O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

IPCA-15 já está no teto da meta: 4,50%

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Publicado em 26/11/2025 às 13:52

Alterado em 26/11/2025 às 13:53

A inflação de serviços avançou 0,66% Fernando Frazão/Agência Brasil

O IPCA-15 subiu 0,20% em novembro, segundo o IBGE, ficando acima da expectativa do mercado (0,18%). A surpresa altista concentrou-se em passagens aéreas e alimentação fora do domicílio, enquanto a inflação de alimentação no domicílio e de bens industriais teve números mais baixos. A inflação acumulada em 12 meses desacelerou de 4,68% para 4,50%, no teto da meta. Em 2024 a taxa foi de 0,39% em novembro e de 0,52% em dezembro. O mercado previu na Focus 0,20% em novembro e 0,47% em dezembro. O Bradesco aponta viés de baixa a sua projeção de 4,50% no IPCA do ano.

O preço dos alimentos consumidos no domicílio manteve-se em queda, com recuo nos cereais e nos produtos in natura. Em 12 meses, os alimentos subiram 3,6%, abaixo dos cerca de 8% registrados no início do ano. Os bens industriais tiveram deflação de 0,06%, em função da recente apreciação cambial, que resulta em queda de custos. Houve deflação nos bens duráveis e não duráveis, mais do que compensada pela alta nos semiduráveis. Em 12 meses, acumulam alta de 2,8%, mantendo a trajetória de moderação.

A inflação de serviços avançou 0,66%, com surpresa concentrada em passagens aéreas e alimentação fora do domicílio. Para o Bradesco, “eventos de grande porte, como a COP30 e concertos em grandes cidades, devem ter contribuído para aumentos em hospedagem e alimentação fora. Os serviços subjacentes cresceram 0,40%, e a variação trimestral anualizada recuou de 4,6% em outubro para 4,3%. Os serviços excluindo passagens aéreas estão rodando em torno de 6%.

A média dos núcleos ficou em 0,27% no mês, em patamar benigno. Na métrica anualizada de três meses, o núcleo que melhor prevê a inflação registrou alta de 3,9%, contra 4,0% no mês anterior, refletindo a combinação de menor pressão dos bens industriais e serviços contidos.

Quando cairá a Selic?
Para o Bradesco, imaginando quando a Selic poderia cair, já que o Fed deve baixar os juros em setembro a 3,75% (como prevê a 4Intelligence), possíveis preocupações com a pressão da alimentação fora do domicílio são amenizadas pela dinâmica favorável dos alimentos consumidos dentro do domicílio.

Mas a 4Intelligence, ao atualizar seu cenário, que prevê a queda dos juros nos Estados Unidos para 3,25% em dezembro de 2026, lembra que o Comitê de Política Monetária do Banco Central pode esperar até 18 de março para iniciar a baixa da Selic após avaliar os impactos na demanda. O principal desses fatores é a solidez do mercado de trabalho e a resiliência da atividade (e da inflação) em setores mais sensíveis à evolução da renda – como é o caso de boa parte do setor de serviços, que tem peso significativo na composição do PIB (67% a 68%).

Para a consultoria, o aumento real do salário-mínimo e o ativismo das políticas públicas, em especial a isenção do imposto de renda das pessoas com renda até R$ 5 mil, tendem a reforçar a renda das famílias no começo de 2026, o que poderá reforçar também a resiliência do consumo e, a inflação. Por isso, o mercado estará atento à divulgação, até sexta-feira, dos dados do mercado de trabalho, como a criação formal de empregos apurada pelo CAGED e os indicadores de emprego e desemprego da PNAD-Contínua do IBGE.

Famílias penam com os juros altos
Enquanto o Banco Central não baixa o piso dos juros, o Sistema Financeiro Nacional deita e rola, cobrando juros abusivos que endividam as famílias. Dados do Banco Central até outubro mostraram que as dívidas dos governos atingiram 68,7% do PIB, com aumento de 4,8 pontos no ano. Já as dívidas das empresas encolheram 0,2% (em parte pelo recuo do dólar) e ficaram em 54,3% do PIB. E as dívidas das pessoas físicas atingiram 37,1% do PIB (a maior taxa da série histórica, com aumento de 1,3 pontos do PIB em 12 meses.

Mas as taxas de juros pagas pelas pessoas físicas são as mais altas do mercado no crédito livre – atingiram 58,3% ao ano em outubro, repetindo o nível de setembro, com alta de 6,7 pontos no ano – e causaram forte aumento da inadimplência (atrasos acima de 90 dias) que ficou em 6,7% em outubro, um aumento de 1,3 pontos em 12 meses. Nos empréstimos totais, incluindo empresas, que pagavam juros de 25,2% ao ano no crédito livre, a inadimplência foi de 4,0% em outubro, com alta de 0,8 p.p. em 12 meses.

Os juros mais altos do mercado eram do rotativo do cartão de crédito, com taxa de 439,8%, com baixas de 3,9 p.p. no mês e de 0,9% em 12 meses. Mas vejam como o mercado se aproveita: bastou o governo dar mais garantias ao crédito consignado dos trabalhadores privados para as instituições financeiras elevarem as taxas: em outubro a taxa média destas operações estavam em 59,0% ao ano, um aumento de 0,9% no mês e de 20,3% em 12 meses. Tudo porque a taxa do crédito pessoal não consignado, estava em 101,4%, dando margem a especulação e aumento de margens.

É por isso que, em setembro, segundo o BC, o endividamento das famílias situou-se em 49,1%, com aumentos de 0,1 p.p. no mês e de 1,1 p.p. em 12 meses. O comprometimento de renda aumentou 0,2 p.p. no mês e 1.6 p.p. em 12 meses, alcançando a máxima histórica de 28,8%.

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