O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Ganância e indexação no IPCA-15

...

Publicado em 25/07/2025 às 16:03

Alterado em 25/07/2025 às 16:03

Um dos fatores de indexação que impactaram o IPCA-15 de julho veio dos reajustes de 19,86% e 0,11 p.p. nas passagens aéreas Foto: divulgação

A prévia da inflação de julho, com alta de 0,33% no IPCA-15, acima da variação de 0,26% registrada em junho, comporta duas leituras, mas ambas na direção positiva. Embora a taxa em 12 meses tenha subido de 5,27% em junho para 5,30% em julho, decompondo os fatores de altas e baixas. Nota-se tendência de queda da inflação, expressa pela desaceleração dos núcleos e a consolidação da baixa dos preços dos alimentos (-0,06%, após -0,02% em junho e queda de 0,40% na alimentação em domicílio (-0,24% em junho).

Como observou o Itaú, “na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes desaceleraram para 5,2% (de 5,8%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou para 2,4% (de 5,1%). E a média dos núcleos desacelerou para 4,2% (de 4,8%).

Então por que a inflação foi maior, se a tendência é de queda? O principal peso na inflação preliminar de julho veio em Habitação (0,98%, menor que os 11,08% de junho) pesou 0,15 ponto percentual ou quase metade do IPCA-15, devido à alta de 3,01% em energia elétrica residencial (pesou 0,12 p.p.) no índice, mantida a vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 1, com a cobrança adicional de R$4,46 a cada 100kwh consumidos. No INPC, o índice cheio pode ter alívio com o abatimento para quem consome menos de 120 KW.

Houve ainda absorção parcial de reajustes tarifários (que incorporam, pela indexação, custos da inflação passada) de 7,36% em Belo Horizonte, de 14,19% em uma das concessionárias em Porto Alegre, de 1,97% em Curitiba e de 13,97% em uma das concessionárias de São Paulo (6,10%).

Efeitos da indexação

Outros fatores de indexação que impactaram o IPCA-15 de julho vieram dos reajustes de 19,86% e 0,11 p.p. nas passagens aéreas, revelando a ganância das companhias aéreas que se aproveitam da maior demanda nas férias. Em meses anteriores estavam reduzindo as tarifas. Outro impacto de indexação veio em Transporte por aplicativo (14,55% e 0,03 p.p.). Mesmo com as baixas em de 0,57% em combustíveis (a gasolina caiu 0,50%), o grupo Transportes acelerou de junho (0,06%) para julho (0,67%),

Despesas Pessoais subiram de 0,19% para (0,25%) devido ao reajuste nos jogos de azar (3,34%), vigente desde 09 de julho. Outros impactos vieram dos reajustes dos cigarros. Em Saúde e cuidados pessoais (0,21%), a alta de plano de saúde (0,35%) reflete os reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nos planos contratados após a Lei nº 9.656/98, o percentual é de até 6,06%, de maio de 2025 a abril de 2026. Para os planos contratados antes da Lei nº 9.656/98, os percentuais autorizados foram de 6,47% e 7,16%, a depender do plano.

Em Comunicação a taxa acelerou de 0,02% para 0,11%, pelos reajustes em telefonia celular, aparelhos e serviços de “streaming”.

Bradesco: 'inflação arrefecendo'

Ao analisar o resultado, com a ressalva das altas vinculadas ao passado, o Bradesco observou que “no segmento de bens industriais seguimos observando um comportamento benigno e a alimentação continua mostrando queda. Ganhamos maior confiança no nosso cenário de desaceleração econômica à frente– o que deve se refletir em uma inflação arrefecendo ao longo do final deste ano e durante 2026”.

Arrecadação de R$ 234,6 bi em junho

O resultado, que mostra aumento real de 6,6% sobre junho de 2024, ficou acima das estimativas de mercado (R$ 228,3 bilhões). Excluindo as receitas administradas pela Receita Federal, as entradas vieram em receitas administrada por outros órgãos (exploração de recursos naturais), que ficou acima do esperado. Na margem, a arrecadação total dessazonalizada mostrou variação mensal de +1,1% em junho.

Ao analisar os tributos em base anual, a LCA 4Intelligence destacou o crescimento de Imposto de Importação (+16,6% sobre junho de 2024 devido ao aumento do valor em dólar das importações), em IR (+9,1%) com fortes recolhimentos em rendimentos do capital e em IOF (+38,8%). As alíquotas majoradas trouxeram aumento de R$ 2,1 bilhões frente a maio. No acumulado do 1º semestre, houve crescimento real de 4,4% no total. Diante do resultado, o Tesouro reduziu em R$ 20 bilhões o contingenciamento de despesas. A LCA projeta -R$ 36,4 bilhões. para o primário do governo central em junho.

Pressão de lucros e dividendos

O temor das consequências da guerra comercial desencadeada pelo presidente Donald Trump parece ter influído na Conta Corrente do balanço de pagamento (balança comercial + serviços e rendas de capitais) que registrou déficit de US$ 5,1 bilhões em junho (3,4% do PIB em junho), contra apenas US$ 3,4 bilhões em junho de 2024.

A balança comercial foi superavitária em US$ 5,3 bilhões, enquanto serviços registraram saldo negativo de US$ 4,5 bi (-US$ 1,185 bi em transportes, -US$ 1,292 bi em viagens e -US$ 1,008 bi em aluguéis). A conta de rendas (-US$ 6,2 bi) registrou saídas acima do esperado puxada por lucros e dividendos (-US$ 3,8 bi). O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses foi de US$ 73,1 bilhões (equivalente a 3,4% do PIB), ante resultado de US$ 57,9 bi em 2024 (-2,7% do PIB). O fluxo de investimento direto no país (IDP) segue positivo em 12 meses, mas não cobriu o déficit em conta corrente. O IDP foi positivo em US$ 2,8 bilhões em junho e em 12 meses, o IDP acumula entrada de US$ 67,0 bilhões (3,1% do PIB), versus +US$ 71,1 bilhões (3,3% do PIB) em 2024.

O Itaú destaca que o Investimento Direto no País também ficou aquém do esperado, com a métrica mais estável – participação no capital excluindo lucros reinvestidos + operações intercompanias de matriz para filial – abaixo dos níveis observados nos últimos anos, ainda insuficiente para cobrir o déficit em conta corrente. O banco espera uma desaceleração das importações com a perda de fôlego da atividade doméstica. Mas, as tarifas impostas pelos EUA sobre exportações brasileiras tendem a reduzir o saldo projetado da balança comercial.

Deixe seu comentário