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O OUTRO LADO DA MOEDA
Bitcoin de Milei afunda imagem da Argentina
Publicado em 18/02/2025 às 14:18
Alterado em 18/02/2025 às 16:35
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Caro leitor, quem me acompanha aqui na coluna sabe que não tenho confiança em criptomoedas. Por não terem registro escritural confiável, não dispõem do controle de sua emissão. No ano passado, segundo estimativas do Departamento Econômico do Santander, a saída de recursos do país para aplicações em criptomoedas – que se prestam à evasão de divisas e de impostos – somou US$ 16 bilhões, um aumento de 45% sobre os US$ 11 bilhões investidos em criptomoedas em 2023. Ao lado das apostas online, cuja maioria dos sites está no exterior, exerceram forte pressão no câmbio.
Tão perigoso quanto comprar ações de empresa sem registro na Comissão de Valores Mobiliários ou num dos mercados da B3. É um risco semelhante a comprar um título de crédito de uma Instituição de Pagamento que usa o nome fantasia de bank, porque os papéis não estão registrados na Cetip, nem contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (até R$ 250 mil). O risco de a operação virar uma pirâmide financeira, seguida de calote, é real.
Pois aconteceu na vizinha Argentina e o estimulador foi ninguém menos que o presidente Javier Milei. Nunca confiei nas suas ideias econômicas. O fiasco arranhou toda a credibilidade do governo e do país. Vejam a manchete do respeitado site econômico argentino “Âmbito Financiero:
“Ações e títulos argentinos sofrem pesadas perdas em Wall Street devido ao efeito $LIBRA”, diz o “Âmbito”, que trata o escândalo da ruína da cripto moeda $LIBRA, lançada por um grupo de investidores estrangeiros e incensada pelo presidente da Argentina, Javier Milei em postagem no X na última sexta-feira, 14 de fevereiro. Segundo o “Âmbito”, que trata o assunto como “crypto-gate”, a derrocada “minou a confiança dos investidores, prejudicou a imagem do presidente e aumentou as pressões sobre os mercados financeiros e cambiais”.
O site acrescenta que a reabertura de Wall Street, o mercado financeiro dos Estados Unidos, após o feriado do “Dia do Presidente” revela a magnitude do impacto gerado pelo “crypto-gate”. A sessão na Bolsa de Valores de Buenos Aires mostrou que as perdas superaram as previsões iniciais, aumentando a incerteza entre os investidores, que agora olham com desconfiança para a figura do presidente Javier Milei.
Em meio a esse ambiente instável, alguns analistas sugerem que a "salvação" está em acelerar a negociação do acordo com o Fundo Monetário Internacional, pois se considera que isso poderá injetar a confiança necessária para enfrentar a crise. No entanto, o ministro da Economia, Luis Caputo, disse que as negociações com o fundo continuam firmes e não serão comprometidas pelos acontecimentos recentes.
A deterioração nos mercados locais era palpável: tanto ações quanto títulos mostraram uma tendência de queda que piorou após a comoção em torno do token $LIBRA. Esse cenário, somado à perda de prestígio hoje reconhecida à liderança presidencial — que até pouco tempo gozava de uma imagem de “rockstar” no cenário internacional — prenuncia um caminho difícil para reconquistar a confiança do mercado.
As desculpas de Milei
O presidente da Argentina, Javier Milei, se defendeu das acusações de envolvimento na promoção da criptomoeda $LIBRA, que valorizou rapidamente antes de desabar, causando prejuízos a milhares de investidores. Em entrevista ao canal TN, na segunda-feira (17), Milei rejeitou qualquer responsabilidade e comparou as perdas dos investidores ao funcionamento de um cassino! “Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação se você sabe que o cassino tem essas características?”, afirmou o presidente. Diante do escândalo, Milei apagou a publicação e negou que tenha promovido a moeda digital. “Eu não o promovi; apenas o divulguei”, se desculpou.
A criptomoeda, divulgada por Milei em um post na rede X na sexta-feira (14), teve um crescimento vertiginoso após sua publicação. Em poucos minutos, o ativo atingiu um valor de mercado de US$ 4 bilhões, impulsionado por cerca de 44 mil investidores, segundo especialistas. No entanto, parte dos detentores das moedas digitais sacou rapidamente os lucros, sem liquidez, o preço do ativo se dissolveu, causando pesados prejuízos a muitos compradores.
As garantias no Brasil
A cobertura do Fundo Garantidor de Créditos, que inclui o Nubank, associado em 2019, é para produtos de renda fixa e depósitos bancários. Os investimentos cobertos pelo FGC são: Conta corrente (depósitos à vista ou a prazo); Conta poupança; Certificado de Depósito Bancário (CDB); Recibo de Depósito Bancário (RDB); Letras de Crédito do Agronegócio (LCA); Letras de Crédito Imobiliário (LCI); Letras de Câmbio (LC); Letras Hipotecárias (LH); e Operações compromissadas (entre instituições financeiras).
Inflação acima do teto
A inflação acumulada em 12 meses deverá ficar acima do teto ao longo deste ano e até agosto de 2026. Desta forma, o Banco Central terá descumprido a meta de inflação em julho de 2025, quando completará seis meses consecutivos de inflação acima do teto.
A Pesquisa Focus de 14/02 mostrou que a trajetória da taxa Selic prevê mais uma alta de 100 pontos base (pb) da taxa Selic em março. Além disso, os analistas continuam a esperar mais duas elevações menores no segundo trimestre de 2025: 50 pb em maio e em junho. Nessa ocasião, a taxa básica de juros terá alcançado 15,25% e permanecerá nesse patamar até novembro, quando a taxa Selic seria reduzida para 15,0%. Os analistas continuaram a esperar uma redução de 250 pb da Selic para 12,50% em 2026. O juro real ex-ante para os próximos 12 meses seguiu acima de 9,0% em todo ano de 2025.
Mas o Bradesco, de onde saiu o diretor Tesoureiro, Nilton David, para ser diretor de Política Monetária do Banco Central, prevê a Selic em 14,75% em dezembro deste ano e em 11,25% em dezembro de 2026.