O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Deflação não tira cautela de Itaú e Bradesco

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Publicado em 26/08/2025 às 15:06

Alterado em 26/08/2025 às 18:29

Energia elétrica residencial, com baixa de 4,95%, veio acima das expectativas, devido a bandeira vermelha 2 Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Com deflação de 0,14% (a primeira desde 2023), o IPCA-15 de agosto veio acima da projeção do Itaú (-0,25%, dos -0,22% do Bradesco e da mediana das expectativas do mercado (-0,20%). Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 5,0%, ante 5,3% em julho. Mesmo com o bônus de Itaipu a energia elétrica residencial, com baixa de 4,95%, veio acima das expectativas, devido a bandeira vermelha 2. E os dois bancos ainda veem pressões inflacionárias

Outras surpresas altistas vieram de Educação (+0,78%). Na volta às aulas os cursos subiram, em média, 0,80%, sendo de +0,98% nos cursos regulares puxados pela alta de 1,85% em cursos de idiomas. Apesar da Alimentação e Bebidas ter baixado 0.53%, com quedas de carnes (-0,94%), manga (-20,77%), arroz, tomate, cebola e batata-inglesa (-18,3%), que fizeram a alimentação em domicílio cair 1,02%, a comida fora de casa subiu 0,71%, puxada por lanche (+1,44%) e refeição (+0,40%), reajustes facilitados pelo afluxo de turistas.

Saúde e Cuidados Pessoais tiveram alta de 0,64%, liderada pelo aumento de 1,07% nos itens de higiene pessoal, que pesou 0,04 p.p. no IPCA-15) e pela alta de 0,51% em plano de saúde (+0,02 p.p). No grupo Despesas Pessoais (1,09%), destaca-se o reajuste nos jogos de azar (11,45%), em vigor desde 9 de julho. Além de gerar inflação, a febre de apostas tira recursos do consumo e endivida as famílias. Só em julho, com o último aumento nas alíquotas das “bets”, a Receita arrecadou R$ 760 milhões.

Em relação aos núcleos, o Itaú identifica que os serviços subjacentes vieram acima das expectativas puxados por alimentação fora do domicílio, enquanto industriais subjacentes vieram acima das expectativas puxados por higiene pessoal. Os itens que repetem a variação do IPCA-15 para o IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 3 bps acima da projeção do Itaú.

Itaú mantém IPCA de 5,1% em 2025

Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes aceleraram para 5,8% (de 5,3%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou para 2,9% (de 2,5%). Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou, segundo o Itaú, para 4,2% (de 4,3%).

Para o Itaú, o IPCA-15 mostrou surpresa altista disseminada em serviços e serviços subjacentes, interrompendo a tendência de queda das últimas divulgações e reforçando o impacto altista do mercado de trabalho apertado sobre a inflação. Por isso, o banco manteve a expectativa de inflação de 5,1% para o ano, com serviços subjacentes próximos de 7%. E prevê Selic em 15%.

Bradesco vê IPCA menor e Selic em 15%

Na visão do Bradesco, a média dos núcleos teve avanço de 0,30% em agosto, ritmo semelhante ao do mês anterior (0,31%). No acumulado de 12 meses, a média dos núcleos registra alta de 5,07%. O núcleo que melhor antecipa as variações do IPCA desacelerou para 4,15% nos últimos três meses.

“O IPCA-15 de agosto ficou acima do esperado, com serviços mais pressionados por diversos itens mais voláteis. O resultado não altera nossa visão para o grupo, que deve encerrar o ano próximo de 6,0%. No segmento de bens industriais continuamos a observar um comportamento baixista, assim como nos preços de Média dos Núcleos alimentação”. No cenário de desaceleração econômica à frente, o Bradesco continua a enxergar o arrefecimento da inflação para o fim desse ano e ao longo de 2026.

O banco prevê que o IPCA de 2025 feche em 4,9% e o de 2026 em 3,8%. Por isso, o banco de onde era diretor Tesoureiro o atual diretor de Política Monetária, Newton Davi, estima que a Selic feche o ano a 15%, mas caia para 11,75$ em 2026, com nível bem inferior aos 12,50% da Pesquisa Focus.

Trump ameaça todo o Fed

A tentativa do presidente Trump de demitir Lisa Kook, uma das 12 governadoras do Federal Reserve Bank, é o passo mais dramático até agora em seu esforço para assumir o controle do banco central independente e sua vasta autoridade sobre as taxas de juros, revela o “Wall Street Journal”.

Trump, há meses, exige que o Federal Reserve reduza as taxas de juros para impulsionar a economia, tornar a habitação mais acessível e reduzir o custo do serviço da dívida nacional. Ele castigou o presidente do Fed, Jerome Powell, por não agir mais cedo para cortá-los. Ao substituir Cook, uma economista negra, que se recuso a abreviar seu mandato que vai até 2038, ele poderia adicionar vozes suficientes ao conselho de governadores de sete membros para potencialmente superar Powell e mover as taxas de juros ruma ao nível de queda desejada.

Como se vê, a próxima reunião do “Federal Open Market Committee” -FOMC, o órgão de decisão do Fed, marcada para 17 de setembro, será cercada de muita pressão sobre os conselheiros, em especial sobre Powell, o que deixará os mercados em expectativa e alta volatilidade. Hoje nos mercados de câmbio, o dólar cai ante as principais moedas, mas é cotado às 13 horas (horário de Brasília) a R$ 54310, com alta de 0,31%. O contrato de petróleo tipo Brent para entrega em dezembro cai 2,10% e o contrato tipo C do café tem baixa de 1,94%.

Na B3, as ações do Banco do Brasil e Santander operam em alta, mas Itaú Unibanco cai quase 1% e Bradesco tem queda em torno de 0,70% e BTG-Pactual cai 0,67%, refletindo insegurança sobre a aplicação da Lei Magnitsky a uma semana da retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus principais aliados nas tramas para tentativa de golpe de Estado.

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