
O OUTRO LADO DA MOEDA
Bradesco vê IPCA em 5% e Selic em 14,50%
Publicado em 08/07/2025 às 14:53
Alterado em 08/07/2025 às 14:53
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco reviu ontem suas projeções para a economia este ano e no próximo. Com a desaceleração da taxa do dólar e a valorização do real causada pelo alto diferencial dos juros entre o Brasil (15%) e os Estados Unidos (4,50%), o banco prevê que o dólar feche o ano em R$ 5,50 (antes era R$ 5,70). Hoje, o dólar voltou a cair ante o real, cotado às 13:20 a R$ 5,4620, com baixa de 0,48%.
Com a menor pressão do dólar sobre os preços dos produtos transacionáveis com o exterior, o banco revisou de 5,4% para 5,0% a previsão da taxa do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em dezembro. Com o alívio nas pressões inflacionárias, mas com o índice ainda acima do teto da meta (3,00% + 1,50% de tolerância=4,50%), o Bradesco está apostando que a taxa Selic caia no final do ano para 14,50%. A última pesquisa Focus apontou 15%.
O atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton Davi, era Diretor de Tesouraria do Bradesco até ser indicado para o BC no final do ano passado. E o otimismo do Bradesco, que prevê o dólar em R$ 5,50 em dezembro do próximo ano, com o recuo do IPCA para 3,8% (dentro do teto da meta de inflação – o novo alvo do BC é 3,6%), o Bradesco está prevendo que a Selic caia para 11,75% em dezembro. A previsão da Focus foi de 12,50%, com a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis baixando a 12%.
Outras previsões
O Bradesco está prevendo que o Produto Interno Bruto vai crescer 2,1% (antes era de 1,9%) e manteve a taxa de 1,50% para 2026. Com a economia mais dinâmica, devido ao impacto da supersafra, o Bradesco reduziu de 7% para 6,6% a expectativa da taxa de desemprego em dezembro.
Outro indicador que melhorou, em função da economia mais forte, foi a previsão do déficit fiscal primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública interna), que baixou de -0,5% do PIB para -0,4% do PIB. Mas o banco manteve a previsão de que a dívida pública bruta fique em 80,2% do PIB.
Comércio perde força em maio
Tirando as vendas de combustíveis e lubrificantes, que tiveram baixa de 1,7% em maio, em função do aumento de preços nas bombas, e dos jornais, revistas e livros (-2,0%) as vendas do comércio resistiram de modo desigual em maio, com a queda de 0,2% no varejo, segundo revelou hoje o IBGE. No segundo melhor mês de vendas do comércio, as vendas de vestuário e calçados cresceram 1,1% e as de móveis e eletrodomésticos avançaram 2%.
Já as vendas do varejo ampliado (veículos, autopeças, materiais de construção) bens de alto valor, dependentes de crediário, cresceram 0,3%. Mas, como destacou o Bradesco em seu Boletim Diário de Economia, vieram “significativamente abaixo da nossa projeção (1,0%) e do consenso de mercado (1,0%).
O Departamento de Pesquisa Econômica do banco destaca que “esse desempenho ocorre após queda de 1,9% registrada em abril e deixa um carrego estatístico de-0,7% para o segundo trimestre (e de +1,2% para o ano). Na comparação interanual, as vendas ampliadas cresceram 1,1%.
Em 12 meses, o varejo restrito registra alta de 2,1%. A dinâmica mensal foi influenciada principalmente pela queda em hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,1%), que mais que compensaram as altas em tecidos, vestuário e calçados (1,1%) e móveis e eletrodomésticos (2,0%).
Veículos dão ré
As vendas de veículos surpreenderam negativamente. O segmento recuou 0,9% em relação a abril, contrariando expectativas de crescimento após os dados da Fenabrave apontarem para expansão robusta em maio com relação ao mês anterior. O comércio de material de construção recuou 0,4% no mês, enquanto o atacarejo registrou queda mais acentuada e também foi fonte de surpresa, com contração interanual de 5,1%.
Ainda assim, o varejo ex-veículos teve resultado de-0,7% (ante-0,4% em abril). Se no mês passado as vendas de automóveis foram responsáveis pela maior parte do desempeno fraco do varejo ampliado, isso não se repetiu em maio. Como resultado, os segmentos mais dependentes de renda mostraram fraqueza maior nesse mês, com queda de 1,4%, contra crescimento de 1,3% do varejo dependente de crédito.
Para o banco, “as vendas do comércio varejista vieram abaixo das expectativas, sugerindo perda de tração no segundo trimestre. As surpresas na nossa projeção foram principalmente no atacarejo e em veículos, embora relativamente pequenas. Por isso, o resultado mais fraco que o esperado não coloca pressão baixista na nossa projeção de 0,4% do crescimento do PIB no segundo trimestre e está alinhado com nossa visão de desaceleração gradual da atividade econômica.
É interessante notar que o Itaú, ao analisar o fraco resultado da balança comercial no primeiro semestre e atribuir o fato ainda às pressões de demanda do mercado doméstico por importações, projete melhora no saldo comercial neste segundo semestre com a desaceleração da economia doméstica.
Acho estranho não examinarem as correlações entre a “desinflação” na taxa de câmbio (o dólar fechou dezembro em R$ 6,50 e o Bradesco está prevendo agora que feche 2025 em R$ 5,50), que desequilibra as exportações ante as importações, e muito menos a bagunça no comércio exterior, em especial nas cadeias produtivas, com os tarifaços de Donald Trump.