a melhoria. Pode ter sido um aumento no número de células cerebrais, conexões mais fortes entre as células ou — e eu acho que há algo nesse último — um aumento em novas células sanguíneas, trazendo oxigênio e nutrientes para o cérebro.
Já que os AVCs silenciosos podem causar danos ao limitar o fluxo de oxigênio para o cérebro, andar não só pode manter o oxigênio fluindo para evitar esses derrames silenciosos; em primeiro lugar…
Essa atividade simples pode desfazer anos de danos cerebrais!
E como se essa notícia não fosse suficientemente boa, tenho outra. Um estudo recente confirmou o que eu venho falando para vocês há anos: uma dieta rica em alimentos gordurosos pode fazer maravilhas para a sua memória.
Nesse estudo, mais de 100 pessoas (muitos com 80 anos ou mais) fizeram exames de sangue junto com os testes para medir suas habilidades cognitivas. Muitos ainda tiveram ressonância magnética para estabelecer o tamanho e o volume do cérebro.
Dá para adivinhar? Depois de todos aqueles testes, os pesquisadores descobriram que as pessoas de terceira idade com os maiores cérebros e melhores habilidades cognitivas tinham os níveis mais altos das vitaminas C e E e dos ácidos graxos omega-3.
Os pesquisadores podem ter ficado chocados, mas eu não estou. Nós não estamos falando de ciência de foguete aqui. O seu cérebro é 60 por cento de gordura, e a gordura mais proeminente no seu cérebro é o ácido graxo omega-3 DHA. O DHA também é uma das poucas gorduras que têm o poder de atravessar a barreira sangue-cérebro, então, entra na ativa assim que você o comer.
As melhores fontes de ácidos graxos omega-3 também são alguns dos meus favoritos: carnes de animais criados em pasto e peixes gordurosos.
Quem sabia que prevenir contra derrames, preservar a sua memória e afastar o Alzheimer’s podia ser tão gostoso?
Referência bibliográfica:
- Acta Neurologica Scandinavica, 1998;98:187-192.
- American Journal of Epidemiology, 1994;149(7):608-620.
- JAMA, June 14, 2000;283(22):2961-2967
- Exercise From 25 on Guards Against Stroke", Laino, Charlene, Family Practice News, August 26, 1993;20
- Exercise and Risk of Stroke in Male Physicians," Lee I-M, et al, Stroke, January, 1999;30:1-6.
Dr. Wilson Rondó Jr.
CRM RJ 52-0110159-5
Cirurgião Vascular de formação e Nutrólogo
Registro nº 058357