
O OUTRO LADO DA MOEDA
Superquarta tem Fed, Copom e Papa
Publicado em 06/05/2025 às 15:03
Alterado em 06/05/2025 às 18:18
A superquarta-feira, 7 de maio, não cria expectativa apenas nos mercados financeiros mundiais, com a reunião do Federal Open Market Committee (FOMC) nos Estados Undos e do Comitê de Política Monetária do Banco Central, no Brasil. O mundo católico também está ansioso para saber a direção a ser tomada pelo Vaticano após o Papa Francisco.
O Santander não espera mudança nos juros nos EUA, mas acredita que o Federal Reserve vai sinalizar para duas quedas de juros em 2025, somando 100 pontos base para compensar a desaceleração econômica causada pelo tarifaço. No Brasil, diante da desaceleração que se observa no mercado e a expectativa de uma inflação de apenas 0,38% em abril (o mercado espera 0,41%), o Santander espera um último corte de 0,50% (mas admite que o mercado ainda oscila entre 0,25% e 0,50%).
Na visão do banco, com a taxa de 14,75%, o mercado ainda precifica na curva dos juros um corte de 30 pontos base na taxa para o fechamento do ano. Isso poderia acontecer em 5 de novembro ou 10 de dezembro, dando início a um processo de baixa nos juros que se prolongaria até o 1º trimestre de 2027.
Itaú se contorce para justificar Selic menor
Ao divulgar, ontem, o “Cockpit do Copom”, como faz à véspera do primeiro de dois dias de reunião do Comitê de Política Monetária, que amanhã deve elevar em meio ponto a taxa Selic a 14,75% ao ano, o Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú - que já chegou a prever a Selic atingindo 15,75% em 2025 para fechar o ano em 15,50% - faz certo contorcionismo para justificar porque o Copom vai “diminuindo o ritmo de aperto” Bradesco já cravou que a Selic fecha o ano em 14,75%. O diretor de Política Monetária (Dipom), Nilton Davi, veio do Bradesco.
Diz o Itaú: “esperamos uma alta unânime da taxa Selic em 50 pontos base, para 14,75% a.a., seguindo a sinalização de elevação adicional e de menor magnitude da última reunião. Observando o contexto para essa reunião, temos, por um lado, desaceleração gradual da atividade doméstica e maior incerteza externa, com potencial impacto líquido desinflacionário. Por outro, as expectativas de inflação desancoradas (embora tenham parado de piorar), o hiato positivo e as projeções do próprio Banco Central indicam, neste momento, a necessidade de seguir avançando em território contracionista”.
“Avaliamos que o balanço de riscos deve permanecer assimétrico para cima, ainda que de forma menos acentuada que na reunião anterior, devido à evolução do cenário externo. Contribui nessa direção a qualificação de um ambiente menos inflacionário para economias emergentes, decorrente de choques sobre o comércio internacional e condições financeiras globais.”
“Consideramos, adicionalmente, que o grau e persistência da desancoragem das expectativas, bem como do próprio desvio da inflação em relação à meta, recomendam cautela na incorporação de desenvolvimentos exógenos benignos no cenário prospectivo, seja nas projeções ou no balanço de riscos em torno das mesmas”.
“Para a próxima decisão, avaliamos que a autoridade monetária buscará flexibilidade para reagir à evolução do cenário, reconhecendo que um ambiente de maior incerteza global exige maior cautela na condução da política monetária doméstica, em linha com a comunicação adotada por membros do comitê em declarações recentes. Ao mesmo tempo, acreditamos que o comitê seguirá indicando vigilância e avaliando se o nível de restrição da política monetária é suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta”.
Ao abordar os riscos da guerra comercial, que poderia gerar algo semelhante à crise da dívida europeia em 2011, como rescaldo da crise financeira global de 2008 (período em que o diretor do Itaú, Mário Mesquita estava na Dipom), o Itaú pondera que “diante de um choque global que pode se mostrar contracionista e desinflacionário, o gestor monetário pode ter distintas reações, que dependem do contexto institucional e da conjuntura econômica”
“Se a inflação e as expectativas estiverem próximas à meta, e o banco central tiver um mandato dual, pode perfeitamente reagir afrouxando a postura de política monetária. Caso as expectativas e inflação estejam distantes da meta, e o mandato se refira primariamente à inflação, então o mais prudente seria, em nossa visão, aproveitar a ajuda externa para acelerar o processo de convergência - uma desinflação oportunista – mantendo muita cautela para não levar a um afrouxamento precoce da postura de política”
Itaú prega postura flexível
“E se a atividade surpreender negativamente? O Copom tem amplo espaço para reagir, reduzindo a taxa de juros, afinal, estamos bem distantes do “lower bound” para a Selic. Olhando de hoje, tendo em vista o grau de desancoragem e o cenário adiante, o risco de ajustar a política monetária em excesso parece menor, e de mais fácil correção, do que o de interromper prematuramente o processo de ajuste”.
“Em sua última reunião de política monetária, o Copom optou, em decisão unânime, por manter o ritmo de aperto monetário, entregando mais uma alta de 100 p.b. (mesma magnitude da reunião anterior), levando a taxa Selic para 14,25% a.a., como amplamente esperado pelo mercado. O comunicado e a ata sinalizaram que esta havia sido a última de três altas consecutivas de 100 p.b., diante de um cenário mais adverso para a inflação. A ata do Copom trouxe um tom em geral mais duro, com um único aspecto possivelmente mais brando”.
“Embora notassem, à época, sinais incipientes de desaceleração econômica, as autoridades enfatizaram que há muita incerteza sobre a atividade econômica e suas perspectivas no curto prazo. Por outro lado, o texto foi bastante claro e direto quando se referiu à inflação e seu cenário prospectivo indubitavelmente desafiador. A ata também apresentou uma visão mais dura sobre o impacto potencial de mudanças nas condições externas (que, na visão das autoridades, poderiam levar à depreciação da moeda em economias emergentes)”.
“Em relação à comunicação dos próximos passos, o Copom sinalizou na ocasião que diminuiria o ritmo de aperto, ao invés de pausar o ciclo, para levar em conta os efeitos defasados das decisões passadas. A fim de tentar antecipar as decisões do Copom, utilizamos o Copômetro, um índice que mede o grau de restrição ou expansão implícita na comunicação do BC. Aplicando a metodologia, que se baseia em pontuações atribuídas às comunicações relevantes do comitê, esperamos redução do ritmo de alta da taxa Selic (para 50 p.b.)”.