O OUTRO LADO DA MOEDA
Juros no Brasil assustam diretora do BIRD
Publicado em 22/10/2025 às 14:29
Alterado em 22/10/2025 às 14:33
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Recém-chegada ao Brasil, onde assumiu a diretoria regional do Banco Mundial, a francesa Cécile Fruman manifestou sua perplexidade quanto ao nível dos juros reais praticados. Ela pensa como o presidente Lula, que não se cansa de cobrar (como Trump) a baixa dos juros ao Banco Central. E basta medir pelo piso, a taxa Selic em 15% ao ano, desde junho deste ano, contra uma inflação anual na faixa de 5,17% (mas que tende a fechar o ano dentro do teto da meta (3,00%+ tolerância de 1,50%=4,50%) representa um juro real de 9,35%.
Com a redução de 4,9% da gasolina nas refinarias da Petrobras, valendo desde o dia 21, a LCA 4Intelligence, que previa um IPCA de 4,7% em dezembro; agora espera redução de 8 pontos base no IPCA, que iria ficar mais próximo de 4%. Mas se ficar no teto da meta de inflação e a Selic não for alterada até dezembro, o juro real fecharia o ano em 10%, o que é um absurdo, pois as taxas médias dos créditos com juros livres do mercado estão três ou quatro vezes acima da Selic. E se a inflação fechar em 4,3%, por exemplo, sem queda na Selic, o juro real subiria para 10,25%.
Mas não é só. Na próxima semana o Federal Reserve Bank reúne, dias 28 e 29, seu comitê de mercado aberto e está prevista nova queda de 0,25 pontos na taxa de juros, atualmente na faixa de 4,00% a 4,25%, que desceria para a faixa de 3,75% a 4,00%. O Comitê de Política Monetária do Banco Central só se reúne dias 4 e 5 de novembro. Tem, portanto uma semana para meditar.
Mantida a Selic, a atual diferença entre os pisos de juros no Brasil (5%) e nos Estados Unidos aumentaria dos atuais 10,75% para 11%. É um nível absurdamente elevado que estimula o “turismo” financeiro de especuladores americanos e de brasileiros e outros especuladores que se refugiam em paraísos fiscais para ganhar dinheiro sem maior esforço. As projeções são de que o Fed feche o ano com juros entre 3,50%-3,75%. Com a Selic em 15,00%, o ganho dos especuladores internacionais aumentaria para 11,15%
Mas o ganho é alto também no mercado doméstico. Basta comparar os juros mensais das operações nos conservadores fundos de DIs, que rendem 1,16%, segundo o Itaú. As projeções do mercado financeiro para a inflação de outubro estão oscilando entre 0,25% e 0,23% (mediana das projeções dos últimos cinco dias úteis). Isso mostra um ganho real extraordinário dos rentistas do mercado brasileiro. Um ganho de 0,90% ao mês equivale a uma taxa anualizada de 11,35%! Quase o dobro do rendimento da poupança. As projeções para 2026 são de uma inflação de 4,30% e uma Selic de 12,50%.
Esses custos extras causados pela necessidade de elevação dos juros pelo Banco Central no ano passado, quando houve uma especulação no dólar, com pressões altistas nos preços domésticos face ao aumento do favoritismo (confirmado) de Donald Trump, oneraram o Tesouro Nacional, ampliaram os ganhos reais dos rentistas, dos super ricos e do sistema financeiro. Por isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na sua cruzada para evitar que a concentração de renda financeira anule os movimentos da reforma tributária visando maior isonomia no pagamento de impostos em relação à renda individual, busca ampliar a tributação dos ganhos financeiros.

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O que disse a diretora do BIRD
Em entrevista ao “Valor Econômico”, Cécile Fruman, nova diretora do Banco Mundial para o Brasil, manifestou sua perplexidade quanto ao nível dos juros reais no país: “Foi uma das minhas maiores surpresas por aqui. Eu não tinha visto recentemente taxas de juros tão altas. Nós sabemos que, para o investimento privado e o crescimento do setor privado, os juros elevados são muito danosos. Ainda há bastante crédito direcionado para setores específicos ou para tipos específicos de empresas”. Mas ela lembrou que juros altos concentram a renda e inibem os investimentos produtivos e na transição energética.
Sobre a proposta de cobrança de maior imposto sobre os super ricos, foi enfática: “ A proposta de uma cobrança mínima de 10% é definitivamente um passo na direção certa. As pessoas muito pobres atualmente não são taxadas. Ao aumentar isso para R$ 5 mil, mais pessoas terão o benefício, o que é uma coisa boa. Existem outras formas de abordar essa reforma, mas a direção geral, de tentar garantir que os mais ricos paguem mais impostos é provavelmente a melhor”.
O que deu errado nas tarifas
Às vésperas do encontro entre os presidentes Trump e Lula na Malásia, quando a retirada das tarifas extras de 40% de vários produtos brasileiros, em especial o café e a carne, que trouxeram inflação para a mesa do consumidor americano, o JP Morgan Chase, maior banco dos Estados Unidos, fez um interessante resumo dos temores trazidos pelo tarifaço que começaria em abril e foi transferido para agosto.
Vejam os temores e os mas:
Os temores de recessão se multiplicaram com as tarifas, mas as empresas e os mercados se adaptaram;
As tarifas prometiam mudanças decisivas, mas geravam confusão;
A principal política exigia uma ação rápida, mas Washington fechou;
Os receios de recessão aumentaram, mas a economia manteve-se estável
A incerteza intensificou-se – mas as empresas americanas adaptaram-se rapidamente;
Os mercados se prepararam para uma tendência de baixa, mas a alta continuou;
“Venda a América”, disseram eles – mas tudo se recuperou de qualquer maneira.