O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Focus: otimismo nas contas fiscais e externas

Publicado em 01/09/2025 às 18:30

Alterado em 01/09/2025 às 18:30

A pesquisa semanal Focus, encerrada pelo Banco Central na sexta-feira, 29 de agosto, e divulgada nesta segunda, 1º de setembro, indicou pequena redução na previsão da inflação (4,86% para 4,85% (sendo de 4,84% a previsão da mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis) e baixa de R$ 5,59 para R$ 5,56 na previsão do dólar em dezembro (R$ 5,50 nos últimos cinco dias). A Selic segue em 15%, mas com a redução do IPCA de 2026 a 4,23% na mediana de 146 respostas dos últimos cinco dias uma parte do mercado espera que a Selic se reduza dos 12,50%, na maioria, para 12,00%.

Mas os dados mais interessantes dizem respeito às mudanças mais positivas em relação às contas externas e às contas fiscais. Nas contas externas, depois do pessimismo com o impacto do tarifaço americano sobre o Brasil. Na pesquisa Focus de 31 de janeiro, o mercado esperava saldo de US$ 75,70 bilhões na balança comercial e Investimentos Diretos no País de US$ 70 bilhões, o que cobriria ao déficit em contas correntes (balança comercial + serviços e rendas de capitais) de US$ 51,80 bilhões.

Salto de US$ 10 bi no saldo comercial

Na semana anterior, o saldo comercial fora reduzido a US$ 65 bilhões, valor mantido na mediana da Focus desta semana. Mas os bons resultados das exportações até julho (os números de agosto serão conhecidos hoje ou amanhã) e os esforços do governo e empresários para negociar com os Estados Unidos e encontrar novos mercados para os bens taxados até 50% provocaram um salto para US$ 75,83 bilhões na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis. Houve aumento no saldo do IDP de US$ 70 bilhões para US$ 72,45 bilhões e o déficit em conta corrente caiu de US$ 65 bilhões para US$ 56,70 bilhões na mediana dos últimos cinco dias úteis.

No fiscal, uma grande mudança

Com a divulgação, sexta-feira, 29 de agosto, do resultado das contas fiscais de julho, quando o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 66,6 bilhões, pior que a expectativa de mercado, que esperava déficit de R$ 60,6 bilhões. (em 12 meses, o resultado primário voltou para o terreno negativo, de déficit de R$ 27,3 bilhões (0,2% do PIB) - o Bradesco alivia a sensação alarmista do aumento do déficit.

O banco, lembra que o resultado ruim de julho “foi influenciado pela concentração do pagamento de precatórios, de R$ 63,7 bilhões, que ano passado aconteceu em fevereiro. Com isso, o déficit primário do governo federal foi de R$ 56,4 bilhões, acima do déficit primário de R$ 8,6 bilhões de julho de 2024”. Ou seja, o déficit estourou pelos precatórios e não se repete.

Isso levou o Itaú, que sempre foi cético quanto ao cumprimento das metas do arcabouço fiscal a dizer na análise de julho que “as receitas seguem resilientes, a despeito dos sinais de desaceleração na atividade, enquanto as despesas obrigatórias (excluindo fatores sazonais) seguem rodando acima do limite de despesas do arcabouço fiscal” e o banco já vê “o governo próximo de cumprir a meta de resultado primário de -0,6% neste ano. (...) Até o fim do ano, será importante monitorar como o governo enfrentará o ajuste necessário (cerca de 0,5% do PIB pelas nossas estimativas) para cumprir a meta de 2026” Vale dizer que a mediana da pesquisa Focus previu déficit de 0,52% do PIB (-0,48% na mediana dos últimos cinco dias úteis).

Em fevereiro, o Itaú dizia: “não esperamos o cumprimento da meta de resultado primário de -0,6% do PIB neste ano (considerando abatimentos e o limite inferior da meta oficial de 0%), embora reconheçamos que os riscos são de um resultado melhor do que o que estimamos atualmente, diante do esforço contínuo do governo na agenda de receitas”. Esperava que “o governo anuncie contenção de gastos discricionários significativo da ordem de R$ 35 bilhões, além da inclusão de despesas atualmente executadas fora do orçamento nos limites das regras fiscais”. Os resultados são melhores do que o previsto.

LCA analisa o PLDO

Ao analisar o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, enviado dia 19 pelo governo ao Congresso, a LCA 4Intelligence lembra que na arrecadação, a receita líquida foi estimada em R$ 2.577 bilhões. O projeto conta com diversas medidas extraordinárias relacionadas à arrecadação (e muitas delas ainda em tramitação no Congresso), com destaque para: redução de benefícios tributários do PLP 128/25 em R$ 19,8 bilhões, redução de compensações tributárias da MP 1303/25 em R$ 10 bilhões, arrecadação adicional em LCI/LCA, bets, etc, da MP 1303/25 em R$ 11 bilhões, transações tributárias do Programa de Transação Integral (PTI) em R$ 20 bilhões.

Ela coloca em dúvida a aprovação das medidas,” como vem sendo praxe nos últimos anos”. O PLP 128/25, avalia, “se caracteriza como o projeto mais duvidoso deste ano, por se tratar de uma proposta genérica de redução de gastos tributários. Já de partida a proposta nasce cheia de renúncias excetuadas, sem métodos claros de “enforcement”, etapas de verificação ou mecanismos punitivos em caso de descumprimento.

No lado da despesa total, de R$ 2.389 bilhões, com destaca as despesas de benefícios previdenciários (R$ 1.129 bilhões) e BPC (R$ 131 bilhões). “A primeira nos parece levemente subestimada em cerca de R$ 5 a 10 bilhões, sendo o desvio pequeno dado o tamanho total desta linha no orçamento. Já na última a subestimação é expressiva, com um crescimento nominal no ano de apenas 5,1%, inferior até ao crescimento nominal do salário-mínimo (de 7,4%), principal indexador da rubrica”.

Ao analisar o resultado primário estimado em -R$ 23,3 bilhões, como, para fins de apuração da meta de primário, serão excluídos R$ 57,8 bilhões referentes a precatórios autorizados pelo STF, pagos fora dos limites, conclui que o resultado primário para a meta é de +R$ 34,3 bilhões (0,25% do PIB), no centro do intervalo de tolerância proposto no PLDO 2026 (entre 0 e 0,5% do PIB)”.

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