
O OUTRO LADO DA MOEDA
Mercado já crê em inflação no teto
Publicado em 09/10/2025 às 15:55
Alterado em 09/10/2025 às 15:57

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O IPCA avançou 0,48% em setembro, abaixo do esperado pelo mercado (0,52% era a mediana do mercado, de 0,50% era o índice esperado pelo Bradesco e a LCA4Intelligence; o Itaú, mais pessimista, previa +0,57%). Por isso, apesar da quarta queda seguida na alimentação, as altas da energia elétrica (10,31%) e dos combustíveis (devido à alta de 2,25% no etanol, que entra em 30% na gasolina comum, esta subiu 0,75%) trouxeram pequena resistência no índice de 12 meses, que subiu de 5,13% em agosto para 5,17%.
A leitura geral mostrou desaceleração em itens importantes e reforçou a crença de que o IPCA possa encerrar o ano no teto da meta (3,00%+1,50% de tolerância=4,50%, como prevê o Bradesco). O Itaú previa 5% e indicou viés de baixa. As apostas de alcance do teto geraram baixa nos juros futuros, refletindo também o alívio do mercado pela não taxação dos ativos de renda fixa.
O índice de preços em alta caiu de 57% em agosto para 52%, sendo maior a redução dos itens não alimentícios (de 65% para 56%). O Bradesco assinalou que o preço dos alimentos consumidos no domicílio caiu 0,41% no mês, com recuo nos produtos in natura, cereais e carnes. Em 12 meses, os alimentos acumulam alta de 6,0%, abaixo dos cerca de 8% registrados no início do ano.
No churrasco, alta só na cerveja
A volta do churrasco prometido pelo presidente Lula está se materializando este ano, segundo os dados do IBGE. As carnes estão com queda acumulada de 1,50% de janeiro a setembro. A picanha ficou 0,28% mais barata, o contrafilé caiu 2,84%, a alcatra -1,76% e a costela -2,82%. O frango inteiro ficou 1,23% mais em conta.
Subiram, porém, os preços da linguiça (+1,58%) do sal (+1,40%) e, sobretudo a cerveja (+2,65%), ainda que abaixo da inflação acumulada de 3m64% no ano. Em compensação, o arroz que acompanha o churrasco ficou 20,85% mais barato este ano e o feijão preto caiu 31,9%, contra -6,05% do feijão carioca.
O golpe da 'black friday'
Os bens industriais tiveram alta de 0,06%, desacelerando em relação ao resultado de agosto. Em 12 meses, o grupo acumula elevação de 3,3%. Destaca-se a deflação mais intensa que o esperado nos bens duráveis, puxada por fogões, televisores e celulares (malandragem para criar margem nas baixas da “black friday”). A inflação dos bens semi e não duráveis também desacelerou em relação ao mês anterior.
As aberturas seguem com dinâmica baixista, influenciada pelos repasses da apreciação cambial observada nos últimos meses. A inflação de serviços apresentou alta de 0,13% em setembro, também abaixo das estimativas. Em 12 meses, a alta é de 6,1%. Os serviços subjacentes subiram apenas 0,03% no mês, influenciados pela menor elevação da alimentação fora do domicílio. Nos 12 meses até setembro, os serviços subjacentes subiram 6,8%, enquanto a variação trimestral anualizada está em 4,6%.
Para o Bradesco, “o resultado qualitativo foi positivo, com menor pressão de serviços subjacentes e industriais. Os núcleos relevantes para a política monetária mantiveram a dinâmica favorável das últimas divulgações. Assim, reforçamos a trajetória mais benigna da inflação em direção à nossa projeção de 4,5%, no limite superior do intervalo da meta para o ano”.
Já o Itaú cita que o “item gasolina veio acima das expectativas”, mas os “núcleos, tanto serviços como industriais subjacentes vieram abaixo das expectativas”. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram para 4,6% (de 5,7%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou para 3,4% (de 3,1%). Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou para 4,4% (de 4,5%).
Para o banco, “o dado de hoje apresentou uma leitura qualitativa melhor do que esperávamos. Além da surpresa baixista em energia elétrica, os núcleos também vieram abaixo da nossa projeção. Nos serviços subjacentes, a surpresa veio disseminada em itens como conserto de automóveis, alimentação fora do domicílio e serviços de estética. A leitura trouxe viés de baixa para nossa projeção de inflação do ano”.
Tarcísio colhe o que plantou
Depois de apoiar, com boné do MAGA e tudo, as sanções do tarifaço de Trump ao Brasil (que atingiram mais a economia paulista), investir contra o STF e trabalhar contra a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil em 2026, devido à compensação de maior imposto sobre os super ricos e trabalhar contra a MP 1.303, afirmando que “a população não aguenta mais impostos” – a população, quem cara pálida, pois a classe média e os pobres estão sendo aliviados no IR e nos impostos sobre o consumo – o governador Tarcísio de Freitas viu sua rejeição crescer para 41% na última pesquisa Genial/Quaest.
Em janeiro a rejeição era de 32%. Mas a pesquisa não captou suas últimas declarações nem a mudança da biruta no relacionamento entre o governo Lula e o governo Trump, que teve seguimento hoje com a conversa telefônica entre o secretário de Estado Marco Rúbio (interlocutor indicado por Trump) com o chanceler mauro Vieira. Novos encontros presenciais, em Washington podem destravar a agenda dos tarifaços com a revogação da taxa extra de 40%.
Mercado comemora fim da MP 1.303
O mercado financeiro comemorou a derrubada da proposta, enviada em junho, que buscava unificar as alíquotas do Imposto de Renda sobre investimentos e rever benefícios tributários. Com a queda, o governo perde quase R$ 46 bilhões de arrecadação este ano e em 2026, e vai precisar de novas fontes de recursos para manter programas sociais sem cortes no ano eleitoral.
O texto original previa: Alíquota única de 17,5% sobre rendimentos de aplicações financeiras, substituindo o modelo regressivo atual (22,5% a 15%); Tributação de 5% sobre títulos hoje isentos, como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas; Fim da isenção de dividendos pagos por FIIs e Fiagros; Imposto de 17,5% sobre qualquer ganho com criptomoedas e ativos digitais, com fim da isenção para vendas de até R$ 35 mil por mês; Aumento da CSLL de fintechs, de 9% para 15%, e das grandes instituições financeiras, para 20%; Alta do IR sobre Juros sobre Capital Próprio (JCP) de 15% para 20%.
O que vale agora para 2026
A tributação de investimentos foi mantida para pessoas físicas e jurídicas.
Renda Fixa (CDBs, Tesouro Direto, Debêntures): IR regressivo, conforme o prazo da aplicação: 22,5% até 180 dias; 20% de 181 a 360 dias; 17,5% de 361 a 720 dias; 15% acima de 720 dias; Fundos de renda fixa e multimercado seguem com come-cotas semestral.
Títulos incentivados (LCI, LCA, CRI, CRA, Debêntures incentivadas): Isenção total de IR para pessoa física, mantida; Empresas continuam pagando IR e CSLL sobre rendimentos.
Ações: 15% de IR sobre ganhos em operações comuns; 20% para day trade, com 1% retido na fonte (dedo-duro); Isenção para vendas mensais até R$ 20 mil; JCP segue com retenção na fonte de 15%.
Criptomoedas e ativos virtuais: Isenção para vendas de até R$ 35 mil por mês; Acima desse limite, o IR progressivo é de 15% a 22,5%;
FIIs e Fiagros: Dividendos isentos para cotistas pessoas físicas, desde que o fundo tenha mais de 50 cotistas e cotas negociadas em bolsa; 20% de IR sobre ganho de capital na venda de cotas.