
O OUTRO LADO DA MOEDA
Especulação com dólar já esfriou
Publicado em 13/10/2025 às 14:18
Alterado em 13/10/2025 às 14:18
Mal durou um fim de semana a especulação com o dólar. Ela se baseava, no exterior, no agravamento da guerra tarifária entre Estados Unidos e China. No cenário doméstico, no “desmoronamento” da política fiscal em 2025 e 2026, com a perda de validade, quarta-feira, 8 de outubro, da MP 1.303, que taxava “bets”, bancos e “fintechs” e buscava, de volta para o Tesouro Nacional, parte dos R$ 200 bilhões pagos a mais este ano aos rentistas em papéis do TN e renda fixa.
O cenário externo se acalmou quando o presidente Donald Trump amenizou o tom agressivo contra a China, mantendo aberto o canal para negociações (os EUA dependem de importações estratégicas vindas da China e ainda teme que os chineses parem de aplicar suas reservas em títulos do tesouro americano. O dólar, que subira fortemente sexta-feira, voltou a cair 0,40% frente ao euro, 0,20% ante a libra esterlina, -0,64% diante do iene e -0,65 ante o franco suíço.
No Brasil, o próprio mercado, na pesquisa Focus colhida pelo Banco Central até sexta-feira, não alterou as previsões sobre o resultado primário (-0,50% do PIB em 2025 e -0,60% do PIB em 2026). Para não deixar dúvidas, os números do PIB ficaram estáveis: + 2,16% em 2025 e +1,80% em 2026. Com os ânimos mais serenos, pela disposição do governo de recuperar receitas, o dólar voltou a ter forte queda no Brasil, cotado a R$ 5,4732, às 11:20 (hora de Brasília), uma baixa de 0,88%.
Mercado já projeta IPCA perto do teto
Sem pânico no mercado de câmbio (um dos motivos da escalada do dólar no segundo semestre do ano passado, que acelerou a inflação dos produtos comercializados com o exterior e levou o Banco Central a subir a Selic a 15% ao ano e manter a taxa inalterada – o mercado espera que feche o ano assim e só venha a primeira queda em janeiro ou março de 2026, quando fecharia o ano em 12,25%), o mercado está reduzindo a cada semana as projeções do IPCA para perto do teto da inflação (3,00% + tolerância ade 1,50%=4,50%).
Nesta pesquisa Focus a inflação caiu de 4,80% para 4,72% na mediana das respostas, mas a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis foi ainda menor: 4,70%, o novo número revisado pelo Santander, que admite viés de baixa. O máximo que a especulação conseguiu foi elevar novamente para 12,50% a expectativa dos últimos dias úteis para a Selic de dezembro de 2026.
A inflação do IPCA acumulada nos 12 meses até setembro ficou em 5,17%. Confrontando-se as projeções da Focus para os meses de outubro, novembro e dezembro (0,26%; 0,25% e 0,50%) com o que ocorreu em 2024 (0,56%; 0,39% e 0,52%) o IPCA fecharia o ano ligeiramente abaixo de 4,7%. Um desvio de -0,9% nos três últimos meses do ano garante o IPCA no teto da meta.
Master: o dilema do Banco Central
Nos meus 53 anos de cobertura do mercado financeiro, nunca vi tanta leniência do Banco Central com uma instituição financeira como o Banco Master.
O que me leva a duas suposições: ou o pepino do banco de Daniel Vorcaro, é muito grande e pode causar crise sistêmica, pelo montante das aplicações que ficaram de fora da cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (o FGC cobre aplicações em CDBs e outros títulos até R$ 250 mil) ou há muito CPFs e CNPJs importantes envolvidos na política e nas transações de Vorcaro para o BC pisar neste chão devagarinho.
Ao pagar, em meados de 2024, até 140%/150% do rendimento dos CDIs, os CDBs do Master eram vistos como grande problema. Mas o BC de Roberto Campos Neto empurrou a crise com a barriga até vencer seu mandato, em 31 de dezembro. Em janeiro assumiram Gabriel Galípolo e dois diretores. Em março, o Master atrasou o balanço e em maio veio o socorro do BRB, o Banco Regional de Brasília, que se dispunha a ficar com 49% do Master.
Entretanto, após mais de sete meses, a administração de Gabriel Galípolo vetou a transação. Agora, exige R$ 840 milhões de capitalização de dois bancos de Vorcaro (R$ 421 milhões do Master e R$ 419 milhões do Will Bank). Em outros tempos, quando o sistema financeiro nacional não era tão interligado, havia uma centena de bancos e não existiam as “fintechs”, um “pepinaço” destes seria fatiado em menos de um mês.