O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

LCA vê Selic em 15% até março de 2026

Publicado em 02/07/2025 às 12:22

Alterado em 02/07/2025 às 12:22

A LCA 4Intlligence divulgou ontem a atualização do seu cenário após a aprovação do projeto orçamentário de Trump no Senado. Após empate de 50 votos favoráveis e 50 contra, coube ao vice-presidente, JD Vince, que também preside o Senado, dar o voto de minerva. A liderança republicana fez concessões para conseguir aprovar a matéria. “Mas a essência da proposta foi preservada, contemplando renovação e ampliação de cortes de impostos, reforço de gastos com defesa e segurança de fronteira, cortes de incentivos à transição energética e enxugamento de programas sociais”, diz a LCA.

A avaliação predominante é de que o projeto aprofundará o (já elevado) déficit orçamentário dos EUA e, ao ampliar riscos fiscais, será um fator para manter o dólar em queda nos mercados mundiais de câmbio. A queda do dólar também está associada à percepção de que a economia dos EUA está esfriando, com perda de dinamismo do consumo, abrindo espaço para que logo comece uma flexibilização da política monetária. (o Fed já admite discutir o tema na reunião de 29 e 30 de junho).

Dólar fraco, inflação menor

O enfraquecimento do dólar ajuda a moderar pressões cambiais e inflacionárias nas economias emergentes – o que, ao lado do aumento do diferencial de juros doméstico-externo, foi o principal responsável pela valorização do real no primeiro semestre. A apreciação cambial tem ajudado a aliviar pressões de custos nas cadeias de produção, industrial e agropecuária. Com isso, a LCA revisou para baixo as projeções para os IGPs e também uma redução, de 5,3% para 5,1%, a projeção para a alta do IPCA em 2025.

Como o cenário inflacionário segue indicando projeções bem acima do teto e o cenário fiscal reserva muitas incertezas, incluindo a judicialização do IOF, a LCA 4Intelligence prevê a manutenção da taxa básica Selic nos atuais em 15% ao ano até a virada do primeiro para o segundo trimestre de 2026.

JP Morgan analisa 'desdolarização'

Em estudo desta semana, o banco JP Morgan analisa as causas da desdolarização no mundo, que se reflete na baixa do dólar ante as principais moedas e ajuda, no caso brasileiro, a combater a inflação (em parte causada pela escalada do dólar em 2024, pelos temores do tarifaço de Donald Trump).

Para o banco, “embora a participação dos EUA nas exportações e na produção globais tenha diminuído, o domínio transacional do dólar ainda é evidente em áreas como volumes de câmbio e faturamento comercial. “Em 2022, o dólar dominou 88% dos volumes de câmbio negociados — perto de máximas históricas — enquanto o yuan chinês (CNY) representou apenas 7%, de acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS). E acrescenta haver “poucos sinais de erosão do dólar americano no faturamento comercial. "A participação do dólar americano e do euro manteve-se estável nas últimas duas décadas, em torno de 40-50%. A participação do yuan chinês vem aumentando nas transações transfronteiriças da China”. A reunião do Brics no Brasil esta semana deve confirmar a tendência.

Mas “a desdolarização vem ocorrendo nas reservas cambiais dos bancos centrais, onde a participação do dólar americano caiu ao menor nível em duas décadas”. Na última década, a redução da posição em dólar tem sido trocada pelo ouro, sob a liderança dos bancos centrais da China, Rússia e Turquia.

Na renda fixa, a participação de estrangeiros no mercado de títulos do Tesouro dos EUA caiu nos últimos 15 anos, indicando menor dependência do dólar.

A desdolarização é mais visível nos mercados de commodities, onde uma grande e crescente proporção de energia está sendo precificada em contratos não denominados em dólar.

Dólar entre os emergentes

De acordo com a JP Morgan Research, os depósitos em dólar cresceram praticamente ininterruptamente na última década nos mercados emergentes, atingindo cerca de US$ 830 bilhões em uma amostra de 18 países emergentes (excluindo China, Cingapura e Hong Kong).

A América Latina é a região mais dolarizada, com uma taxa agregada de dolarização de 19,1%. A taxa na região EMEA é de 15,2%, enquanto a Ásia (excluindo China, Cingapura e Hong Kong) apresenta a menor taxa, de 9,7%

Para o JP Morgan, “a desdolarização implica uma redução significativa no uso de dólares no comércio mundial e nas transações financeiras, diminuindo a demanda nacional, institucional e corporativa pela moeda americana”.

Por sinal, o dólar mostrou força entre as principais moedas do mundo nesta quarta-feira, subindo frente ao euro, libra, iene e franco suíço, mas caía 0,17% por volta do meio-dia diante do real, cotado a R$ 5,4490. O ouro tinha leva baixa e o petróleo brent para entrega em setembro subia 0,60% a US$ 67,42.

Livro de Gabrielli aborda geopolítica do petróleo

Por sinal, amanhã, às 18 horas, na livraria Al Farabi, na Rua do Mercado, 34, o ex-presidente da Petrobras (2005-2012), José Sergio Gabrielli lança o livro “O petróleo na geopolítica e nas finanças mundiais”, patrocinado pelo Ineep, Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
Deu no “New York Times”

Para refrescar a visão dos Congressistas brasileiros que evitaram o avanço das medidas de justiça tributária no mercado financeiro e agravaram a concentração de renda e os ganhos dos rentistas com a derrubada do IOF, vejam as manchetes do “NYT” sobre o projeto fiscal de Trump, que corta benefícios sociais e amplia as isenções de impostos aos ricos:

"Projeto de lei republicano coloca a nação em um novo e perigoso caminho fiscal". E acrescenta: “Entre as peças legislativas mais caras dos últimos anos, a legislação republicana pode remodelar as finanças do país por uma geração”.

A segunda manchete seria aplicável ao Brasíl, trocando o sujeito da frase:
"Os americanos mais pobres sofreram o maior golpe com o pacote tributário republicano do Senado", com a explicação de que "pequenas melhorias nos impostos são ofuscadas por cortes no seguro de saúde e outras ajudas federais, resultando em um pacote que favorece os ricos”. Deve ser duro viver num país que dá as cotas para as classes menos favorecidas.

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