
O OUTRO LADO DA MOEDA
Galípolo: freio fiscal abrevia juro alto
Publicado em 19/05/2025 às 16:50
Alterado em 19/05/2025 às 16:50
A política monetária faz efeito mais rápido (e menos doloroso) se estiver amparada pela política fiscal na mesma direção, ensina o ABC da economia. Mas a realidade brasileira mostra, quase sempre, a política restritiva do Banco Central, com juros altos, em rota de colisão com uma política fiscal expansionista. Gastos que estimulam a demanda anulam parte do esforço contencionista da inflação pelo BC. O resultado é que o ciclo de juros altos se prolonga, com grandes efeitos colaterais no endividamento das famílias e empresas.
Os embates entre o Banco Central e a política fiscal ficaram mais evidentes desde a sua independência perante o Executivo, aprovada pela Lei 179, de fevereiro de 2021. No segundo semestre de 2021, a economia mundial foi reagindo e os preços das commodities. Aqui, o Banco Central ficou atrasado ao elevar o piso dos juros: a Selic ficou em 2,00% de agosto de 2020 a maio de 2021; no fim de 2021 chegou a 9,25%, mas a inflação bateu em 20,06%
No ano eleitoral de 2022, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, os preços dos combustíveis, dos alimentos e do dólar dispararam no mundo, pressionando a inflação. E o Banco Central continuou perdendo a corrida para a inflação. Elevou a Selic para 10,7% em 3 de fevereiro, mas a taxa do IPCA em 12 meses fechou janeiro em 10,38 e o dólar disparando. Quando o IPCA atingiu 12,3% em abril, a Selic estava em 11,75%. O BC seguiu elevando os juros a 12,75% em junho (chegaria a 13,75% em 4 de agosto).
Mas o governo Bolsonaro, percebendo que a escalada dos juros não derrubaria a inflação, e inviabilizaria a reeleição, fez uma violenta intervenção nos preços dos produtos mais críticos da economia, com cortes de impostos federais e estaduais (ICMS) entre 1ºde julho e 31 de dezembro de 2022, nos combustíveis, à frente a gasolina, na energia elétrica e das comunicações. (gerou deflação em julho e agosto), derrubou a inflação a 5,79% (mas ainda estourou o teto da meta de inflação, de 5,50% e não impediu a eleição de Lula, mesmo com a enxurrada de benesses ao eleitor: mesadas de R$ 1 mil a caminhoneiros e taxistas e aumento do Auxílio Emergencial para R$ 600, com aceitação de mais 3 milhões de pessoas sem família.
Para não estourar ainda mais os gastos públicos, Bolsonaro fez calote nos precatórios desde o fim de 2021 – R$ 150 bilhões foram pagos nos dois primeiros anos do governo Lula, R$ 70 bilhões estão previstos para 2025 e ainda restam R$ 48 bilhões para 2026. O Banco Central de Roberto Campos Neto, fez uma política monetária com juros altos, porque temia a reoneração imediata dos impostos cortados em 2022. Se tivesse dialogado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saberia que o governo Lula adotou o gradualismo e procurou reforçar a arrecadação, com cortes de isenções aos mais ricos para manter a política social de benefícios aos mais pobres.
O dilema de Galípolo
Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central desde junho de 2023, tentou abreviar a alta dos juros em setembro de 2023, depois que o Federal Reserve retomou a baixa dos juros nos Estados Unidos. Mas, com o crescente favoritismo da candidatura de Donald Trump e suas ameaças de choque tarifários nas importações (cumprido com idas e vidas) o dólar fez uma escalada ao longo do segundo semestre de 2024 que forçou nova alta da Selic.
Em dezembro, ainda com Campos Neto presidente foram contratados três aumentos de 1%, e a Selic chegou a 14,25% em março. Galípolo assumiu a presidência em 1º de janeiro e na primeira reunião do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) aliviou os aumentos para 0,50%, deixando a Selic em 14,75% (a maior taxa desde maio de 2006). Mas a inflação ainda está mais de um ponto acima do teto da meta (5,53% contra 4,50%).
Por isso, Galípolo está pedindo uma trégua nos estímulos fiscais do governo para abreviar o tempo de sacrifício na manutenção dos juros por muito tempo. A pesquisa Focus, colhida pelo BC até sexta-feira e divulgada hoje, manteve a previsão da inflação em 5,50% este ano (5,47% na mediana das respostas dos últimos cinco dias), em função da baixa previsto no dólar de 2025: R$ 5,85 para R$ 5,82 (R$ 5,81 nos últimos cinco dias úteis), assim como a Selic em 14,75% até dezembro deste ano. A taxa de 2026 foi mantida em 12,50%. Mas, a mediana das respostas dos últimos cinco dias projetou baixa para 12,25%.
Para que esse cenário fique menos pesado para as famílias e as empresas, Galípolo apela para que o governo Lula contenha os gastos este ano, para a inflação ceder e ter um terreno lavrado para os gastos eleitorais de 2026 não realimentar a inflação.
Dólar em baixa no mundo ajuda
A queda do dólar ante as principais moedas, depois que o rebaixamento da nota de crédito dos EUA (que perdeu o triplo AAA pela agência de classificação de risco Moody’s, causando rebaixamento hoje nas notas de bancos e grandes empresas, pode ajudar a conter a inflação. O dólar caiu 0,63% contra o euro, 0,60% diante da libra esterlina e 0,45% frente ao iene. No Brasil, o dólar era negociado a R$ 5,6430 às 16 horas, com baixa de 0,33%.
PIB do BC cresce 1,3% no trimestre
A propósito, o Banco Central divulgou hoje o IBC-Br, que vem a ser uma prévia do Produto Interno Bruto, que o IBGE vai divulgar dia 30 de maio. O IBC-Br de março avançou 0,8% acima dos 0,7% previstos pelo Bradesco. Em termos trimestrais, o crescimento foi de 1,3%.
Na decomposição do IBC-Br, o IBC agropecuário cresceu 1,)% em março e 6,1% no trimestre, a indústria teve avabço de 2,1% em março e de 1,6% no ano e o setor de Serviços (o de maior peso -67% no PIB) cresceu 0,3% e 0,7%, respectivamente.