O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

O que falta para IPCA ficar no teto da meta

Publicado em 10/10/2025 às 16:05

Alterado em 10/10/2025 às 16:06

Com quatro meses seguidos de baixa, a alimentação em domicílio (que subiu 8,22% em 2024 e deve ficar em 4,49% este ano, dentro do teto da meta) está ajudando, com a alta moderada dos custos de transporte, a reduzir a inflação. Bancos e consultorias reduzem, mês a mês, as projeções de inflação de 2025. O Bradesco já estima que o IPCA, que ficou em 4,83% em 2024, fique este ano no limite do teto da meta de inflação: 4,50% (3,00%+tolerância de 1,50%).

Em setembro a taxa de 0,48% foi menor do que previa o mercado. A LCA 4Intelligence reduziu a previsão deste ano de 4,85% para 4,75%, prevendo alta de 0,20% em outubro, de 0,25% em novembro e 0,60% em dezembro, quando espera aumento sazonal de fim de ano em alimentos (+1,20% em novembro e +1,37% em dezembro). Mas, basta uma redução de 0,24% nas previsões do IPCA do último trimestre para a inflação ficar dentro da meta.

Não é impossível. O que impediu uma queda maior da inflação deste ano foi a alta de 16,42% da energia elétrica residencial que provocou a duplicação da inflação da Habitação (3,08% em 2024, contra previsão de 6,30% este ano, como espera a LCA 4Intelligence). Enquanto Alimentos e Bebidas, Artigos de residência, Comunicação, Educação e Saúde e cuidados pessoais mostram desaceleração. Vestuário quase duplica os preços (reflexo dos impostos das “blusinhas” que diminuiu a concorrência das roupas e calçados importados.

Mas o que está evitando a queda maior da inflação é a inércia inflacionária causada pela indexação ainda forte da economia: casos das mensalidades de Educação e dos Planos de Saúde. E o outro fator é uma pressão no dólar.


Com as perdas fiscais, dólar sobe 2,50%

O ruído em torno da retirada da pauta da MP 1.202 que aumentaria a tributação das bets, fintechs e das aplicações do mercado financeiro, infladas este ano pela alta dos juros da Selic, que contamina os demais instrumentos e concentra mais a renda nos rentistas, provocou forte temor de perdas fiscais este ano e em 2026 e provocou alta imediata do dólar, negociado às 14:50 a R$ 5,5500 (+2,50%), apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar que o governo buscará novas receitas sem sacrificar a área social. Ao analisar a questão, o Instituto de Justiça Fiscal, com sede em Porto Alegre, criticou o Congresso por não votar MP da taxação dos super-ricos. Para o IJF, a “decisão compromete orçamento, ameaça áreas sociais e protege interesses de bilionários, bancos e casas de apostas”.

O Instituto manifestou repúdio à decisão do Congresso de não votar a Medida Provisória, porque a MP também buscava fechar brechas legais que hoje permitem práticas de sonegação e elisão fiscal”. Nos cálculos do IJF, a queda da MP representa grave retrocesso na agenda de justiça fiscal. O governo estimava arrecadar até R$ 35 bilhões em 2025 e 2026 com a proposta — recursos fundamentais para políticas públicas em saúde, educação, segurança e infraestrutura. O IJF chama a atenção de que, além de “preservar privilégios para bancos, grandes investidores e setores altamente lucrativos, o Congresso rejeitou medidas como a unificação da alíquota de aplicações financeiras em 17,5% e o fim da isenção de Imposto de Renda para estrangeiros — ações que corrigiriam distorções históricas e reduziriam a concentração de benefícios no topo da pirâmide”.

O IJF considera inaceitável que o déficit fiscal causado pela rejeição da MP seja compensado com cortes em áreas sociais. Defende que esses ajustes ocorram no “andar de cima”, com revisão profunda dos chamados “gastos tributário” — renúncias fiscais que beneficiam grandes grupos econômicos e empresas que, em muitos casos, não oferecem contrapartida social efetiva. Essas renúncias estão estimadas em mais de R$ 500 bilhões neste ano. “Impedir iniciativas de justiça tributária significa prejudicar o povo e favorecer uma minoria privilegiada”, sustenta Clair Hickmann, presidenta do Instituto Justiça Fiscal.

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