O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Trump: temor só com as tarifas

Publicado em 07/07/2025 às 18:12

Da dupla manifestação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta segunda-feira – ameaça de fazer uma tarifação extra contra os países que aderirem aos Brics; e crítica, na sua rede social, ao que considera “perseguição política” contra o ex-presidente Bolsonaro, a quem considera que o julgamento correto seria o das urnas – diante da absoluta falta de capacidade de ingerência americana nos assuntos internos do Brasil, uma nação soberana, a única ameaça a temer é um tarifaço (injustificável) aos membros do Brics.

A manifestação sobre a situação jurídica de Bolsonaro – já condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral, que o tornou inelegível até 2030 e em andamento o segundo processo no Supremo Tribunal Federal contra o Estado Democrático de Direito - apenas tenta repetir, no caso brasileiro, a trajetória que o favoreceu.

Trump, embora culpado pela incitação à invasão e depredação (com mortes) ao Capitólio (o Congresso americano), em 6 de janeiro de 2020, quando o Senado, presidido por seu então vice, Mike Pence, diplomaria o presidente eleito Joe Biden e a vice-presidente eleita, Kamala Harris, faltou uma ordem escrita dele, o que facilitou escapar da Justiça, ter direito a concorrer e vencer.

A Justiça americana, ao contrário da brasileira, foi lenta e frouxa. De modo concreto, a declaração de Donald Trump pode ser comemorada pelos aliados de Bolsonaro, à parte ter sido dirigida para esvaziar o foco do encerramento da reunião do Brics, no Rio de Janeiro (o presidente foi provocado várias vezes a responder sobre a postagem de Trump, é absolutamente inócua no Brasil, pois ele não pode interferir nem tem poder algum em questões soberanas do país.

Como Lula deixou claro, na 17ª Reunião de Cúpula dos Brics, é compreensível que incomode a Trump o aumento da musculatura do Brics. O bloco começou na virada do século com o acrônimo de quatro países; Brasil, Rússia, Índia e China. Depois conquistou a África do Sul, incorporando mais um continente. E agora já conta com 11 países (com o ingresso da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Egito e Etiópia), além do pedido de adesão de mais de meia dúzia de nações.

Lula reiterou que o Brics é um bloco que busca integração de sinergias, mas, na visão de Trump, a concentração de trocas comerciais fora da interferência americana (que ameaça a tudo e todos com tarifas, - agora o prazo de vigência das novas tarifas, 9 de julho, foi adiado para 1º de agosto) e, sobretudo, com a possibilidade de abdicarem do uso do dólar como moeda de troca é que incomoda a Trump. Por isso, mirou o Brasil no dia de celebração do Brics.

Adiamento das tarifas fortalece dólar

A reação dos mercados de câmbio em relação ao adiamento da vigência do tarifaço por mais três semanas foi o fortalecimento do dólar frente às principais moedas. O euro teve queda de 0,65% frente ao dólar, que subiu 1,14% frente ao iene e 0,54% perante o franco suíço. A libra esterlina caiu 0,44% e o dólar australiano perdeu 0,99%. O dólar canadense caiu 0,57% e o peso mexicano viu o dólar subir 0,50%. O ouro tinha queda de 0,22% e o petróleo Brent futuro para entrega em setembro subia 1,29% cotado a US$ 69,21, em função do agravamento da situação política no Estreito de Ormuz.

No Brasil, o dólar subiu mais de 1,30% na parte da manhã, mas era negociado a R$ 5,4810 às 15 horas, com alta de 1,10% do dólar. Um dado do esvaziamento das cotações do dólar este ano no Brasil, diante do aumento do diferencial de juros entre o Brasil (15%) e os EUA (4,50%), que tem estimulado o “turismo financeiro” de investidores estrangeiros e de brasileiros com contas em empresas “off-shores” em paraísos fiscais, foi a queda nas exportações brasileiras diante do terreno minado pelo tarifaço de Donald Trump, que esfriou o comércio mundial.

Mas, exceto o petróleo, as principais comodities estão em queda, como o café (que hoje caiu mais de 4% em Nova Iorque), suco de laranja, soja, milho e açúcar. Isso pode ter reflexos na balança comercial, com redução no saldo comercial para US$ 30,1 bilhões no 1º semestre, contra US$ 41,6 bilhões no mesmo período do ano passado (queda de 27,6% ou US$ 11,5 bilhões).

Focus volta a prever IPCA menor

O efeito da desaceleração dos preços transacionáveis em dólar levou o mercado a prever nova queda do IPCA deste ano na Pesquisa Focus, colhida até sexta-feira e divulgada hoje. O mercado manteve a previsão do dólar em R$ 5,70 em dezembro deste ano e R$ 5,64 na mediada das respostas dos últimos cinco dias úteis) e baixou a aposta no IPCA de 5,20% para 5,18% (sendo que a mediana dos últimos cinco dias caiu para 5,16%).

O mercado manteve em 15% a previsão da Selic até dezembro, mas reduziu de 4,50% para 4,47% (na mediana dos últimos cinco dias) a previsão de 2026. Coerente com isso, o mercado também reduziu (na mediana dos últimos cinco dias) a previsão da Selic para 2026, de 12,50% para 12,00% ao ano.

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