
O OUTRO LADO DA MOEDA
Cessar-fogo torna ata do Copom anacrônica
Publicado em 24/06/2025 às 15:11
Alterado em 24/06/2025 às 15:11
A volatilidade dos fatos, no conflito Israel-Irã, foi de tal ordem que desnorteou os mercados de todo o mundo e os analistas econômicos e políticos. Assim a divulgação, nesta terça-feira, 24 de junho, da Ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que elevou a Selic para 15% na quarta-feira, baseada nas incertezas do petróleo e da economia mundial ficou anacrônica. O cenário melhorou muito em relação ao que vislumbrava o Copom.
Na quinta-feira, 19 de junho, diante das perspectivas de agravamento da guerra e do possível fechamento, pelo Irã, do estreito de Ormuz, por onde escoam mais de 20% do petróleo e gás liquefeito de petróleo do mundo, o barril do petróleo tipo Brent rondou os US$ 80 com alta de mais de 10% em um único dia. E os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã, aumentaram os temores da escalada do conflito em todo o Oriente Médio.
Mas a demonstração de força dos EUA facilitou o chamamento do presidente Trump para que Israel e Irã retomassem as negociações e aceitassem um cessar-fogo (ainda em implantação). O alívio causou forte queda no preço do petróleo Brent para entrega em setembro, negociado hoje na faixa de US$ 67, com baixa de 5% e do ouro (refúgio em tempos de crise, sobretudo por parte dos bancos centrais da Europa, à frente Alemanha e França, dos países árabes produtores de petróleo e da China e Japão), que tinha queda de 2,20%.
Entre as moedas, houve uma reversão das operações de busca de liquidez noo dólar, que sofreu perdas generalizadas. O euro subia 0,42%, depois do meio-dia (horário de Brasília), a libra esterlina valorizava 0,92%, maior recuperação teve o iene, com queda de 1,10% do dólar, que perdia 1,0% frente ao franco suíço. O dólar australiano avançava 0,90% e o dólar caía 0,60% frente ao peso mexicano.
No Brasil, as intervenções do Banco Central no câmbio provocaram muitas oscilações na cotação do dólar, que abriu a R$ 5,4952, desceu à mínima de R$ 5,4735 foi à máxima de 5,5045, mas recuou a 5,4965 às 12:30, com estabilidade.
Ata: principais pontos do cenário e riscos
Um resumo feito pela LCA 4intelligence destaca os principais pontos da ata, com algumas observações feitas por mim:
“O cenário de inflação segue desafiador, com incertezas externas e internas impactando projeções e expectativas.
O ambiente internacional permanece volátil, com destaque para incertezas fiscais nos EUA e tensões no Oriente Médio. [o cessar-fogo traz perspectivas benéficas].
A atividade econômica doméstica mostra sinais mistos, com moderação gradual no crescimento e consumo ainda resiliente.
O mercado de trabalho segue forte, com baixa taxa de desemprego e renda elevada, mas com sinais iniciais de desaceleração.
O crédito bancário mostra inflexão, com aumento de juros e menor ritmo de concessões, especialmente no crédito livre.
A política fiscal precisa ser crível e anticíclica; incertezas fiscais podem elevar a taxa de juros neutra. [a taxa de juros neutra está em 4,75%, o juro real em 9,19% e o diferencial de juros com os EUA está em 10,50%]
As expectativas de inflação seguem desancoradas em todos os horizontes, exigindo política monetária mais restritiva e duradoura.
A inflação de curto prazo surpreendeu para baixo, mas os núcleos permanecem pressionados, exigindo cautela.
Projeções indicam inflação de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026, acima da meta.
O balanço de riscos é assimétrico, com fatores de alta e baixa para a inflação.
O Comitê reforça a necessidade de manter política monetária contracionista por período prolongado para garantir convergência à meta.