O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus: IPCA de 4,46% reduz Selic a 14,75% em janeiro
Publicado em 17/11/2025 às 15:01
Alterado em 17/11/2025 às 16:56
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O Banco Central divulgou duas novidades que conversam indiretamente com as taxas de juros: a pesquisa Focus, colhida até sexta-feira, 14 de novembro, junto ao mercado, apontou, pela primeira vez, o IPCA fechando o ano de 2025 abaixo do teto da meta de inflação: 3,00%+tolerância de 1,50%=4,50%. Pela mediana das respostas, a taxa cai de 4,55% para 4,46%, depois a surpresa da baixa inflação de 0,09% em outubro.
Em função disso, o mercado prevê a primeira baixa da Selic, em 15% desde junho, para 14,75%, na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) em 28 de janeiro. O mercado está prevendo que a Selic feche 2026 em 12,25%, mas a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis indicou 12,13%. O Santander, que reduziu de 4,7% para 4,4% a previsão do IPCA em 2025 e de 4,2% para 3,9% o de 2026, reduziu a previsão da Selic de 13,00% para 12,50%. O Bradesco espera 12,00% e o Itaú, prevê 12,75%.
A outra novidade foi o IBC-Br de setembro, que permite antecipar o PIB do Banco Central para o terceiro trimestre. Nos dados dessazonalizados do BC, o PIB se contraiu 0,2% em setembro e teve queda de 0,84% no terceiro trimestre. A agropecuária teve alta de 1,5% no mês, mas acumula queda de 4,5% no trimestre. A indústria recuou 0,7% no mês e 1,05 no trimestre. Já o setor de serviços (que pesa 68% no PIB, e o IBGE divulga dia 4 de dezembro) teve recuo de 0,1% no mês e -0,3% no 3º trimestre. Sem o impacto do agro (que tem contabilidade diversa no IBGE) o IBC-Br encolheu 0,4% e 0,5%.
Juros derrubaram inflação ou o PIB?
O principal efeito da alta dos juros (a taxa Selic escalou de 11,25% em novembro do ano passado para 14,75% em maio de 2025, saltando para 15,00% em junho) foi esfriar a escalada do dólar, iniciada em abril de 2024, quando o Federal Reserve Bank anunciou a postergação do início da baixa de juros. O dólar estava abaixo de R$ 5,25 em abril e escalou até R$ 6,3144 há um ano. Cotado hoje às 13:30 (horário de Brasília) a R$ 5,3060, com alta de 0,18% no dia, o dólar acumula baixa de 8,43% em 12 meses.
Isso, ao lado da retração da economia mundial devido ao impacto do tarifaço do governo Trump nas demandas das cadeias produtivas, reduziu os preços do petróleo, do minério de ferro e de alguns alimentos, como o café e a própria carne (a nível doméstico, ao contrário dos Estados Unidos, onde as tarifas de 50% aos produtos brasileiros encareceram a vida dos consumidores), ajudou a segurar os preços da gasolina e demais combustíveis no Brasil. De outra parte, devido à escassez hídrica, os preços da energia elétrica puxam a inflação.
Dito isso, gostaria que os economistas, sobretudo os que integram o Copom e produzem dados para alicerçar suas decisões, informem quão verdadeiramente o nível elevado dos juros derrubou a inflação ou se foi a queda do dólar (com a abertura da boca de jacaré entre os juros dos EUA, agora em 3,75% e os 15% do Brasil) que derrubou o dólar? Para mim, o efeito colateral do excesso dos juros contribuiu para derrubar o PIB além do necessário. Com dois a dois pontos e meio menos na Selic o efeito seria quase idêntico.
Excesso de juros onera a todos
O Banco Central divulgou no final de outubro, as estatísticas fiscais de setembro, quando o Tesouro Nacional pagou (rolou, na prática) R$ 84,7 bilhões em juros (em setembro de 2024 foram R$ 46,4 bilhões), que cada ponto percentual a mais na Selic custa ao fim de 12 meses R$ 60,3 bilhões. Como os juros bancários são duas vezes maiores para as empresas e três vezes maiores para as pessoas físicas, imagina-se a montanha de dinheiro (e renda) transferido pela sociedade e pelo setor produtivo ao sistema financeiro e aos rentistas). Dois pontos a 2,5 pontos seriam mais de R$ 200 bilhões. São os juros excessivos que tornam a dívida pública uma bomba relógio e cortes nos programas sociais são insignificantes e injustos para resolver a questão.
Os números do Pix em 5 anos
O Pix foi criado pelo Banco Central no final de 2020 para facilitar as transações financeiras em plena pandemia da Covid, para evitar as contaminações financeiras nas agências bancárias. Seus números são impressionantes, como frisou o diretor de Organização do BC, Renato Dias Gomes: Em 2021, tivemos 9,4 bilhões de acessos, com cerca de R$ 5 trilhões movimentados. No passado, foram 63 bilhões de transações e R$ 26,4 trilhões movimentados. Isso equivaleu a um giro de 2,5 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do país, de aproximadamente R$11 trilhões.
Para ele, a velocidade da adoção tão massiva do Pix aconteceu porque permitiu novos modelos de negócios, que as pessoas empreendessem de maneiras que antes não estavam no radar. Houve uma dinamização de uma série de atividades. Hoje, são quase 170 milhões de pessoas usando o Pix no Brasil e mais de 20 milhões de empresas.
Para Gomes, o meio de pagamento que mais foi substituído pelo Pix foi o dinheiro em espécie. Isso baixou custos, pois a logística de distribuição do dinheiro é muito custosa, não apenas para o indivíduo, que tinha que ter sempre dinheiro físico consigo, ir ao caixa automático, mas para os bancos também, que tinham custos com carros-fortes e distribuição”, relembrou.
O número de saques em caixa automático no terceiro trimestre de 2020 foi de R$ 1 bilhão. No terceiro trimestre de 2024, esse número foi de R$ 660 milhões, uma redução de 35%: “Isso torna a vida de todo mundo muito mais fácil”.
Inclusão financeira
Gomes lembrou que o Pix incluiu milhares de pessoas no sistema financeiro: “Muita gente não usava as contas que tinha. Ou apenas recebia o salário, sacava tudo e só utilizava dinheiro. Depois do Pix, as pessoas perceberam a conveniência de se pagar as contas pelo celular e mudaram esse comportamento, passando, de fato, a usar suas contas”, disse.
O diretor destacou a inclusão financeira proporcionada pelo Pix tendo como base o número de usuários ativos, quem realizou um pagamento digital e/ou uma operação de crédito nos últimos três meses, no Sistema Financeiro Nacional (SFN). Entre junho de 2018 e dezembro de 2023, o número de usuários pessoas físicas quase dobrou de 77 milhões para 152 milhões. Para pessoa jurídica, que inclui microempreendedor individual (MEI), o número passou de 3,5 milhões para quase 12 milhões.