
O OUTRO LADO DA MOEDA
Como ficaram as tarifas de Trump
Publicado em 29/07/2025 às 14:32
Alterado em 29/07/2025 às 14:32

O “Wall Street Journal”, ao analisar o que o presidente Trump conquistou até agora no jogo das ameaças tarifárias, afirma que “Trump conseguiu algo extraordinário: aumentou as tarifas em mais do que o famoso Smoot-Hawley Tariff Act de 1930, ao mesmo tempo em que (ao que parece) evitou a destrutiva guerra comercial que se seguiu e levou o mundo a aprofundar a grande depressão, que começou com o crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929”.
Considerando o acordo com a União Europeia, os EUA imporão uma tarifa efetiva de cerca de 15% aos seus parceiros comerciais, em 1º de agosto, a mais alta desde a década de 1930, segundo o JPMorgan Chase. Além de abrir seus mercados, o Japão e a EU se comprometeram a investir US$ 1,15 trilhão nos EUA. A Europa também concordou em comprar energia e armamentos.
A Lei, de autoria do senador Reed Smoot e do deputado Willis C. Hawley, entrou em vigor em 17 de julho de 1930 e aumentou as tarifas sobre mais de 20.000 produtos importados num esforço para proteger as indústrias americanas da concorrência estrangeira na Grande Depressão, iniciada em outubro de 1929. Mas os países impuseram tarifas retaliatórias aos produtos americanos, o que diminuiu o comércio global e piorou as condições económicas na Grande Depressão. Por isso, o WSJ adverte que as políticas comerciais protecionistas podem ter consequências negativas não intencionais.
As lições da história
Sem parceiros para comerciar, os Estados Unidos só começaram a romper a Grande Depressão quando o presidente Democrata Franklin Delano Roosevelt foi eleito e tomou posse em março de 1933, quando lançou o New Deal. O ambicioso projeto de gastos em infraestrutura doméstica abriu milhares de empregos e reativou a economia americana. A modernização da economia americana foi muito importante quando o país entrou de forma decisiva nas forças aliadas para combater as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) na segunda grande guerra.
Nação vencedora depois de 1945, com a Europa ocidental e o Japão destruídos, e a União Soviética ocupando as nações do Leste Europeu, onde derrotou e expulsou as tropas nazistas de Adolf Hitler, os EUA viram-se sem parceiros no pós-guerra. A solução foi criar o Plano Marshall para recuperar a infraestrutura e as fábricas da Alemanha, Itália, França, Reino Unidos, Holanda e Bélgica e assim também neutralizar o avanço do comunismo.
Agora, Trump tenta reverter os passos da globalização que levou as principais fábricas dos EUA (e em parte da Europa e do Japão) a transferirem, desde o final do século passado, linhas de produção para a China e países asiáticos onde a mão de obra e os custos de produção eram mais baratos. Ou seja, os maiores déficits comerciais foram causados pelas matrizes americanas (casos de Taiwan e Vietnã, onde a Nike e a Lululemon, que passaram a produzir para o mundo, são os maiores exemplos).
Dos grandes mercados causadores de déficits comerciais expressivos aos Estados Unidos, ainda restam o complexo acordo com a China, cujas tratativas vão se estender até 12 de agosto e o Brasil – um caso à parte, onde a interferência do filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro junto ao governo Trump misturou razões comerciais inexistentes (há 15 anos o Brasil acumula saldo comercial de US$ 410 bilhões pró EUA) com intromissão na soberania da Suprema Corte brasileira, com a pressão de Trump para a suspensão “ “IMEDIATA” do julgamento pela tentativa de golpe no Estado Democrático de Direito.
Possibilidade de negociação
As economias americanas e brasileira, apesar da escala diminuta do Brasil, são concorrentes em algumas áreas (mercados de soja, carne bovina, de frango, celulose e açúcar e álcool) e sobretudo complementares em café, suco de laranja, frutas e ferro e aço, motores e autopeças, aviação e petróleo.
Por isso, surgiu uma luz no fim do túnel quando o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, informou que as pressões internas dos setores que processam alimentos e manufaturas provenientes do Brasil, mas que não têm correspondência interna dos produtores americanos, podem ficar numa lista de tarifas zero, para evitar impacto inflacionário nos consumidores. Pode não evitar o dano em curso, com vendas suspensas. Mas, indica a abertura de canal de negociação. O que ainda não ocorreu porque Trump cuida do Brasil.
Estariam nesse caso matérias-primas naturais, como o café, o cacau, e sucos de frutas processados por fábricas americanas como o suco de laranja, açaí, manga e uvas de mesa, além de melões e melancias, presentes no café da manhã. Poderia haver exceção para a celulose de fibra curta (de eucalipto, produzida pelo Brasil e que tem uso em papel higiênico e embalagens) e ferro-gusa e outros bens que são insumos da indústria de transformação americana.
Nos cinco primeiros meses do ano, até 28 de julho, as vendas de café somaram US$ 8,1 bilhões, num aumento de 48,9% sobre igual período de 2024. Os EUA respondem por cerca de 48% das compras de café brasileiro. Os embarques de carne bovina somaram US$ 7,9 bilhões, num aumento de 33% Os embarques de ferro e aço somaram US$ 3,3 bilhões, com aumento de 15% sobre o mesmo período do ano passado, mas em julho as vendas já caíram mais de 45% frente a junho. Os embarques de celulose caíram 29%.
A distância entre a ameaça e o acordo, segundo o levantamento do WSJ mostra o espaço importante para a negociação, que precisa do empurrão decisivo dos empresários de ambos os países sobre a classe política.
Preços oscilam na semana decisiva
A especulação com moedas e produtos na semana decisiva do tarifaço foi muito forte. De um modo geral o dólar se valorizou ante as principais moedas, As commodities tiveram forte queda conforme boatos de menor tarifa. O real valorizava 0,435 contra o dólar às 13:45 (horário de Brasília) e reverteu a queda na semana após as informações de flexibilização dos EUA. O café reverteu o processo de queda que era de 2,224$ na parte da manhã, para uma baixa de 0,94% às 13:45. O suco de laranja caía 6,15% no dia e 7,80% em uma semana.