
O OUTRO LADO DA MOEDA
Preços caem no atacado quando chegam ao consumidor?
Publicado em 07/08/2025 às 17:37
Em análise sobre a “Dinâmica recente dos preços no atacado e implicações para o IPCA”, a economista Mariana Silva de Freitas, do Departamento de Estudos Macroeconômicos do Bradesco, assinala que “os preços no atacado, medidos pelo IPA, têm apresentado uma trajetória desinflacionária consistente e generalizada nos últimos meses”. Segundo a economista, “esse movimento, inicialmente concentrado nas matérias-primas, vem se expandindo de forma disseminada para bens intermediários e finais, sinalizando uma transmissão eficiente da desinflação ao longo da cadeia produtiva”.
Resta saber quando chegará ao consumidor e se refletirá na queda do IPCA, ainda acima de 5% (o teto da inflação é 3,00%+tolerância de 1,50%=4,50%). O IBGE divulga o IPCA de julho, terça-feira, 12 de agosto. A estimativa do mercado é de uma alta mensal do IPCA entre 0,34% e 0,36%. Já o IGP-M teria queda de 0,55%. Para agosto, a expectativa é deflação (-0,05%) no IPCA e de alta de 0,27% a 0,23% no IGP-M.
Segundo o estudo, “a trajetória recente dos IPAs reflete a descompressão do câmbio e diversas commodities desde o início do ano. Até junho, o IC-Br (índice de commodities em reais do Banco Central) acumula queda de 9,3%, variação semelhante à apreciação do real neste período. Commodities agrícolas relevantes acumulam queda no mercado doméstico, com destaque para milho, arroz, café e boi, levando o IPA Agrícola à deflação desde maio.
Do lado industrial (..,) houve queda em itens de grande peso na indústria extrativa, como minério de ferro e petróleo, que já se espalha para insumos manufaturados importantes, como metalúrgicos e químicos. Com isso, de janeiro a julho, o IPA-M acumula queda de 3,8%. No acumulado em 12 meses, a inflação saiu de 10% no pico, em março, para próximo de 2%, atualmente.
Esse alívio de custos tende a reforçar o processo de desinflação de bens em curso no IPCA. Nossos modelos indicam que um aumento de 1 p.p. no IPA de bens finais eleva o IPCA industrial em 0,8 p.p., enquanto choques de mesma magnitude no IPA de bens intermediários geram impacto de 0,4 p.p. Após 6 meses, cerca de dois terços do choque de bens finais e metade do choque de intermediários é repassado ao IPCA, destaca o estudo.
O cenário-base do Bradesco, que conta com uma estabilização das commodities em reais em níveis próximos ao atual, prevê uma dissipação do processo de deflação do IPA nos próximos meses e um alívio para os bens industriais do IPCA neste segundo semestre, acumulando alta próxima de 3,2% em 2025. “Caso os bens intermediários do IPA mantenham o ritmo desinflacionário atual, estimamos um impacto baixista de 0,6 p.p. para a inflação de bens industriais até dezembro, com efeito próximo de -0,12 p.p. no IPCA cheio. Neste cenário, o IPA-DI encerraria o ano com deflação superior a 2%. A reversão das quedas de alguns itens deve levar o IGP-M para campo positivo em agosto, mas o índice deve encerrar o ano em patamar historicamente baixo. Considerando nossa premissa de câmbio em R$/US$ 5,50 ao final do ano, projetamos atualmente alta próxima de 1% para o indicador em 2025, desaceleração relevante em relação aos 3% até julho”.
Esse alívio de custos tende a reforçar o processo de desinflação de bens em curso no IPCA. Nossos modelos indicam? que um aumento de 1 p.p. no IPA de bens finais eleva o IPCA industrial em 0,8 p.p., enquanto choques de mesma magnitude no IPA de bens intermediários geram impacto de 0,4 p.p. Após 6 meses, cerca de dois terços do choque de bens finais e metade do choque de intermediários é repassado para o IPCA, com metodologia diferente dos IGPs.
Nosso cenário-base, que conta com uma estabilização das commodities em R$ em níveis próximos ao atual, prevê uma dissipação do processo de deflação do IPA nos próximos meses e um alívio para os bens industriais do IPCA neste segundo semestre, acumulando variação próxima de 3,2% em 2025. Porém, caso os bens intermediários do IPA mantenham o ritmo desinflacionário atual, estimamos um impacto baixista de 0,6 p.p. para a inflação de bens industriais até dezembro, com efeito próximo de -0,12 p.p. no IPCA cheio. Neste cenário, o IPA-DI encerraria o ano com deflação superior a 2%.
A reversão das quedas de alguns itens deve levar o IGP-M para campo positivo em agosto, mas o índice deve encerrar o ano em patamar historicamente baixo. Considerando nossa premissa de câmbio em R$/US$ 5,50 ao final do ano, projetamos atualmente alta próxima de 1% para o indicador em 2025, desaceleração relevante em relação aos 3% acumulados até julho.
IC-Br confirma cenário baixista
O Banco Central divulgou hoje o IC-Br, o índice de preços das “commodities” em julho, confirmando baixa no índice composto de 0,54% em reais (em dólar -0,26%). Os produtos agropecuários caíram 1,10% em reais e -0,82% em dólar. Os metais subiram 2,65% em reais e 2,93% em dólar. Na energia, quedas de -2,01% e -1,76%, respectivamente.
Balança melhora antes de piorar
Já a balança comercial de julho foi mais forte do que o projetado, com superávit de US$ 7,1 bilhões. A surpresa altista foi concentrada nas exportações, que somaram US$ 32,3 bilhões, 4,8% acima do total de julho de 2024, pelo desempenho mais forte em bens manufaturados. Destaque para o aumento das exportações de milho, devido ao avanço da colheita no último mês, que deve prosseguir em agosto e setembro.
Com as idas e vindas do tarifaço, deu tempo para acelerar as exportações de alguns produtos para os Estados Unidos, como ferro/aço e aeronaves, indicando alguma antecipação ao aumento das tarifas que entraram em vigor em 6 de agosto. Nos produtos alimentícios, contudo, o movimento não ocorreu.
Já as importações somaram US$ 25,2 bilhões, com crescimento de 8,4% sobre o mesmo mês de 2024, também puxadas pelo desempenho mais forte em bens manufaturados. Com isso, a balança comercial acumula superávit de US$ 62,1 bilhões em 12 meses. Segundo o Itaú, a média móvel de três meses dos dados dessazonalizados e anualizados da balança está em +US$ 59,8 bilhões, com a ponta avançando para US$ 70,7 bilhões.
Apesar do caos gerado pelo tarifaço, o Itaú viu melhora nos termos de troca em julho, com o preço das exportações crescendo 1,6% sobre junho com ajuste sazonal (-2,1% a/a) e o preço das importações crescendo 0,5% m/m (-0,2% a/a).