O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Petrobras investe mais, reduz dividendo e ação cai

Publicado em 08/08/2025 às 15:13

Alterado em 08/08/2025 às 15:13

Com investimentos que somaram US$ 8,5 bilhões no primeiro semestre, um aumento de 32,0% em relação ao mesmo período de 2024 (em parte porque a taxa de câmbio apreciada em reais distorceu o real aumento em reais), a Petrobras, que lucrou R$ 26,7 bilhões, queda de 24,2% frente ao primeiro trimestre, reduziu o total a ser distribuído em dividendos referentes ao 2º trimestre (R$ 8,66 bilhões ou US$ 1,6 bilhão). Esse valor, bem abaixo das projeções do mercado (US$ 1,8 bilhão a US$ 2,1 bilhões), provocou frustração dos investidores e uma queda de 4,525 nas ações PN, às 12;40, zerando a variação do Ibovespa.

Olhando o balanço em dólar (pois a dívida da empresa é basicamente em dólar e seu principal produto, o petróleo, é cotado em dólar e influi na maior parte do faturamento) verifica-se investimentos de US$ 4,4 bilhões no segundo trimestre, com aumento de 9,0% sobre o primeiro período do ano. Mas a dívida líquida (US$ 319,590 bilhões), só encolheu 0,7% no trimestre.

O segmento Exploração e Produção com US$ 3,7 bilhões, concentrou 84% dos investimentos, com foco em: (i) desenvolvimento da produção do polo pré-sal da Bacia de Santos (US$ 1,7 bilhão), com destaque para os investimentos no “ramp-up” do FPSO Almirante Tamandaré (Búzios 7) e o avanço na construção de novos FPSOs no campo de Búzios (Búzios 6, 8, 9 e 11); (ii) desenvolvimento da produção do pré e pós-sal da Bacia de Campos (US$ 0,9 bilhão); e (iii) investimentos exploratórios (US$ 0,5 bilhão).

No segmento Refino, Transporte e Comercialização, os investimentos no trimestre somaram US$ 0,51 bilhão, um aumento de 26,5% em relação ao primeiro. Os destaques foram a conclusão da obra de ampliação da capacidade (REVAMP- Vale do Paraíba), do Trem 1 da refinaria Abreu e Lima - PE, no final de março, e o início da operação da unidade de hidrotratamento de diesel (HDT) da Refinaria de Refinaria de Paulínia-SP, em maio.

A companhia destaca ainda “a entrada em operação, no segundo trimestre, do FPSO afretado Alexandre de Gusmão (Mero 4), cujo contrato de arrendamento totaliza US$ 1,1 bilhão parcela Petrobras). Assim como as unidades próprias, os FPSOs afretados são reconhecidos no ativo da Companhia e constituem esforço de investimento para ampliação da capacidade produtiva com novas unidades, embora não sejam considerados na rubrica de Capex”

As razões da cautela

A turbulência no comércio mundial com o tarifaço de Donald Trump mexe fortemente com o câmbio e as cotações das “commodities”, sobretudo o petróleo e demais combustíveis derivados. As dimensões gigantescas do pré-sal, onde a companhia concentra investimentos pela extração a baixo custo (US$ 20,16) por barril no 2º trimestre, baixa de 11% frente ao primeiro) e cujo potencial exploratório pode ser ampliado com a mega descoberta da BP na Bacia de Santos, a 404 km do litoral, são a maior garantia dos investimentos.

No passado, os impactos da crise financeira mundial de 2008 ocorreram deprimindo os preços do barril, quando a empresa estava muito endividada, apostando – como todas as petroleiras – que o barril estaria hoje acima de US$ 200 (estava cotado hoje a US$ 65,85, contra US$ 67,82 na média do trimestre).

Stephen Miran, o Galípolo de Trump no Fed

Com a renúncia da governadora do Federal Reserve Bank, Adriana Kugler, que desistiu de pleitear novo mandato, que expirou hoje, 8 de agosto, o presidente Donald Trump está adotando de modo inverso – pela direita – a estratégia do presidente Lula de mudar a orientação do Banco Central, com a indicação de Gabriel Galípolo para a importante diretoria de Política Monetária, em julho de 2023, ainda na presidência de Roberto Campos Neto.

Em setembro de 2023, Galípolo deu sequência às criticas de Lula aos juros altos (a Selic estava estacionada em 13,75%,ao ano desde agosto de 2022), provocou forte discussão que dividiu ao meio o Comitê de Política Monetária e coube a Campos Neto desempatar em 5 X 4 pela redução da Selic em meio ponto, na reunião de 8 de agosto, para 13,25%, dando início ao processo de baixa dos juros até 10,50% em maio do ano passado.

A partir daí, com as ameaças de mudança nos Estados Unidos com Trump favorito nas eleições de novembro, a forte alta do dólar e os reflexos inflacionários levaram a Selic a 15%, já com Gabriel Galípolo na presidência de um BC renovado desde 1º de janeiro de 2025.

Trump não fez por menos, contrariando as apostas de que o próximo presidente do Fed (o mandato de Jerome Powell termina oficialmente em maio de 2026) pudesse ser o atual diretor Christopher Waller, que defendeu corte de juros em 0,25% este mês, ou o conselheiro econômico Kevin Hassett, e o ex-diretor do Fed Kevin Warsh, ele nomeou Stephen Miran. Judeu ortodoxo, Miran foi o principal conselheiro de Trump para a política de restrição a imigrantes nos EUA e pode fazer o trabalho de ampliar a divergência no Fed e enfraquecer a posição dogmática de Powell.

Os dados mais fracos da economia em julho, já recomendavam (na visão dos analistas econômicos) redução de 0,25% no atual nível de juros – 4,25% a 4,50% ao ano -, na reunião de 17 de setembro. Mas Trump, certamente, vai aproveitar a decisão para fustigar Jerome Powell, com ajuda de Miran e Waller.

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