O OUTRO LADO DA MOEDA
‘Commodities’ desabam com corte de tarifas
Publicado em 21/11/2025 às 13:46
Alterado em 21/11/2025 às 17:09
Mercado financeiro brasileiro, que não operou ontem, Dia da Consciência Negra, reabriu hoje com forte alta do dólar Foto: Getty Imagens
A resposta dos mercados futuros de “commodities” negociadas na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nimex) foi fulminante no primeiro dia após a retirada das tarifas extras de 40% que o governo Trump aplicara aos produtos agrícolas brasileiros, em 6 de agosto. Nos contratos futuros para entrega em dezembro despencaram os preços do café, do cacau, da carne (boi gordo e novilho), da madeira serrada e do cacau. O suco de laranja tem leve baixa.
Depois de ter atingido o recorde de US$ 437,95 em 23 de outubro, o encontro entre os presidentes Lula e Trump na Malásia, que abriu, oficialmente, as negociações entre Brasil e Estados Unidos para a retirada/redução das tarifas, provocou fortes oscilações para baixo no preço dos contratos. Hoje ao meio-dia (horário de Brasília) o café oscilava entre US$ 388,50 (-4,48%) e US$ 358 (-11,90).
Carne baixa na Nimex; JBS sobe na B3
Já a carne tinha baixa de 1,21% no contrato de Boi gordo e queda de até 3,52% nos contratos de novilhos (diante da perspectiva da volta da carne brasileira aos mercados). No mercado brasileiro de ações, os papéis dos frigoríficos que exportam para os EUA (Minerva, Marfrig e JBS), após forte alta inicial na B3, recuaram um pouco. JBS-Friboi liderava as altas às 12h30, com +2,66% a R$ 74; Marfrig tinha alta de 0,84% e Minerva subia 0,38%.
O contrato do cacau negociado na Nymex para entrega em março recuou 3,13%. Já o contrato de suco de laranja para entrega em janeiro declinou 0,55%- (a mercadoria estava fora das tarifas punitivas) para não pressionar os custos dos consumidores e dos processadores de sucos nos UEA que compram quantidades gigantescas do Brasil para processamento interno. Os contratos de madeira serrada para entrega em janeiro também tinham baixa de 0,30%.
Dólar sobe com emprego forte nos EUA
Com os dados que indicaram mais força do mercado de trabalho nos Estados Unidos em setembro (119 mil novos postos, mais do que o dobro dos 50 mil esperados pelo mercado) cresceu entre os operadores americanos a expectativa de que o Federal Reserve Bank fará uma pausa na baixa dos juros na reunião de dezembro. E o mercado de criptomoedas sofreu forte queda.
Com isso, o mercado financeiro brasileiro, que não operou ontem no Dia da Consciência Negra, reabriu hoje com forte alta do dólar, que subiu de R$ 5,3302 para R$ 5,4150, por volta das 13 hs, com alta de 1,55%. Se o Fed para a baixa dos juros nos EUA (os membros que decidem no Fed estão divididos), diminuiu no Brasil a expectativa de que os juros da Selic possam cair em janeiro.
Bradesco vê consumo segurando o PIB
O Bradesco projeta crescimento do PIB em 2026 de 1,5%, após expansão esperada de 2,0% em 2025. Apesar do consumo sustentar “a atividade, o ritmo mais lento reflete um ambiente em que a política monetária permanece restritiva, o investimento avança pouco e o impulso fiscal (...) não é suficiente para compensar esses freios. O consumo das famílias deve liderar o crescimento em 2026, com expansão projetada de 2,1%”, diz o banco.
Essa resiliência é explicada principalmente pela massa de renda que permanece sustentada pelos seguintes fatores: (i) o desemprego deve se manter em patamar baixo, passando de um nível médio de 6% em 2025 para 6,6% em 2026; (ii) salários devem continuar crescendo em média acima da inflação, em parte pelo aumento real do salário mínimo; e (iii) medidas recentes de política fiscal que devem aumentar a renda disponível das famílias, como a isenção de IR para indivíduos com renda mensal de até R$ 5 mil.
Esses fatores em conjunto devem levar a massa de renda ampliada das famílias a uma expansão real de 3,6% no ano que vem, assinala o Bradesco.