
O OUTRO LADO DA MOEDA
Conexão PCC-Faria Lima mostra que Receita tinha razão
Publicado em 28/08/2025 às 15:32
Alterado em 28/08/2025 às 15:33

Lembra, caro(a) leitor(a), quando a Receita Federal baixou instrução, no ano passado (há exatamente um ano, no começo de setembro), alertando que, a partir deste ano, as instituições de pagamento (que operam Pix e emissoras de cartões de crédito e débito) deveriam prestar informações sobre movimentações acima de R$ 2 mil? Houve uma grita tremenda da Faria Lima, o que repercutiu fortemente no Congresso e levou o governo a abandonar a medida.
A operação conjunta, hoje, da Polícia Federal e da Receita Federal do Brasil em São Paulo e Goiás, revelou o envolvimento entre operações do PCC (e grupos do crime organizado) com o mercado financeiro, em especial as “fintechs” que facilitam a lavagem de dinheiro e operações de postos de gasolina e padarias (estabelecimentos onde nem sempre o consumidor pede nota fiscal).
Mas, não há dúvida de que a operação conjunta da PF/RFB pode ter sido detectada pelo governo paulista (Tarcísio de Freitas) que acionou o Ministério Público de SP contra fraudes em postos na operação “Carbono Oculto”.
O efeito prático é que o país perdeu um ano para rastrear a lavagem de dinheiro por parte do crime organizado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o rastreamento será obrigatório para as “fintechs”. A Receita considera que a liberdade das “fintechs” favoreceu, na conexão com a evasão fiscal dos postos de gasolina, a “bancarização do crime organizado”.
Com efeito, as primeiras investigações da PF e da RFB indiciaram três administradoras de fundos (à frente a Reag, que geram mais de quatro dezenas de fundos) e uma fintech (BK Instituição de Pagamento, que já estava na lista de observação do Banco Central), como fundamentais no esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
Lavagem em combustíveis gera R$ 7,2 bi em multas
Segundo as investigações da Receita, nada menos que 1.000 Postos de São Paulo e Goiás funcionavam como “lavanderia” e movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, mas com recolhimento de tributos considerado insignificante. Cerca de 140 desses postos não registraram nenhuma operação real nesse período, mas receberam mais de R$ 2 bilhões em notas fiscais, possivelmente em aquisições simuladas para encobrir repasses a distribuidoras controladas pela organização. A PF acrescentou que ao menos duas redes de postos de combustíveis em São Paulo e uma em Goiás atuam em conluio com o PCC. Falta a lista das padarias.
BCE reage à pressão de Trump sobre o Fed
As pressões do presidente Trump sobre o Federal Reserve Bank, para afrouxar a monetária e baixar os juros nos Estados Unidos, centrada na ameaça de demissão do presidente Jerome Powell, com mandato até maio de 2026, e agora focada na diretora negra Lisa Cock, que processa Trump para impedir sua demissão, atravessaram o Atlântico e repercutiram na segunda mais importante autoridade monetária mundial: o Banco Central Europeu (BCE).
Segundo o “Wall Street Journal”, “o processo inicia uma batalha judicial de alto risco sobre a autoridade do presidente para remover membros do conselho do Banco Central”. Por isso, o risco de violação da independência do maior banco central do mundo foi condenado em Helsinque, num seminário sobre as ameaças à democracia, pelo presidente do Banco Central da Finlândia, Olli Rehn, que é membro do Banco Central Europeu.
Para ele, a escalada de ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Federal Reserve pode ter efeitos substanciais e globais sobre os mercados financeiros e a economia real, incluindo o aumento da inflação. Questões sobre a independência do Fed surgiram este ano quando Trump criticou repetidamente o presidente Jerome Powell e, na segunda-feira, anunciou que estava demitindo uma de suas diretoras, Lisa Cook, por acusação de uma suposta fraude em hipotecas antes de integrar o Fed.
Diz ainda o “WSJ” que “no segundo mandato, um presidente mais ousado avança sem controle”, lembrando que “Trump, frequentemente faz alusões ao autoritarismo e ignora a cautela de seus conselheiros”. O mais recente rompante presidencial foi o anúncio pela Casa Branca de que a diretora Susan Monarez foi demitida do CDC, principal órgão de controle da saúde no país, após estar no cargo há 30 dias. Outra demissão foi a do regulador ferroviário.
Para El Erian, Powell perdeu oportunidade
Tido como uma das vozes mais acatadas por “Wall Street”, o economista Mohamed A. El-Erian, famoso por ter previsto a quebra do mercado de hipotecas em 2008, quando era gestor do Fundo PIMCO, considera que o presidente do Fed, Jerome Powell, ao demonstrar uma postura avessa ao risco na reunião anual dos Bancos Centrais, semana passada em Jackson Hole, no Wyoming, “desperdiçou a oportunidade de delinear a nova política monetária”.
Como não ensaiou em JH o desenho da mudança da política adotada desde 2020 (na pandemia da Covid), El Erian não crê que o faça no comunicado após a reunião do Fed em 17 de setembro. Assim, Powell teria deixado para o seu sucessor a tarefa de resenhar a política monetária americana e sua influência na economia mundial. Como até maio ainda decorrerão nove meses, Powell perdeu uma gestação monetária.
Dólar segue em baixa
Nos mercados, o dólar continua enfraquecido ante as principais moedas. O euro sobe 0,32% e a libra esterlina 0,17%. Iene e franco suíço avançam. No Brasil, o dólar era negociado, às 12:45 (horário de Brasília) a R$ 5,4110, uma baixa de 0,12%. Nos últimos 30 dias o real valoriza 3% e o ganho sobre o dólar chega a 4% em um ano. Ou seja, a cotação atual mostra recuo sobre agosto de 2024, o que tende a desacelerar os preços de produtos transacionados com o exterior. O Contrato futuro do café para entrega em dezembro tem queda de 1,79% nesta quinta-feira, mas acumula alta de 25,47% em 30 dias, mostrando que a inclusão da “commodity” no tarifaço de 50%, está prejudicando o consumidor americano.
Em compensação, embora a Argentina tenha ficado isenta do tarifaço, o comportamento da moeda não mostra vantagem para o governo Milei. O peso argentino apesar da queda de 0,77% do dólar hoje, apresenta perdas seguidas: o dólar sobe 3,85% em um mês e 41% em 12 meses.