
O OUTRO LADO DA MOEDA
Governos pagam R$ 92 bilhões em juros em maio
Publicado em 30/06/2025 às 15:22
Alterado em 30/06/2025 às 15:22

Enquanto os deputados ainda celebram a derrubada do IOF e impostos que trariam de volta ao Tesouro Nacional pequena parte dos juros transferidos aos bancos e investidores pelo aumento da Selic, o Banco Central divulgou hoje que os governos (União, estados e municípios) pagaram em maio R$ 92,145 bilhões só em juros da dívida pública. De janeiro a maio os gastos com juros somaram R$ 355,651 bilhões e em 12 meses até maio, R$ 946,147 bilhões.
Segundo o Banco Central, com base nos dados de maio, quando a dívida pública líquida era de R$ 7,5 trilhões, cada um ponto de aumento da Selic onera em R$ 56,8 bilhões o custo da dívida pago aos rentistas. Assim, só com o último aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, em 18 de junho, para 15% ao ano, os gastos com a dívida pública transferidos aos bancos e aos rentistas aumentarão R$ 14,2 bilhões se a taxa Selic for mantida durante 12 meses. O corte do IOF privou o governo de arrecadar R$ 10 bilhões este ano.
Falta considerar as dívidas bancárias do setor público, das empresas e das famílias, que guardam relação com a Selic, o piso do mercado financeiro. O Sistema Financeiro Nacional tinha emprestado até maio R$ 6,7 trilhões às empresas de todo o porte, com juros médios, nas taxas livres, de 24,3% ao ano. Já as famílias deviam R$ 4,4 trilhões, com juros médios nas taxas livres de 56,8% ao ano. A taxa de inflação em 12 meses estava em 5,32% em maio.
Motta justifica o fim do IOF
E depois destes dados acachapantes e da ajuda que os Congressistas deram ao aumento da concentração de renda para os bancos e ricos investidores do país, vem o presidente da Câmara, Hugo Motta, (Republicanos-PB) alegar que “a Câmara, (...) com 383 votos de deputados de esquerda e direita, decidiu derrubar um aumento de imposto sobre o IOF, um imposto que afeta toda a cadeia econômica. A polarização política do Brasil tem cansado muita gente e, agora, querem criar a polarização social”, emendou Motta. É falta de noção.
Diante da montanha representada pelos juros, que produziram um déficit nominal de R$ 125,888 bilhões em maio, o resultado primário consolidado do setor público (receita menos despesas, excluídos os juros da dívida) ficou em R$ 33,740 bilhões. O maior fator do déficit de R$ 37,351 bilhões nas contas do governo Central em maio foi o rombo atuarial do INSS (de R$ 56,155 bilhões, com aumento de R$ 23,536 bilhões) causado pelo pagamento da 1ª parcela do 13º no mês; a 2ª parcela será em junho). O déficit das estatais federais se reduziu em R$ 234 bilhões para R$ 744 bilhões em maio.
Além do IOF, IPCA cai na Focus
Mas nem tudo são más notícias. No último dia de ajuste de posições e formação da taxa Ptax, a referência nos contratos de dólar futuro na B3, a influência da baixa geral do dólar nos mercados internacionais, ante o euro, o iene, o franco suíço, o dólar canadense, o dólar australiano (o dólar sobe frente ao peso mexicano e ao peso argentino), o real apresentava valorização de 0,42% ao meio-dia (horário de Brasília), cotado a R$ 5,4595. Em junho o dólar caiu 4,81% e já devolveu mais de 12% da alta no ano.
O nível atual volta à cotação de agosto de 2024, quando houve a escalada até R$ 6,3177 em dezembro. A escalada dos juros até 15% em junho aumentou em mais de 10% o diferencial entre os juros pagos pelo Tesouro Nacional aos investidores, comparados aos Estados Unidos (4,50%), o que vem atraindo investidores estrangeiros em papéis brasileiros, incluindo o turismo financeiro dos milionários brasileiros com recursos em “off-shores” em paraísos fiscais. A derrubada do IOF na Câmara facilita os ganhos nas operações.
Antes desse novo patamar do dólar, o mercado financeiro apostava na Pesquisa Focus, colhida pelo Banco Central até sexta-feira e divulgada hoje, que o dólar fecharia o ano em R$ 5,70 (5,67 na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis). Em função da baixa do dólar, que influi nas cotações dos produtos alimentícios transacionáveis com o exterior e nos produtos industriais (o petróleo tipo Brent teve nova queda de 0,70% para US$ 66,33), as projeções de inflação do IPCA voltaram a cair.
Há um mês o mercado, que já chegou a prever 5,90% de inflação este ano, tinha reduzido de 5,55% para 5,42% a projeção do IPCA de 2025, que recuou esta semana de 5,24% para 5,20% (e a 5,17% nas projeções dos últimos cinco dias). O dado mais animador é que o radar do mercado, que marcava um IPCA fixo de 4,50% para 2026, há mais de dois meses, moveu para baixo – 4,49% nas respostas dos últimos cinco dias.
O mercado ainda está dividido sobre os impactos altistas e baixistas nas tarifas de energia, mas tem projetado baixas expressivas no IPCA a curto prazo. Para junho, a taxa que já esteve em 0,3%, há um mês, recuou de 0,227% para 0,25% na semana passado (0,22% nas apostas dos últimos cinco dias). Para julho a taxa caiu para 0,20% (0,21% em cinco dias), contra 0,24% há um mês. E a expectativa para agosto, que estava em 0,40% há quatro semanas, recuou de 0,46% para 0,35% (e baixa para 0,23% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis).