O OUTRO LADO DA MOEDA
O maior confisco de Bitcoin da história
Publicado em 21/10/2025 às 16:09
Alterado em 21/10/2025 às 16:13
Bitcoin Marco Verch / Bitcoin broken in half
Sempre fiz restrições na coluna à confiabilidade do mercado de criptomoedas. E a principal razão era de que não falta de regulação da existência das moedas escriturais (inexistem controles de Bancos Centrais ou de “clearings houses” para atestar a existência “física” ou real dos ativos, pisa-se em terreno movediço, ou pantanoso. Pois na semana passada o governo dos Estados Unidos mostrou mais uma fragilidade do mercado ao promover o maior confisco de Bitcoins da história (US$ 15 bilhões), em operação do FBI e do Departamento de Justiça.
O motivo eram as ligações de algumas empresas de bitcoins com a lavagem de dinheiro em paraísos fiscais e às jogatinas nas “bets”. Por sinal, também registradas em paraísos fiscais, o que torna o terreno ainda mais pantanoso. Nesta terça feira o Bitcoin estava sendo negociado a US$ 111.016, com queda de 0,19% no dia a -1,96% em sete dias. O Ethereum caía 1,63% no dia e 1,87% em sete dias. Mas a maior baixa era do BNB: 1,28% no dia a 9,38% em uma semana.
Vejam o caso do confisco em reportagem de Daniel Ascen, publicada no site da Invesring.com: “Em outubro de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou a maior apreensão de Bitcoin da história: mais de 127 mil BTC, avaliados em cerca de US$ 15 bilhões. O que parecia uma operação comum contra crimes cibernéticos revelou-se uma trama muito mais ampla, envolvendo inteligência estatal, exploração de vulnerabilidades e um império global de fraudes”.
“O Departamento de Justiça (DoJ) não explicou como obteve acesso às chaves privadas das carteiras confiscadas. Mas documentos judiciais e análises independentes apontam que o FBI pode ter explorado a vulnerabilidade “Milk Sad”, descoberta em 2023, que comprometia carteiras de Bitcoin e outras criptomoedas”.
“A falha surgiu por causa de um erro na geração das chaves privadas. Em vez de criar códigos realmente aleatórios, o software gerava padrões previsíveis, permitindo que hackers (ou agências de segurança) descobrissem as chaves e acessassem os fundos.”
“Segundo a Arkham Intelligence, os endereços afetados estavam ligados à mineradora chinesa Lubian, com operações na China, Irã e Laos. As carteiras continham 127.426 BTC parados desde 2020, exatamente o mesmo número e os mesmos endereços citados nos documentos do DoJ. Isso sugere que o FBI invadiu as carteiras explorando a falha para executar o confisco”.
“No centro da operação está Chen Zhi, ou Vincent Chen, bilionário chinês naturalizado cambojano e fundador do Prince Holding Group; conglomerado de bancos, cassinos, fintechs e imóveis de luxo. Durante anos, ele foi retratado como um empresário exemplar e filantropo no Camboja”.
“Investigações dos EUA e Reino Unido, porém, revelaram que o grupo era uma organização criminosa transnacional, responsável por golpes em criptomoedas e redes de trabalho forçado. O esquema seguia o modelo de “pig butchering”, no qual vítimas são enganadas por falsas promessas de investimento ou romance”.
“Milhares de pessoas foram enganadas ou sequestradas e levadas a campos de trabalho forçado no Camboja e em países vizinhos. Sob ameaças e violência, eram obrigadas a operar contas falsas e aplicar golpes online. A operação movimentava até US$ 30 milhões por dia”.
“A lavagem de dinheiro ocorria por meio de cassinos, empresas de fachada e mineração de criptomoedas, entre elas a própria Lubian. Apenas 30% dos bitcoins minerados eram legítimos, indicando mistura proposital de fundos para esconder a origem ilícita do capital.”
“O Tesouro dos EUA classificou o Prince Group como uma Transnational Criminal Organization (TCO) e bloqueou 146 entidades ligadas ao conglomerado. O Reino Unido também congelou propriedades de luxo de Chen e seus associados, avaliadas em mais de 130 milhões de libras”.
“A coincidência entre os endereços da Lubian e os bitcoins confiscados é praticamente incontestável; tanto os dados da Arkham quanto os documentos oficiais do DoJ mostram a mesma lista de carteiras, reforçando a hipótese de um “hacking” estatal conduzido pelo FBI”.
“Chen Zhi, antes visto como símbolo do capitalismo cambojano, tornou-se foragido internacional. Seu império desabou e expôs a dimensão real dos golpes e da exploração humana por trás da indústria do crime digital”.