O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Dólar cai com PIB e negociação à vista com China

Publicado em 02/05/2025 às 13:59

Alterado em 02/05/2025 às 14:04

A queda de 0,3% do PIB americano no 1º trimestre, seguido dos bons números do emprego em abril (criação de 177 mil vagas) desorientou os investidores e levou a um enfraquecimento do dólar ante as principais moedas, sob o impulso das informações de que a China está disposta a negociações bilaterais de tarifas de importação com os Estados Unidos, o que seria um alívio para Trump, ante do fracasso econômico dos primeiros 100 dias.

O euro sobe 0,62% nesta sexta-feira e acumula valorização de 2,81% em 30 sias, seguido pela libra esterlina, que valoriza 0,26% no dia e 1,73% no mês. Mas o melhor resultado decorrente da queda nas apostas de baixa nos juros pelo Federal Reserve Bank foi o avanço de 0,89% no iene diante do dólar, com alta de 1,40% em 30 dias.

Entre as moedas emergentes, o real se beneficiou com alta de 0,63% frente ao dólar, contado a R$ 5,6465, às 12:23, mas com o dólar subindo 0,32% em 30 dias. O peso mexicano perdia 0,21% diante do dólar e avançava no mês. O peso argentino tinha queda de 0,02% no dia e de 8,88% em 30 dias

Bradesco discute a ‘desinflação’ chinesa

O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco atualizou um estudo de 2006 sobre o impacto das importações da China em 74 setores da economia dos Estados Unidos, e o resultado mostra que o tarifaço, além de ter provocado - com a antecipação de importações para evitar o choque tarifário - o encolhimento do PIB (que caiu 0,3% no primeiro trimestre, na primeira queda desde 2022), pode ter impacto significativo na inflação.

Segundo a economista Paula Magalhães, o resultado pode parecer pequeno, mas diante da perspectiva de que o incremento anual da participação da China é de 0,7 ponto percentual e o “share” médio na amostra é acima de 12%, o valor é relevante. Os modelos de bens industriais do Bradesco (tema de futuro relatório) indicam que a variação de 1 ponto percentual nos preços importados eleva os bens industriais no IPCA em cerca de 0,4 ponto percentual.

O exercício leva em consideração um período de mudanças graduais. Mas, a introdução das tarifas de 125% (em cima dos 20% já existentes) dos EUA na China e a retaliação do país asiático foram eventos repentinos, neste mês. A dinâmica de reorganização do comércio mundial pode ser mais súbita do que a ocorrida nos últimos anos. Há chances de negociação entre os dois países.

Mas, se não avançarem e houver excesso de oferta de bens industriais chineses se prove correta, é possível que o efeito deflacionário dos bens chineses chegue mais rápido ao Brasil. Em março, o índice de preços importados da Funcex indicou alta de 4,5% no mês, mas ainda estava livre dos efeitos das tarifas. Os preços de importação devem ser um indicador relevante para apurar os desdobramentos da guerra comercial nos preços brasileiros e confirmar ou refutar a tese de desinflação importada da China por conta da guerra comercial, conclui a economista.

Itaú pede contingenciamento de R$ 40 bilhões

Ao analisar o superávit primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública) de R$ 3,6 bilhões do setor público consolidado em março (com o Orçamento Geral da União ainda estava travado), e projetar o desempenho para o resto do ano, o Itaú não espera o cumprimento da meta de resultado primário de -0,6% do PIB em 2025 (considerando abatimentos e o limite inferior da meta oficial de 0%), mas admite a possibilidade de um resultado melhor do que estima atualmente, diante do esforço contínuo do governo na agenda de receitas.

Entretanto, olhando o lado das despesas, com a continuidade do crescimento expressivo de despesas obrigatórias, o banco considera importante que o governo anuncie uma contenção de gastos discricionários significativa no relatório bimestral de maio, da ordem de R$ 40 bilhões, além de incluir, nos limites das regras fiscais, as despesas atualmente executadas fora do orçamento. Para o Itaú, essas iniciativas poderiam amenizar, ao menos em parte, os riscos de perda de credibilidade do arcabouço como âncora fiscal.

LCA vê primário de -R$ 21 bilhões

Já a projeção da LCA Consultores para o primário do setor público consolidado em 2025 é de -R$ 63 bilhões (-0,5% do PIB). Neste resultado, dentro do governo federal, estão incluídos R$ 44 bilhões de gastos extraordinários com precatórios e R$ 5 bilhões de gastos do PAC, que não fazem parte da apuração da meta de primário.

Para fins de apuração da meta de primário do governo central, a LCA considera um déficit de -R$ 21 bilhões (-0,2% do PIB), cumprimento da meta zero dentro do intervalo de tolerância. A dívida bruta do governo geral deve terminar o ano em 80,9% do PIB (+4,4 p.p. em relação a 2024). Para a dívida líquida do setor público, e a consultoria espera que termine o ano em 66,5% do PIB (+5,0 p.p.).

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