O OUTRO LADO DA MOEDA
Segurança X liquidez X rentabilidade (Master?)
Publicado em 20/10/2025 às 16:02
Alterado em 20/10/2025 às 16:02
Qualquer novato em noções de investimentos no mercado financeiro já tomou conhecimento do tripé: segurança, liquidez, rentabilidade. A ordem original dos objetivos do investidor deve ser essa. Se o objetivo é obter o máximo de rentabilidade, deve se sujeitar a correr riscos e ter menos liquidez. A médio e longo prazos, as oportunidades do mercado de ações (renda variável) são mais atraentes. Mas, isto implica abdicar da segurança e da liquidez.
Quem deseja segurança e liquidez deve deixar de lado o mercado de renda variável e o de criptoativos, bem como as complexas operações estruturadas, “metier” dos especialistas e “traders” calejados do mercado (que nem sempre acertam) e se concentrar no mercado de renda fixa (com retorno garantido em juros). Mas, mesmo no mercado de renda fixa há diferentes graus de risco.
Há títulos de renda pré-fixada e pós fixada (juros fixos + inflação do IPCA, do IBGE, ou outro indexador, como o IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas, ou até a taxa do dólar). Os papéis de maior segurança e liquidez do mercado são os títulos do Tesouro, operados diariamente pelo Banco Central, como as Letras Financeiras do Tesouro. Entretanto, pela segurança e liquidez, pagam os menores juros da praça (já considerando a tributação dos rendimentos).
As diferenças de liquidez e de tributação tornam supostamente atraentes alguns papéis privados de renda fixa. No momento, por estarem isentos de tributação (a MP 1.303 caducou na Câmara, porque a oposição retirou de pauta a MP para que não fossem identificados os votos), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) tornam-se atrativas a gestores de carteiras de investimentos os incluírem no “portfólio”.
Mas é preciso destacar que LCIs, LCAs, debêntures emitidas por empresas ou Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) não dão garantia absoluta de retorno. O emissor pode quebrar ou ser alvo de recuperação judicial e o dinheiro some. Por isso, existe há alguns anos a cobertura (espécie de seguro) do Fundo Garantidor de Crédito até o valor de R$ 250 mil. O FGC é bancado pela contribuição das instituições financeiras, em especial dos grandes bancos.
O padrão do investimento de mais liquidez e mais segurança, porém, de menor rentabilidade é oferecido pelos fundos DIs (o juro é calculado pela média dos depósitos interfinanceiros, com alguma aderência ao rendimento diário da Selic (a taxa básica de juros dos papéis do TN). Um investidor, individualmente, pode ser tentado a comprar um CDB de um banco que está pagando 130% a 150% do rendimento das aplicações em DI. Mas não pode ser ingênuo de acreditar que não está correndo risco, sobretudo se aplicar acima de R$ 250 mil, sem cobertura do FGC (em qualquer operação deve exigir o comprovante).
Isto posto, dá para acreditar que foi ingenuidade ou ganância a decisão dos gestores do Rio Previdência – o fundo de pensão dos funcionários públicos do Estado do Rio de Janeiro estarem com um enorme pepino nas mãos: o investimento de R$ 2,5 bilhões (dez vezes superior ao teto da garantia do FGC) em CDBs do Banco Master, de Daniel Vorcaro, que anda fazendo água no mercado?
O Tribunal de Contas do Estado está fazendo uma investigação no Rio Previdência. Com meus 53 anos de cobertura do mercado financeiro posso garantir que não houve ingenuidade (é inadmissível que um gestor de recursos tão vultosos – o Rio Previdência recebe verbas dos “royalties” de petróleo – possa desconhecer os riscos de investir num papel que está rendendo muito acima da média do mercado e ainda sem a rede protetora do FGC.
Nos velhos tempos do “open market” era a ganância que falava mais alto que a prudência da liquidez e da segurança. Mas eram tempos de juros mensais de 80% a 90% no giro diário do “overnight”. Entretanto, operações triangulares entre um banco, uma distribuidora e um fundo de pensão reduziam alguns d-x do juro final que era repartido entre as três partes. Recomendo o TCE a seguir esta pista e verificar, de pronto, qual a taxa da operação vis-à-vis os juros vigentes à época. O Banco Central dispõe de registros das taxas do overnight. Até o Itaú tem planilhas mensais comparando as taxas dos DIs com a Selic.
Onde há fumaça, há fogo
Vejam o caso do Fisrt Brands, o fabricante de autopeças eu pediu concordata devendo mais de US$ 3, 5 bilhões e está assustando Wall Street como a ponta de um iceberg. Com a palavra Jamie Dimon, presidente do JP Morgan Chase, o maior banco dos Estados Unidos:
"Eu provavelmente não deveria dizer isso, mas quando você vê uma barata, provavelmente há mais.", alertou Dimon em 14 de outubro de que as recentes explosões da Tricolor, um revendedor de automóveis, e da Fisrt Brands, uma fabricante de autopeças, podem não ser os últimos problemas enfrentados pelo mercado de crédito dos EUA.
Aqui no Brasil, o Master vaga como um morto-vivo na praça.
Sinais preocupantes para Washington
Enquanto isso, os sinais de Wall Street estão assustando o governo Trump, em Washington. O ouro sobe nesta segunda-feira mais de 3,50%, rompendo a barreira dos US$ 4,359 para o contrato de 100 onças-troy (4.360 parece ser um ponto de resistência). O refúgio no ouro revela a desconfiança dos grandes gestores de fundos soberanos em relação ao dólar. O metal subiu (em dólar) 5,50% em uma semana, 17,70% em um mês e quase 30% em três meses. No sentido inverso, o contrato do petróleo tipo Brent para entrega em dezembro cai mais 1%, cotado a US$ 60,68 por barril. Em uma semana a queda é de 4,15%, a baixa em 30 dias é de quase 9% e chega a 12,40% em três meses.
No sentido inverso – e isso ajuda o Brasil a convencer o governo Trump a aliviar a tarifa extra de 40% sobre o café e a carne brasileira, o Contrato do Café tipo C para liquidação em dezembro rompeu a barreira dos US$ 400, cotado a US$ 403,63, com alta de 1,44% no dia, de 4,74% em uma semana e de 10% em um mês. Se isso fosse pouco, o contrato do boi gordo sobe 0,32% no dia, acumulando 0,34% em uma semana e 3,35% no mês. Ou seja, o alívio sobre o Brasil aliviaria a inflação do consumidor americano.