
O OUTRO LADO DA MOEDA
Qual o limite da queda do dólar?
Publicado em 06/08/2025 às 14:26
Alterado em 06/08/2025 às 14:26
Com a crescente aposta de que o Federal Open Market Committee -FOMC, o órgão de decisão da política monetária dos Estados Unidos vai cortar os juros na próxima reunião de 17 de setembro, no primeiro dia de vigência da nova escalada do tarifaço dos Estados Unidos, que atinge as exportações brasileiras fora da lista de exceção, com tarifas de até 50%, o dólar tem queda em todo o mundo.
No Brasil, que deve só baixar a taxa Selic (hoje em 15% ao ano) em dezembro ou em janeiro de 2026, a perspectiva de alta no diferencial entre os juros do Tesouro brasileiros X o Tesouro dos EUA, fez o dólar cair 0,46% na parte da manhã, quando era negociado a R$ 5,4815 (às 11:50). Nos últimos 12 meses, o dólar cai 0,47%. Em uma semana a baixa supera os 2%. Em três meses o dólar cai 4,08% e 4,88% em seis meses.
O movimento nas “commodities” também mostra acomodação. O barril do petróleo Brent para entrega em outubro tem queda de 1%, cotado a US$ 68,33. O ouro negro do Brasil, o café, que está, até aqui, salvo pressão dos torrefadores americanos, sujeito à tarifa de 50%, tem nova queda no Contrato C para entrega em setembro, com queda de 1,82%. Em três meses a cotação já recuou 24,70% e a baixa em seis meses chega a 27,40%.
O euro sobe 0,51% por volta das 11:40 (horário de Brasília) e acumula alta de 2% em uma semana. O dólar cai 0,20% frente ao iene, com baixa de 1,48% em uma semana. Até o franco suíço, atingido pelas tarifas de 39% sobre as exportações do país aos EUA, se recuperou e sobe 0,04% no dia e 0,80% na semana. Os operadores se perguntam até onde irá a queda do dólar.
JP Morgan é pessimista para dólar!
Em março, o JP Morgan Global Research apresentou uma postura pessimista em relação ao dólar (a primeira em quatro anos) — uma visão que mantém para o médio prazo. "Esperamos uma maior desvalorização do dólar este ano, baseada na mesma combinação de fatores cíclicos (incluindo moderação e tarifas dos EUA) e estruturais (como avaliações, política fiscal, dinâmica de fluxos e incerteza política) que temos discutido há vários meses", disse Meera Chandan, codiretora de Estratégia Global de Câmbio do JP Morgan.
Há muitas dúvidas: em meio à volatilidade da moeda: o dólar americano recuperará sua força? Diante da incerteza tarifária atual, o dólar continuará em tendência de queda? E qual é a perspectiva para outras moedas importantes? Espera-se que a moderação dos EUA seja negativa para o dólar, e tarifas amplas podem amplificar a tendência de baixa do dólar
Neste contexto, a perspectiva para o euro é otimista, impulsionada por fatores de médio prazo, incluindo a moderação do crescimento dos EUA e o apoio fiscal alemão. Tanto a política fiscal quanto a monetária podem continuar a pesar sobre a libra em relação ao euro, mesmo que ambas possam subir em relação ao dólar. Embora o iene japonês tenha se desvalorizado em relação à maioria das moedas do G10, a JP Morgan Global Research permanece modestamente otimista em relação ao JPY em relação ao US$.
A previsão é que o par GBP/USD atinja 1,37 em setembro de 2025, 1,36 em dezembro de 2025, 1,39 em março de 2026 e 1,37 em junho de 2026. A previsão é que o par EUR/USD atinja 1,19 em setembro de 2025, 1,20 em dezembro de 2025 e 1,22 em março e junho de 2026. A previsão é que o par USD/JPY atinja 141 em setembro de 2025, 140 em dezembro de 2025 e 139 em março e junho de 2026.
LCA: Fed cortará juros antes do Copom
Na reunião do comitê de política monetária (FOMC), da semana passada, o banco central dos Estados Unidos (Fed) reafirmou a avaliação de que "as condições no mercado de trabalho permanecem sólidas" no país. Mas o relatório de julho do mercado de trabalho, divulgado dois dias após a reunião, contradisse essa avaliação: a criação de empregos em julho foi fraca; e os números relativos a maio e junho foram revistos para bem pior, com marcante esfriamento do mercado de trabalho. Contrariado, o presidente Trump demitiu a cúpula do Departamento de Estatísticas do Trabalho (o IBGE americano)
Com isso, os contratos futuros de juros passaram a precificar probabilidade claramente preponderante de que o Fed vá começar a reduzir sua taxa básica de juros em setembro, antes do esperado. O relatório semanal da LCA 4Intelligence prevê que o FED começará a reduzir a “Fed Funds Rate” em setembro, mas projeta que a seguir a flexibilização será mais lenta, com um corte de 25 pontos-base a cada duas reuniões do FOMC.
Nesse ritmo, a política monetária será conduzida a terreno neutro na virada de 2026 para 2027. Um esfriamento mais rápido do emprego (aumentaria a pressão do presidente Trump sobre Jerome Powell) e poderia levar o Fed a normalizar a política monetária em ritmo mais rápido. Assim, analisando a ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, na qual o Copom entende que o "cenário prospectivo de inflação segue desafiador em diversas dimensões", a LCA prevê que a taxa básica Selic só será reduzida em 2026.
Como ficam os investimentos?
Com a Selic em 15% ao ano, com rendimento bruto de 1,28% em junho e a previsão do Itaú de que o CDI continue a render 1,16% ao mês, as aplicações financeiras sem risco estão rendendo quase o triplo da inflação esperada (0,24% em junho; a prévia do IPCA de julho, que o IBGE divulga dia 12, foi de 0,33%), vê-se que era justa a intenção do Ministério da Fazenda de buscar parte dos ganhos extras com o IOF. Em junho a Selic e o CDI tiveram ganhos reais de 0,81% e 0,79%. Há um ano esse era o rendimento bruto do CDI. Com a inflação acima de 0,50%. Houve, portanto, um ganho real extraordinário.
O dólar subiu 2,66% em julho, com ganho real de 2,18%, mas trouxe dissabores a quem pegou o cometa em descenso. A perda em um ano é de 0,47% e de 4,08% em três meses. A poupança teve desempenho real quase neutro (0,21%). Pior foi o desempenho do Ibovespa (queda de 4,17%, ou seja, uma perda real de 4,62% (tomando por base o IPCA-15. Em julho, só ativos de alto risco, como o ouro e criptomoedas superaram largamente a inflação.
Ainda será preciso medir bem os impactos setoriais e empresariais do tarifaço na economia e nas empresas brasileiras. Por isso, o refúgio na rende fixa é mais seguro e rentável.