O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Contas externas largam mal em 2025

Publicado em 26/03/2025 às 14:02

Alterado em 26/03/2025 às 18:47

No incerto ano de 2025, quando as barreiras protecionistas do governo Trump desorganizam as cadeias produtivas, a balança comercial mostrou déficit de US$ 979 milhões em fevereiro. O resultado foi agravado pela importação de plataforma da Petrobras no valor de US$ 2,7 bilhões, após saldo de 4,387 bilhões em janeiro, mas indica que a exportações ainda não foram turbinadas pelos embarques da supersafra de soja, do petróleo e nem pela alta do café. Na comparação com fevereiro de 2024, as exportações diminuíram 1,8% e as importações aumentaram 25,7%.

O resultado da balança comercial gerou um déficit de US$ 8,758 bilhões em contas correntes (balança comercial + conta de serviços e rendas de capitais) em fevereiro de 2025, num aumento de US$ 4,855 bilhões contra o resultado de fevereiro de 2024. Nos dois primeiros meses do ano, a balança comercial teve superávit de apenas US$ 340 milhões, uma redução preocupante de US$ 9,610 bilhões em relação aos US$ 9,950 bilhões frente a fevereiro de 2024.

Com a perda de dinamismo das exportações e o aumento das importações, dado o histórico de déficits em serviços e rendas de capitais, o déficit bimensal na Conta Corrente chegou a US$ 17,318 bilhões, mais que o dobro do déficit de US$ 8,310 bilhões dos primeiros dois meses de 2024. E o dado mais grave é que o ingresso líquido de investimento direto no país (US$ 9,3 bilhões em fevereiro e US$ 15,802 bilhões) se cobriu o déficit em contas correntes em fevereiro, foi insuficiente para cobrir o déficit bimensal de US$ 17,318 bilhões.

Bradesco: importação sustenta consumo

Para o Bradesco, em análise da economista Priscila Trigo, a relação entre a evolução da demanda doméstica e os seus impactos na indústria indica que, “nos últimos anos, a demanda doméstica esteve aquecida e, em partes, atendida por produtos importados. Após a acomodação da demanda privada no final de 2024, os dados parciais do 1º trimestre apontam recuperação do consumo aparente de bens industriais, com maior presença de produtos importados”.

O volume importado segue compatível com uma atividade ainda resiliente e deve contribuir para alguma aceleração da demanda doméstica no primeiro trimestre do ano. A desaceleração da atividade deve trazer enfraquecimento do volume importado apenas no segundo semestre. A produção industrial perdeu dinamismo no final de 2024, mostrando também acomodação nos dados parciais do primeiro trimestre.

Para a economista, “sem novos estímulos fiscais e com a política monetária restritiva, o setor deve desacelerar ao longo do ano, especialmente em bens de capital e bens de consumo. Neste início de ano, entretanto, a produção de bens de capital e de consumo mostraram sinais de recuperação, ao passo que a bens intermediários registrou perda de tração. Ao mesmo tempo, o consumo aparente da indústria seguiu elevado e em aceleração”.

Segundo seu levantamento, “houve contribuição relevante de produtos importados, com o quantum chegando próximo das máximas históricas nos últimos meses. Com isso, o coeficiente de importação passou para 32% nos últimos três meses. Vale reforçar que a trajetória de maior participação de importados vinha ocorrendo desde 2017, sendo interrompida na pandemia e em 2023. Como comparação, a participação das importações no consumo aparente era de aproximadamente 22% há oito anos e de 28% ao final de 2023”.

Mesmo com os preocupantes dados recentes, ela destaca que “a recente alta do consumo aparente está sendo puxada por bens de capital” [o que tende a aumentar a capacidade do parque produtivo]. Mas observa que “a retomada dos investimentos no ano passado segue demandando esses bens, embora o ciclo de aperto monetário tende a amenizar tal desempenho. Já o consumo de bens intermediários e de consumo se acomodou. Se a trajetória recente do consumo de intermediários está ligada à moderação recente da indústria, a demanda por bens de consumo acontece em detrimento de bens duráveis.

“No último ano, a dinâmica das importações e do consumo aparente de veículos foi dada pela imposição de tarifas de importação de veículos eletrificados¹, levando à antecipação da importação desses produtos entre maio e junho do ano passado e arrefecendo na segunda metade do ano. O aumento das importações está compatível com PIB resiliente neste começo de ano”.

“Nossos modelos sugerem que o aumento do quantum importado reflete a aceleração da atividade no primeiro trimestre. Em especial, o consumo das famílias seguirá estimulado pelo mercado de trabalho aquecido, reajuste real do salário-mínimo e possível antecipação de 13º salário entre abril e maio. Além disso, o aumento da renda agrícola sustenta o avanço da demanda doméstica privada no começo do ano. Nesse sentido, podemos demorar para observar queda do quantum importado, que deve ocorrer mais para o final do ano”, conclui o estudo.

LCA: Selic em 15%, de junho a janeiro

A LCA consultores ajustou seu cenário depois da divulgação da Ata do Copom, ontem, pelo Banco Central. Para a consultoria “o Banco Central continua desconfortável com a inflação corrente e a desancoragem das expectativas inflacionárias, apesar da ligeira redução nas projeções oficiais de inflação”.

Em relação à atividade, o Copom reiterou que o seu "cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade", embora tenha alertado que "persiste a parcimônia nas conclusões no entendimento" em relação ao comportamento passado, presente e futuro da atividade.

Nessas circunstâncias, o Copom sinalizou: (i) que "o ciclo não está encerrado"; (ii) que "o próximo movimento" tende a ser de "menor magnitude" e (iii) que, "diante da elevada incerteza", o Copom não explicitaria o tamanho do "próximo movimento", mas apenas a sua "direção" (no caso, de alta).

Assim, a LCA manteve as projeções de que: “(i) a autoridade deverá desacelerar o ritmo de alta da Selic para 50 pontos em 07 de maio; (ii) o ciclo será encerrado com um ajuste 25 pontos em 18 de junho; e (iii) que a Selic será mantida em 15% ao ano até ao menos o começo de 2026”.

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