
O OUTRO LADO DA MOEDA
Sem poder usar "bank", Nu contrata ex-BC
Publicado em 14/05/2025 às 14:19
Alterado em 14/05/2025 às 20:26

Termina dia 31 de maio a consulta pública para que instituições de pagamento ou “fintechs” que usam “bank”, banco ou termos assemelhados que os confundam com bancos múltiplos, bancos comerciais, banco de câmbio ou banco cooperativo, sejam devidamente autorizados pelo Banco Central. Quem não se enquadrar, será proibido de usar nome fantasia de banco.
Em levantamento junto a instituições financeiras e arranjos de pagamento autorizados a operar com o PIX (o sistema de transferências automáticas de recursos grátis entre pessoas físicas e jurídicas), há duas dezenas de empresas usando termos proibidos pelo Banco Central. As “fintechs” avançaram muito na gestão de Campos Neto. A mais notória é o Nubank.
Embora a plataforma financeira digital tenha fechado o primeiro trimestre de 2025 com 103,7 milhões de clientes (mais que os 99,1 milhões do Itaú) e atrás do Bradesco (109,8 bilhões) e da Caixa Econômica Federal (154,7 milhões), o Nu é um grupo com uma sociedade de crédito e financiamento e uma “Instituição de Pagamento”. O Banco do Brasil tinha 78,6 milhões de clientes.
Bancos têm acesso ao FGC
Os problemas de liquidez do Banco Master, que pagava até 140% do CDI aos investidores em seus CDBs, para os quais só havia cobertura do Fundo Garantidor de Crédito até o teto de R$ 250 mil por investidor (CPF ou CNPJ) mostraram a importância de uma instituição financeira, seja “fintech” ou instituição de pagamento, ser amparada pelo FGC. O Nu não tem acesso e já se antecipou à decisão do Banco Central, retirando o “bank” da marca.
Para compensar o baque que é ser reconhecido pela clientela como não banco, sem acesso ao FGC, o Nu está fazendo grande jogada de “marketing”. Sem a proteção institucional do Sistema Financeiro Nacional (já era olhado com desconfiança pelos bancos tradicionais, a quem fazia concorrência), o Nu já acertou a contratação do ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como diretor de políticas públicas e eventual futuro CEO.
Campos Neto é mais disputado que Guedes
Campos Neto deixou a presidência do Banco Central em 1º de janeiro de 2025. Ele esteve à frente da autoridade monetária desde janeiro de 2019, período em que promoveu a abertura do mercado às “fintechs”, com o empurrão fundamental do PIX. A quarentena mínima para quem deixa um cargo público exercer atividade na vida privada é de seis meses.
Teoricamente, Campos Neto poderia estar livre na primeira semana de julho. Como dia 4 cai numa sexta-feira, o mais provável é que opere a plena carga a partir de 7 de julho, segunda-feira. Antes de entrar no comando do Banco Central, em janeiro de 2019, no governo Bolsonaro, a convite de Paulo Guedes, Campos Neto fora diretor-Tesoureiro do Santander para a América Latina. Os dois se conheceram no Banco Bozano, Simonsen, que pertencia ao Banco Meridional, e foi comprado pelo espanhol Santander em janeiro de 2000.
De certa forma, embora com menor cabedal teórico, Roberto Campos Neto está sendo mais disputado do que o ex-ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes. Ele é conselheiro de uma empresa de análise de crédito do grupo-BTG-Pactual, o qual ajudou a fundar como a distribuidora Pactual, em 1983, tendo como sócios majoritários Luiz César Fernandez (ex-Garantia) e André Jakurski). Guedes e Jakurski estão de volta no BTG-Pactual.
Paralelamente, Guedes realiza “lives” matinais diárias abertas nas quais, em troca dos pagamentos dos inscritos, dá dicas de investimentos no mercado de capitais. Por enquanto, sem a audiência e a reputação de um Warren Buffet, o bilionário. “Oráculo de Omaha”, que está começando a se retirar dos holofotes, aos 94 anos, no grupo de investimento Berkshire Hathaway.
Falsos bancos na mira do BC
Além do “Nubank”, que ficou Nu, outra instituição que faz muita propaganda na TV, o cearense Mentore Bank, não passa de uma instituição de pagamento.
Segundo levantamento do Banco Central de 13 de maio, quem também está usando nomes fantasias indevidos são: ABank, AQBank, também Instituição de Pagamento (IP). Na mesma situação estão o Banco Útil, o Bankoso, o BanqI, o BK, o BRX Bank, o XF Banc, o Equisbank, o MapBank, o FitBank, o TargetBank, a BK (Instituição de pagamento), o PinBank, o StarkBank, o Ebanx, o BRX Bank, o S3 Bank, E2Bank, o Christian Family Bank, o BNK Digital. Ainda há três semanas para as instituições tentarem o enquadramento.
Balança comercial sofre com tarifaço
Os dados da balança comercial brasileira até a segunda semana de maio, refletem as mudanças de cenário causadas pelo tarifaço do governo Trump. Com o crescimento das vendas do complexo soja, devido à supersafra, os volumes aumentaram, mas com preços em baixa, o saldo das exportações (US$ 9,94 bilhões) ficou positivo em US$ 2,81 bilhões sobre os US$ 7,13 bilhões importados.
Com o desempenho ainda modesto da soja, que já se nota no acumulado do ano, o grande destaque de maio até agora são os Óleos brutos de petróleo, com crescimento de quase 70% das vendas em relação ao mesmo período do ano anterior. Nas importações, o crescimento no mês até a segunda semana é puxado pela expansão nas compras de Adubos, Motores e Partes de Automóveis, num resultado das compras de adubo pelos cafeicultores, diante dos altos preços da lavoura, e da maior oferta dos chineses em motores e partes para automóveis.
No acumulado do ano fica claro que as maiores vendas de café e celulose ainda não compensaram as perdas nos embarques de soja, petróleo e minério de ferro, numa clara contenção da China (maior comprador), à espera do impacto final das tarifas (menos US$ 3,100 bilhões no total dos cinco maiores produtos). Já nas importações, as quedas de petróleo e veículos (sobretudo elétricos) foram largamente superadas pelas compras de adubos e fertilizantes, motores, peças para automóveis e compras de veículos, aumentando em US$ 1 bilhão as compras. Com déficit de US$ 4,100 bilhões entre os itens líderes.