
O OUTRO LADO DA MOEDA
BC do Chile corta juro por tarifas; e Fed e Copom?
Publicado em 30/07/2025 às 15:27

A decisão do presidente Trump de elevar a 50% as tarifas de importação sobre o cobre chileno, a partir de 1º de agosto, levou o Banco Central do Chile a reduzir, em decisão unânime, a taxa básica de juros em 25 pontos-base, para 4,75%, na primeira alteração da taxa este ano. No comunicado, embora ressalte que o cenário doméstico continua evoluindo conforme o previsto, o BC chileno fez breve menção às tarifas sobre o cobre. O cobre é o principal produto da economia chilena (maior produtor mundial) que abastece 51% da demanda americana. O Bradesco espera nova redução para deixar a taxa em 4,50% até o final do ano.
A reação dos bancos centrais ao tarifaço – o Banco Central Europeu pausou este mês a redução dos juros do euro (que caiu de 4% para 2% em um ano), em função de aguardar o impacto das tarifas na desaceleração da economia – terá uma prova de fogo logo mais na reunião do Federal Open Market Committee (FOMC) o órgão de deliberação do Federal Reserve após os dados mais fortes do PIB americano no 2º trimestre (a taxa cresceu 3% sobre o mesmo período de 2024, após cair, na mesma base de comparação, 0,5% no 1º trimestre. Os economistas dizem que os dois dados foram afetados pela variação dos estoques de produtos de importação (que agora geraram efeito positivo no PIB).
As sanções da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e outros ministros do Supremo Tribunal Federal, à véspera do tarifaço, tornam mais complexa as negociações comerciais, indicando um viés do governo Trump contra os governos de tendência esquerdista na América Latina (à parte Cuba, Venezuela e Nicarágua) entraram na mira, Brasil, Chile e Colômbia.
Mas os dados complementares – força na criação de empregos e preços ao consumidor mais moderados - mostraram a economia mais forte, indicando que o Fed deve ser cauteloso e manter as taxas de juros na faixa de 4,25% a 4,50% ano, apesar das pressões de Donald Trump para que Jerome Powell baixe os juros para estimular a economia. Na queda de braços, o presidente ameaça até encurtar o mandato de Powell, que acaba em maio de 2026.
No Brasil, o Bancoc Central terá mais de três horas (até às 18:30) para aguardar o cenário do Fed e tomar sua decisão. Os mercados esperam a manutenção dos juros, mas aguardam o tom dos comunicados para o futuro.
Com cenário mais parecido ao do Chile – tarifas de 50% para todos os produtos, mas com dependência menor da economia como um todo às exportações para os Estados Unidos (exceto café, suco de laranja, sucos de frutas, como açaí e manga, ferro-gusa), o Brasil, que tem como seus maiores clientes a China e a União Europeia, é menos vulnerável às retaliações americanas. Terão mais impacto setorial e regional. Alguns estados dependem muito das exportações para os EUA, como o Espírito Santo (café robusta e celulose), Ceará (ferro-gusa e calçados) e Minas Gerais (café e ferro-gusa).
Brasil perde força no Santander
Com o aumento de 7,4% nas provisões para devedores duvidosos no 2º trimestre, que somaram R$ 6,862 milhões, o Santander Brasil fechou o período abril-junho com lucro líquido gerencial de R$ 3,659 bilhões, uma redução de 5,2% frente ao 1º trimestre. No semestre o ganho acumulado foi de R$ 7,872 bilhões (um aumento de 19,2% sobre igual período do ano passado.
Mas o desempenho da filial brasileira – uma das maiores operações do grupo de Ana Botin no mundo – embora tenha mantido a segunda posição no lucro trimestral (3,4 bilhões de euros) e no resultado semestral (6,8 bilhões de euros) caiu muito na avaliação global, considerando os impactos das moedas. O Brasil, que já respondeu por mais de 30% do lucro do Santander no mundo, caiu para 14,38% no 1º trimestre e 14,65% no 2º, à frente dos 12,41% e 12,33%, respectivamente, dos Estados Unidos. A Espanha ficou com 32,67% e 33,13% no ganho global.