O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

EUA têm efeito bumerangue do tarifaço

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Publicado em 04/09/2025 às 15:19

Alterado em 04/09/2025 às 15:36

Daniel Vorcaro Foto: reprodução

Não demorou nem um mês, depois da nova rodada do tarifaço de Donald Trump às exportações dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, para os efeitos colaterais atingirem a cadeia produtiva doméstica. Nesta quinta-feira, 4 de setembro, o site do “New York Times” tem como uma das principais manchetes o fato de que o lendário fabricante de tratores “John Deere, um ícone dos EUA, é prejudicado por tarifas e agricultores em dificuldades”.

É mais uma etapa do efeito bumerangue do tarifaço que desorganizou as cadeias produtivas mundiais que a globalização, explorada pela própria indústria americana, que buscou custos mais baixos de produção pelo mundo, tinha construído. Segundo o “NYT”, “o fabricante de tratores disse que as vendas caíram e que tarifas mais altas sobre metais custariam US$ 600 milhões, enquanto os agricultores americanos enfrentam uma demanda internacional cada vez menor por algumas culturas (leia-se a soja pela China).

Seus quase 1,5 bilhão de habitantes necessitam importar soja (e milho) do Brasil, dos EUA, da Argentina, Paraguai e de quem mais tiver estoques disponíveis, para saciar suas necessidades de alimentação humana e animal (as criações de aves e suínos – a principal fonte de proteína animal do país - dependem do milho e da soja importada).

O Brasil desbancou os EUA como maior produtor e exportador mundial neste século, graças à produção do Centro Oeste (MT). Como a safra americana tem ciclo inverso à do Brasil (aqui o plantio está começando no CO, enquanto os EUA estão colhendo a safra semeada em abril (quando o Brasil encerrava a sua). O tarifaço iniciado em abril e ampliado em agosto. Ou seja, o tarifaço criou um impasse para os agricultores, enquanto os EUA mantêm altas tarifas contra Brasil e China e facilitam o estreitamento de negócios entre ambos.

A China absorve quase 30% das exportações do Brasil. Os EUA cerca de 12%. A China é o maior comprador de minérios (de ferro, sobretudo) do Brasil, assim como petróleo, soja, milho, açúcar, carnes (bovina, de aves e suína), além de celulose. Com as restrições de Tio Sam ao café brasileiro, do qual era o maior comprador, o Brasil tenta abrir novos mercados, como o chinês.

Além de maior comprador de comodities e produtos elaborados pelo Brasil, a China vem fortalecendo os laços diplomáticos com o Brasil (ao contrário dos EUA, induzido pela família Bolsonaro a intervir no julgamento do ex-presidente com sanções comerciais ao país e a membros da Suprema Corte), os chineses aumentaram a parceria em investimentos que teriam atingido US$ 4,2 bilhões no ano passado, segundo estudo do Conselho Empresarial Brasil China. E estão avançando os estudos para a ferrovia bioceânica que ligaria os portos de Ilhéus (BA) a Chancay (Peru), financiado pelo China, criando uma nova rota da seda para escoar a produção dos estados do Centro-Oeste e minérios via uma travessia pelos Andes (a parte mais complexa) encurtando a viagem dos navios à China e ao sudeste asiático por mais de duas semanas em relação aos roteiros atuais, evitando a travessia do Canal do Panamá, sob gestão dos EUA.

'Impasse tarifário'

Uma submanchete do “NYT” ganhou justo o título de “Impasse tarifário: os agricultores americanos precisam vender sua safra”, para descrever a angústia dos produtores americanos, que se reflete nas cotações dos contratos futuros da soja na Bolsa de Chicago (ao meio-dia, horário de Brasília, os preços caíam 0,42% e acumulavam queda de 1,60% em uma semana), porque a China tende a privilegiar o Brasil) e reverbera nas linhas de produção da John Deere nos EUA e no mundo. O mais potente trator da companhia custa R$ 6 milhões aqui.

Mas, como dizem os chineses, “na crise surgem oportunidades”. O mesmo “NYT” diz que especuladores de Wall Street estão apostando contra as tarifas de Trump, que tiveram as primeiras contestações aprovadas por tribunais americanos. Investidores estão se oferecendo para comprar os direitos dos importadores a quaisquer reembolsos das taxas do governo, acreditando que as tarifas sejam anuladas pelos tribunais ou que o próprio governo volte atrás.

Chantagem fracassou: BC veta fusão BRB-Master
O desespero do Centrão, cujos interesses inconfessáveis de alguns figurões se cruzam com os interesses urgentes de liquidez do fracassado banqueiro Daniel Vorcaro, chegou ao extremo de chantagear a diretoria do Banco Central com a votação de um Projeto de Lei que admitiria a demissão de diretores pelo Senado, para que dessem o aval à compra de 49% das ações do Banco Master, de Vorcaro, pelo Banco Regional de Brasília, do DF, governado por Ibaneis Rocha (MDB-DF).

Não adiantou. O negócio anunciado em março (às vésperas do fechamento de um balanço trimestral que fazia água), hibernou cinco meses no Banco Central mas encontrou obstáculos intransponíveis. O Master, que prometia pagar 140% do rendimento da Selic (15% ao ano) em seus CDBs (ou seja, até 21% ao ano), ficou ilíquido e não tinha sustentação para as aplicações acima de R$ 250 mil por CDB (teto de cobertura do Fundo Garantidor de Crédito).

Nesses cinco meses, os anéis do grupo de Vorcaro foram sendo entregues para tentar salvar os dedos. Em março, dizia-se que o patrimônio do Master/Vorcaro era de R$ 50 bilhões. Mas nem o FDC nem o BC confirmaram isso. A renovação dos CDBs, como era de se esperar, minguou e micou. E as últimas informações são de que o patrimônio real vale menos da metade dos R$ 50 bi. Embora a urgência da solução fosse de Vorcaro, nos últimos meses ele badalou abertamente em festas nababescas pelo mundo afora.

Deixou a aliados políticos, como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira do Piauí, pressionarem os diretores que cuidavam mais diretamente do caso Master-BRB: o de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias de Brito Gomes, e Aílton Aquino Santos, de Fiscalização, a dar a aprovação. A ameaça do PL da Demissão foi um tiro pela culatra.

Para começar, o Banco Central teve prejuízo de R$ 106 bilhões no primeiro trimestre e está sem caixa. Renato Brito Gomes, cujo mandato expira em 31 de dezembro deste ano, já não seria alcançado, fez pé firme, assim como Aílton Aquino, com mandato até 28 de fevereiro de 2027. Ambos convenceram os seis diretores e o presidente Gabriel Galípolo a darem o não à operação.

A festa acabou para Daniel Vorcaro.

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