O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Mercado: guerra pode dar repique na inflação

Publicado em 16/06/2025 às 13:55

Alterado em 16/06/2025 às 13:55

Na última pesquisa Focus antes da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, na reunião de quarta-feira, 18 de junho, o mercado previu nova baixa do IPCA para dezembro deste ano (de 5,44% para 5,25% e 5,24% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis – há um mês a previsão era de 5,50%, mas, apesar de prever a manutenção da taxa Selic em 14,75% até o fim do ano, o mercado teme um repique da inflação em agosto (de 0,27% em junho e 0,18% em julho) devido aos impactos da guerra entre Israel e Irã.

No primeiro dia da semana após a escalada dos ataques entre Israel e Irã, o dólar enfraqueceu em todo o mundo, com a cotação baixando 0,54% ante o real às 12:40 (horário de Brasília), e cotação de R$ 5,5095. Já o petróleo do tipo Brent baixou 3,39% a US$ 71,71 por barril, diante da não consumação do bloqueio de tráfego de petroleiros no estreito de Ormuz, entre o Irã e o Iêmen.

O Grupo Consultivo Macroeconômico da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) manteve a estimativa de que a “Selic permanecerá em 14,75% até o final de 2025”. Para os economistas, a pressão inflacionária e as incertezas do mercado externo não deixam margem para o Copom mexer nos juros nas próximas cinco reuniões até dezembro, diz Fernando Honorato, coordenador do Grupo Consultivo Macroeconômico da ANBIMA e economista-chefe do Bradesco, cujo ex-diretor Tesoureiro, Nilton Davi, comanda a diretoria de Política Monetária do BC.

Na linha do mercado, os economistas da Anbima reduziram de 5,6% para 5,3% as projeções do IPCA de 2025, acima do teto da meta (3,00% + tolerância de 1,50%=4,50%). Um dos fatores para a baixa foi a queda na projeção do dólar no fim do ano de R$ 5,87 para R$ 5,75. As estimativas para o crescimento do PIB subiram de 2% para 2,2%, com maior desaceleração no 3º trimestre. Com o PIB maior, na análise da política fiscal, o grupo avalia que a dívida bruta do setor público?chegará a 80% do PIB, em 2025, ante 80,3% na projeção anterior. Já o déficit primário de 2025 caiu de 0,64% para 0,60% do PIB.

Itaú revê projeções em junho

Sem espaço nem pressa para cortar juros (só em 2026), o Itaú divulgou hoje a revisão das projeções econômicas para 2025 e 2026. Apontando um início “mais fraco na atividade do 2º trimestre” (a previsão é de alta de 0,5%), o banco manteve a projeção de crescimento do PIB em 2,2% para 2025 e de 1,5% em 2026. O Itaú espera que os impactos relacionados aos pagamentos de precatórios e ao crédito consignado privado sejam mais significativos na 2ª metade do ano. No mercado de trabalho, revisou a taxa de desemprego, refletindo surpresas positivas, de 6,8% para 6,4%, enquanto para 2026, ajustou de 7,3% para 6,9%.

O enfraquecimento do dólar contra as moedas de países emergentes tem contribuído para a apreciação do real. As incertezas externas e riscos fiscais justificam uma revisão cautelosa da taxa de câmbio, para R$ 5,65 em 2025 e 2026 (ante US$ 5,75). “As contas externas seguem pressionadas. Diante uma balança comercial mais fraca do que o esperado, com desaceleração mais lenta das importações, agora projetamos déficit em conta corrente de 2,6% do PIB em 2025 e 2,4% em 2026 (de 2,4% e 2,3% anteriormente)”, diz o banco.

A projeção do IPCA de 2025 caiu a 5,3%, refletindo a inflação menor em bens industriais – devido ao câmbio mais apreciado – e em alimentos, com destaque para a queda nos preços do milho. Para 2026, manteve a projeção em 4,4%, considerando que o mercado de trabalho apertado e a persistência da desancoragem de expectativas longas devem pressionar a inflação.

O Itaú revisou de 0,8% para 0,6% do PIB a projeção de resultado primário para 2025 e manteve em -0,8% em 2026, incorporando receitas adicionais associadas ao saque de fundos privados e efeito parcial do aumento de IOF e se aproximando do cumprimento da meta (com abatimentos) em 2025. Ao longo do ano, as despesas devem voltar a acelerar enquanto o desempenho das receitas dependerá de receitas extraordinárias e do impacto de medidas em discussão.

IBC-Br cresce 0,20% em abril

O Banco Central divulgou o resultado do IBC-Br em abril, com avanço de 0,2% garantido pelo bom desempenho do setor de serviços (+0,4%). Passada a forte expansão do primeiro trimestre na agropecuária (+12,2%) pela contabilização da safra de soja, o setor agropecuário teve queda de 0,9%, e a indústria teve perda de 1,1%, projetando baixo desempenho para o 2º e o 3º trimestres.

Fed pode indicar só um corte de juros

Nos Estados Unidos, a reunião do Federal Open Market Committee (FOMC) na quarta-feira, e os dados de vendas no varejo devem pautar os mercados. Para o Bradesco, embora a manutenção dos juros já seja amplamente esperada, o mercado acompanhará de perto as projeções dos membros do comitê para juros, inflação e crescimento.

Considerando os dados mais recentes e as declarações dos dirigentes, nossa expectativa é que o Fed sinalize apenas um corte de juros em 2025, postergando para 2026 a maior parte dos ajustes anteriormente previstos para este ano. Além disso, destaque para a divulgação das vendas no varejo de maio, importante termômetro da atividade econômica americana.

Deixe seu comentário