
O OUTRO LADO DA MOEDA
Clã faz Trump atirar no pé de Bolsonaro
Publicado em 18/07/2025 às 14:22
Alterado em 18/07/2025 às 14:36

Os movimentos do clã Bolsonaro com as ações do filho 03, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de açular políticos e autoridades do governo Trump a adotar tarifas comerciais de 50% contra o Brasil, a partir de 1º de agosto, para forçar a “anistia” ao ex-presidente, classificada como “extorsão" contra o Supremo Tribunal Federal, para interromper o processo contra o ex-presidente e o núcleo golpista de 7 acusados, levaram o ministro do STF Alexandre de Moraes a determinar, quinta-feira à noite, 17 de julho, a aplicação de tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro. O que foi feito na manhã desta sexta (18).
O filho 01, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tinha dito, semana passada, que a anistia ao pai é a saída para o Brasil escapar das sanções comerciais dos Estados Unidos. Ontem, o próprio ex-presidente, ao comentar a nova ameaça de taxação de Trump, mirando o Pix e o comércio da 25 de março (SP), se ofereceu para negociar com Trump e condicionou o fim da “taxação/sanção” à própria anistia. Hoje, após a aplicação da tornozeleira no pai, o senador sugeriu, em rede social, trocar tarifas por sanção a Moraes, mas apagou o post.
Em despacho no qual determinou à Polícia Federal a busca e apreensão de documentos na casa de Jair Messias Bolsonaro e a aplicação preventiva de tornozeleira eletrônica no ex-presidente, às vésperas do recesso do Judiciário e do Legislativo, o ministro Alexandre de Moraes assinala que Jair Bolsonaro, em entrevista coletiva, “confessou sua consciente e voluntária atuação criminosa na extorsão que se pretende contra a Justiça brasileira”, condicionando o fim das sanções comerciais à sua própria anistia.
Bolsonaro criou a lei que o incrimina
O despacho frisa que “a autoridade policial verificou o alinhamento das condutas delitivas entre Jair Messias Bolsonaro e Eduardo Nantes Bolsonaro, pois estão: 'buscando criar entraves econômicos nas relações comerciais entre os Estados Unidos da América e o Brasil, a fim de obstar o regular prosseguimento da Ação Penal nº 2.668, em trâmite nesta Suprema Corte, que visa apurar a tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022' (fls. 28, da Representação Policial)”.
O ministro acrescenta que “as ações de Jair Messias Bolsonaro [que transferiu R$ 2 milhões, via Pix, para o filho 03 atuar à vontade nos EUA] demonstram que o réu está atuando dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho, Eduardo Nantes Bolsonaro, com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado estrangeiro, por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara finalidade de coagir essa Corte no julgamento da AP 2.668/DF.”
Adiante, o relator da ação no STF destaca que “no curso das investigações, portanto, as condutas ilícitas de Eduardo Nantes Bolsonaro não só permaneceram, como também se agravaram com o auxílio direto de Jair Messias Bolsonaro, como bem apontado na investigação da Polícia Federal e nas diversas postagens em redes sociais e entrevistas na mídia
Segundo a decisão, Bolsonaro “em entrevista coletiva, sem qualquer respeito à Soberania Nacional do Povo brasileiro, à Constituição Federal e à independência do Poder Judiciário, expressamente, confessou sua consciente e voluntária atuação criminosa na extorsão que se pretende contra a Justiça brasileira, condicionando o fim da ‘taxação/sanção’ à sua própria anistia”. Esse delito pode levar Jair e Eduardo Bolsonaro a serem alvos de novo processo.
Pai e filho podem ser acusados de traição à pátria, como mencionou ontem à noite – sem citar nomes – o presidente Lula, em pronunciamento em rede nacional de rádio e tevê. O irônico é que foi o próprio ex-presidente quem sancionou a lei que incluiu a tipificação de traição à pátria no Código Penal, em 2021. No artigo 359-I do texto, classifica-se como atentado à soberania a atitude de “negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o país ou invadi-lo”. A pena prevista é de reclusão de três a oito anos.
O ministro cita, como exemplo, diversas declarações à imprensa e uma publicação de Jair Bolsonaro na qual ele divulgava uma entrevista do presidente norte-americano, Donald Trump.
“A ousadia criminosa parece não ter limites, com as diversas postagens em redes sociais e declarações na imprensa atentatórias à Soberania Nacional e à independência do Poder Judiciário, inclusive, em 11/7/2025, o réu Jair Messias Bolsonaro publicou postagem na rede social X, divulgando vídeo de entrevista do Presidente dos Estados Unidos da América”, diz trecho da decisão.
A data da publicação, dia 11 de julho, mencionada pelo ministro é a mesma em que o procedimento do PT contra Bolsonaro chegou ao STF, e que resultou nas ações da Polícia Federal (PF) contra ele na manhã desta sexta-feira. Dois dias antes, Trump havia anunciado o tarifaço contra o Brasil. Hoje, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Bolsonaro diz que Trump reagiu contra o Brasil porque o presidente Lula defendeu, no Brics, que seus membros fizessem negociações bilaterais sem uso do dólar. O uso do dólar não é obrigatório.
Dólar sobe 0,60%; Ibovespa cai 1,13%
Num dia de queda do dólar no mundo, a moeda norte-americana passou a subir depois das 11 da manhã e era negociada a R$ 5,5750, alta de 0,60% às 13h27, os principais produtos alvos das tarifas comerciais de Trump têm alta nas principais bolsas de “commodities”, com exceção do Contrato C do café para entrega em setembro, que tem queda diária de 0,89%, mas sobe 6,23% na semana. O café brasileiro responde por metade do abastecimento dos EUA.
O suco de laranja, outro produto brasileiro ameaçado de taxação, representa quase 80% do suprimento ao mercado americano, tem alta 2% no dia e de mais de 6% na semana. A soja em grão sobe 0,76% no dia e 2,55% na semana. O milho tem alta diária de 1,75% e de 3,85% na semana. O contrato do algodão sofre baixa de 0,32% no dia, mas sobe 1,69% na semana. O contrato de açúcar sobe 0,78% nesta sexta e 1,75% na semana. Outro produto com forte alta é a madeira serrada (+1,29% e 11%, respectivamente).
De certa forma, os preços das principais commodities estão antecipando não apenas problemas de suprimento nos mercados americanos com as novas rodadas de tarifaços, mas a própria desvalorização esperada para o dólar. O barril do petróleo tipo Brent para entrega em setembro cai 0,23% no dia e 1,18% na semana, cotado a US$ 69,35.