O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Juro alto atrai Investimento direto

Publicado em 25/11/2025 às 15:02

Alterado em 25/11/2025 às 15:02

Os dados das contas externas em outubro, divulgados hoje pelo Banco Central, comprovam que o aumento do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos (com a queda dos juros do Federal Reserve, que estavam em 5,00% em outubro de 2024, contra 10,75% da Selic, um diferencial de 5,75% e se elevaram a 11,75% em outubro deste ano, quando as taxas do Fed tinham caído a 4,25% e a Selic estava em 15%) produziu um ingresso especulativo de capitais no país que ajudou a baixar o dólar.

Nesta terça-feira, 25 de novembro, o dólar estava sendo cotado, às 12:35 (horário de Brasília) a %$ 5,3775, baixa de 0,18%. Nos últimos 12 meses o recuo na taxa do dólar perante o real (graças ao atrativo do maior diferencial dos juros) chegou a 7,23%. É interessante que as análises dos departamentos econômicos dos bancos consultorias não abordam essa questão.

O Banco Central, a propósito, também divulgou hoje o Censo dos Capitais Estrangeiros em 2024. O Total de Investimentos Estrangeiros Diretos no País (IDP), somava USE 1.141 bilhões, com uma redução de US$ 142 bilhões frente a 2023, mas os Investimentos Diretos de Brasileiros no Exterior (sobretudo em “off-shores” em paraísos fiscais) somavam US$ 504 bilhões.

O próprio BC chamou a atenção para o fato de que a posição especulativa de capitais brasileiros em paraísos fiscais, que se posicionam à espera das oscilações do diferencial dos juros e da taxa de câmbio, já supera o montante das reservas cambiais brasileiras (US$ 357 bilhões em outubro).

O aumento do diferencial de juros este ano, sobretudo a partir de junho, quando o Copom elevou a Selic de 14,75% para 15% e estancou a sangria, com o fluxo, que era declinante, passando a crescer com a baixa dos juros nos Estados Unidos, que pode se acentuara em dezembro, com os “fed funds” descendo dos atuais 4,00% para 3,75%, explica a cautela do BC na Selic.

Bradesco destaca aumento do IBP

Em outubro, segundo o Departamento de Estudos Macroeconômicos do Bradesco, o déficit em transações correntes (balança comercial + serviços e renda) totalizou US$ 5,1 bilhões, superando a mediana das expectativas de mercado (US$ 4,7 bilhões). No acumulado em 12 meses, o saldo negativo soma US$ 76,7 bilhões — equivalente a 3,5% do PIB — representando leve melhora frente aos 3,6% registrados em setembro. Para o Bradesco, “a dinâmica das contas externas ao longo de 2025 tem sido marcada por importações resilientes à atividade econômica e por uma balança de rendas mais deficitária que no ano anterior”.

“O Investimento Direto no País (IDP) surpreendeu pelo segundo mês consecutivo, com ingressos de US$ 10,9 bilhões. No acumulado em 12 meses, o saldo atingiu US$ 80,1 bilhões (3,6% do PIB), ultrapassando o déficit corrente. A última vez que o IDP foi tão elevado para um mês de outubro remonta ao período em que o Brasil detinha grau de investimento (2009-2010). A força observada nos últimos dois meses adiciona viés de alta à nossa projeção anual de US$ 75 bilhões”, sublinha o Bradesco.

A melhora da conta corrente em outubro foi impulsionada pela balança comercial, cujo saldo atingiu US$ 6,2 bilhões. As exportações registraram o maior valor da série histórica para o mês, enquanto as importações permaneceram robustas — próximas à média anual — apesar da desaceleração econômica no segundo semestre. O contraste é significativo frente ao saldo de US$ 2,3 bilhões em setembro, quando houve a importação de uma plataforma no valor de US$ 2,3 bilhões.

A balança de rendas manteve desempenho inferior ao observado em 2024. Em outubro, registrou déficit de US$ 7,4 bilhões contra -US$ 6,6 bilhões no mesmo mês do ano passado. As saídas de lucros e dividendos ficaram alinhadas às expectativas (US$ 5,4 bilhões), enquanto as saídas líquidas de juros surpreenderam negativamente ao somar - US$ 2,2 bilhões — menor valor para um mês de outubro desde 2019. Nossa projeção para a balança de rendas é de déficit anual de US$ 85,1 bilhões, reflexo do movimento intenso de saída iniciado na pandemia e que ainda não apresenta sinais claros de reversão.

O hiato entre IDP e conta corrente — que esperávamos persistir ao longo de todo o ano — se fechou nos últimos dois meses. Estimamos encerrar 2025 com déficit em conta corrente equivalente a 3,5% do PIB e IDP próximo a 3,3%, com viés altista. Esse movimento reduz preocupações sobre o financiamento externo no curto prazo; contudo, possíveis mudanças estruturais nas contas externas mantêm nosso alerta para riscos à frente.

Gastos em serviços vão além das viagens

Um dado que preocupa e é pouco abordado pelos jornais nas contas de serviços (deficitárias em US$ 44,712 bilhões em 10 meses) onde se foca nos gastos com viagens, é o crescimento das despesas com propriedade intelectual e tecnologia da informação, motivos de futuros embates nas discussões entre o Brasil e os Estados Unidos

De janeiro a outubro, os gastos líquidos com Viagens somaram US$ 11,484 bilhões e foram superados pelos gastos líquidos de Transportes (US$ 12,267 bilhões), basicamente de navios e aviões; Aluguel de equipamentos (sobretudo plataformas da Petrobras) geraram despesas líquidas de US$ 9,975 bilhões. Mas os gastos efetivos com Propriedade Industrial somaram US$ 9,175 bilhões e os gastos com Computação, Tecnologia e Informações ficaram em US$ 7,182 bilhões. Em um ano, os dois itens aumentaram US$ 3,069 bilhões.


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