O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Como a indústria muda dentro do PIB

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Publicado em 25/06/2025 às 14:25

Alterado em 25/06/2025 às 14:25

Indústria automobilística Foto: Reuters/Nacho Doce

Já vai longe o tempo em que a indústria, sobretudo a de transformação, se tornou o carro-chefe do PIB brasileiro, após o segundo salto da industrialização promovido por JK. Quando comecei no jornalismo econômico (1972) os dois segmentos mais importantes da economia brasileira (pelo efeito multiplicador na cadeia de produção, no emprego e na renda, incluindo a influência no comércio eram a indústria automobilística e a construção.

Com a terceirização das atividades já no final dos anos 70, a indústria foi perdendo terreno como forte empregadora para o setor de serviços (atividades de segurança, de manutenção, limpeza e até alimentação, que eram bancados por uma Volkswagen, por exemplo, passaram a ser feitos por empresas especializadas em prestação de serviços. E o segmento de serviços, seguindo a tendência mundial, com o surgimento ainda de novas atividades financeiras e o aumento da importância do lazer, passou a ser o mais importante do PIB.

No ano passado, segundo o IBGE, o setor de Serviços representou 68,8% do Produto Interno Bruto. A participação aumentou frente aos 67,7% do ano 2000. Os serviços compreendem o comércio, atividades financeiras e imobiliárias, serviços ligados a lazer (bares, restaurantes, hotéis, viagens, teatro, cinema, shows) e sobretudo os serviços prestados pelo Estado (segurança, educação, saúde e previdência social).

Mas a importância do comércio e dos shoppings no PIB pode ser medida por uma frase: com a robotização, um grande shopping gera mais empregos diretos e indiretos que uma fábrica de automóvel. De fato, o comércio respondia por 8,1% do PIB no ano 2000 e chegou a 12,2% no ano passado. Um expressivo aumento de 50,6%.

A agropecuária (que este ano deve aumentar um pouquinho sua participação, diante da previsão de crescimento de 13,6% da safra de grãos e da força do segmento de carnes, incluindo a de frango, com o retorno das exportações) representou 6,5% (era de 5,5% no ano 2000.

Por que a indústria encolhe

E a indústria? A indústria não mudou só com a terceirização e o avanço da robótica e da automação dos processos de produção. A indústria como um todo tinha participação de 26,7% no PIB no ano 2000 e fechou 2024 com 24,7%, perdendo dois pontos percentuais. A indústria de Transformação representava 15,3% do PIB no ano 2000 e encolheu para 14,4% no ano passado.

Outro segmento importante da indústria que perdeu posição no PIB foi o da Construção: era de 7,0% do PIB em 2000 e encolheu quase metade para 3,6% no ano passado. As grandes empreiteiras que lideraram o setor e expandiram suas atividades para vários segmentos da indústria e das comunicações, reproduzindo, em parte, o modelo coreano dos “chaebols”, que tem a Samsung, Hyundai, SK Group e LG Group, como líderes mundiais, começou com as empreiteiras bancadas pelos Estados Unidos na reconstrução do país, após a guerra (meados dos anos 50), mas teve ainda duas importantes reformas estruturais: a reforma agrária (o Sul era agrícola e o Norte concentrava a indústria) e a educacional. Esta criou massa de cérebros que garantiu o salto tecnológico da Coreia do Sul, a partir da metade dos anos 80.

No Brasil, a ganância das empreiteiras, apanhadas nas investigações da lava-jato (e em inquéritos no exterior), provocou o encolhimento de impérios como o da Odebrecht, da Camargo Correia, da Andrade Gutierrez, da OAS e da Queiroz Galvão, que tinham entrado na construção de estaleiros, privatização de aeroportos, portos, estradas e ferrovias (quando o Estado brasileiro, endividado, perdeu capacidade de contratá-las para investimentos em infraestrutura). Mas o ganhos eram tais que os negócios se expandiram para a petroquímica e empreendimentos turísticos.

O impacto da Lava-Jato pode ser medido pelo auge da participação da Construção no PIB (6,2% em 2014 até a queda para 3,45 em 2022. No ano passado, já com muitas empreiteiras reabilitadas pela Petrobras, após reformas rigorosas em seus modelos de “compliance” a e retomada de obras como o Minha Casa, Minha Vida, a Construção passou a representar 3,6% do PIB.

Indústria Extrativa triplica no século 21

Mas a perda da Indústria de Transformação foi maior em relação ao crescimento da indústria extrativa (minérios e petróleo e gás), que triplicou, saltando de 1,4% do PIB em 2000 para 4,2%.

Segundo informou o IBGE nesta quarta-feira, ao divulgar a Pesquisa Industria Anual (PIA) de 2023, pelo segundo ano consecutivo, óleos brutos de petróleo lideraram o “ranking” de receita líquida de vendas ao obter 5,3% de participação, mesmo percentual de 2022, com receita de R$ 263,0 bilhões.

“A indústria de óleos brutos de petróleo é um dos pilares da economia nacional, tendo papel estratégico tanto na geração de receitas quanto no suprimento energético. Com destaque para a exploração do pré-sal, o país se consolidou como um dos maiores produtores mundiais, com grande parte da produção voltada à exportação. Essa cadeia produtiva movimenta diversos setores industriais, como refino, petroquímica, entre outras atividades, e representa uma das principais fontes de investimento, empregos e inovação tecnológica no Brasil”, observa Marcelo Miranda, gerente de Análise Estrutural do IBGE.

Minérios de ferro (R$ 161,2 bilhões e 3,3% de participação), líderes do ranking em 2020 e 2021, ganharam uma posição em relação ao ano passado e ficaram no segundo lugar em 2023. Como produto acabado para consumo amplo, o Óleo diesel, que movimentou R$ 160,4 bilhões ficou em terceiro, com 3,2% de participação no PIB. Em seguida vieram Carnes de bovinos frescas ou refrigeradas (R$ 114,2 bilhões e 2,3% de participação), Gasolina automotiva (R$ 88,5 bilhões e 1,8%), Adubos ou fertilizantes com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) (R$ 80,3 bilhões e 1,6%), Tortas, bagaços e farelos da extração do óleo de soja (R$ 69,8 bilhões e 1,4%),

Automóveis, com motor a gasolina, álcool ou bicombustível, de cilindrada maior que 1.500 cm3 ou menor ou igual a 3.000 cm3 (R$ 54,8 bilhões e 1,1%), Álcool etílico (etanol) não desnaturado para fins carburantes (R$ 54,0 bilhões e 1,1%) e Açúcar VHP (very high polarization) em bruto (R$ 51,4 bilhões e 1,0%).


Algumas curiosidades

Na lista dos 100 principais produtos em receita líquida de vendas, os que mais ganharam posições no ranking em relação a 2022 foram: Aparelhos de ar condicionado de paredes, de janelas ou transportáveis, inclusive os do tipo “split system”, que ganhou 57 posições, ao passar da 154ª para a 97ª posição; Bobinas a frio de aços ao carbono, não revestidos, com ganho de 45 posições (da 139ª para a 94ª posição); Refrigeradores ou congeladores (“freezers”), inclusive combinados, para uso doméstico, (da 117ª para a 77ª); Desodorantes corporais e antiperspirantes (da 127ª para a 88ª).

Serviços de manutenção e reparação de geradores, transformadores, motores elétricos, indutores, conversores, sincronizadores e semelhantes (subiram da 112ª para a 81ª posição); Pedras britadas (da 119ª para a 89ª); Veículos polivalentes para o transporte de pessoas ou de mercadorias, de capacidade máxima de carga não superior a 5 t (da 75ª para a 45ª); Embalagens diversas de papel-cartão ou cartolina impressas (da 120ª para a 92ª); Preparações em xarope, para fins industriais, para elaboração de bebidas (da 105ª para a 80ª); e Aviões ou outros veículos aéreos de peso acima de 15.000 kg (da 93ª para a 71ª).

Inseticidas e herbicidas

No sentido oposto, a volta dos controles do Ministério do Meio Ambiente no governo Lula provocou as maiores perdas de posição em relação ao ”ranking” de 2022 em Inseticidas para uso na agricultura, que perdeu 27 posições ao passar da 72ª para a 99ª posição; Herbicidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento para plantas caíram da 33ª para a 50ª posição. Já o Óleo de soja refinado, caiu da 48ª para a 70ª posição (com a queda da safra em 2023) perdendo 22 posições.

Com a alta de preços (bem menor em 2023 que os 80% do ano passado), o Café torrado e moído, inclusive aromatizado (caiu da 73ª para a 95ª);

As principais atividades

Fabricação de produtos alimentícios (18,6%) continuou sendo o segmento industrial com maior participação na receita líquida de vendas em 2023, liderando o “ranking” desde 2007. As dez principais atividades equivaleram a 76,2% do valor da receita líquida de vendas dos produtos e serviços industriais da indústria brasileira em 2023, resultado inferior ao verificado em 2022 (77,8%). Ou seja, a força do agro é maior na indústria.

Além de Fabricação de produtos alimentícios, destacaram-se: Fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (10,4%); Fabricação produtos químicos (9,9%); Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (8,7%); Metalurgia (6,9%); Extração de petróleo e gás natural (5,9%); Fabricação de máquinas e equipamentos (4,9%); Extração de minerais metálicos (4,3%); Fabricação de produtos de borracha e de material plástico (3,4%); e Fabricação de celulose, papel e produtos de papel (3,2%).

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