O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Carros elétricos, muito além das 'comprinhas'

Publicado em 17/07/2024 às 14:06

Alterado em 17/07/2024 às 14:06

A economia mundial é muito dinâmica em comparação com a pauta de exportações brasileira. Enquanto os navios saem do Brasil com cargas volumosas de produtos básicos da indústria extrativa mineral (petróleo bruto e minério de ferro, sobretudo) e da agropecuária (soja, açúcar, milho, café, suco de laranja, algodão e carnes), basta chegarem aos portos produtos eletroeletrônicos como chips, ou bens de consumo de alto valor tecnológico, como os carros elétricos “made in China”, para a balança comercial se desequilibrar.

Enquanto o Brasil estava preocupado – com toda a razão – em barrar as “comprinhas”, via sites chineses, de blusas e vestuário chinês, que, além de ludibriar a fiscalização da Receita Federal, se apresentando como compras de pessoa física junto a pessoa física na China (!) dentro do limite de isenção até US$ 50, tiram mercado e emprego da indústria de confecção e do comércio, uma invasão de carros elétricos “made in China” ligou os alertas da aduana em junho.

Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, que vasculhou os dados do Icomex, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), houve um aumento extraordinário de +320% nas importações de bens duráveis, entre os meses de junho de 2023 e 2024.

Embora a maior participação nas importações seja de bens intermediários (64,9%), seguida dos bens de capital (17,1%), os bens duráveis, apesar de terem representado 5,7% do total importado pela indústria de transformação, cresceram 82,5%. É verdade que, quando o câmbio era mais favorável, como no 1º semestre de 2011, a participação dos bens duráveis chegou a 7,5% e depois começou a declinar. Naquele período, a valorização cambial barateava o preço das importações.

Carros elétricos superam combustíveis

No momento atual, adverte o Ibre, “esse aumento está relacionado principalmente aos veículos de passageiros, sobretudo carros elétricos oriundos da China, em junho. Segundo a Secex, as importações de todos os veículos de passageiros aumentaram em valor +432% e +473%, em quantidade, entre os meses de junho de 2023 e 2024. Os veículos foram o principal produto importado, com participação de 8,9%, superando os óleos combustíveis, com participação de 5,8%”.

A análise da pauta brasileira de importações da China por categoria de uso nos dados do Icomex mostra que no 1º semestre de 2022, a China explicava 19,2% das importações do Brasil em bens duráveis. No 1º semestre de 2024, esse percentual subiu para 51%.

Mercados principais

Em termos de volume exportado, os Estados Unidos lideram os resultados apresentados. O principal produto exportado no 1º semestre foi o petróleo bruto, com participação de 16% e variação no valor entre os dois primeiros semestres de +108%. Óleos combustíveis foi o 4º produto, com participação de 4,6% e crescimento no valor de +202%, o que indica um comércio intrasetorial na área de petróleo. O 2º produto foi aço e o 3º, aeronaves. Em termos de participação nas exportações brasileiras, os Estados Unidos ocupam o 2º lugar (11,5%), atrás dos 30,9% da China. Com os EUA, o Brasil registrou um déficit de US$ 218 milhões e com a China, um superávit de US$ 22,6 bilhões.

Nas importações, em termos de volume, a China lidera e o principal produto importado foi veículos de passageiros, com aumento de +924%, em valor, e participação de 8,8%. A China é a principal origem das importações totais do Brasil, com participação de 23,3%, seguida dos Estados Unidos, com 15,5%.

Uma das consequências do aumento das importações de veículos elétricos da China foi a alteração no cronograma de recomposição das alíquotas para carros elétricos: 10% de Imposto de Importação em janeiro de 2024; 18% em julho de 2024; 25% em julho de 2025; e 35% em julho de 2026. A razão seria abrir espaço para a produção desses veículos no Brasil.

Inflação perde força

Não é só nos Estados Unidos que a inflação perde força e já abre janela para o Fed baixar os juros em setembro. No Brasil, segundo a FGV, os preços desaceleraram no IGP-10 de junho para julho, apesar do auge da alta do câmbio. Depois de subir 0,83% no levantamento até 10 de junho, o IGP caiu para 0,45% até 10 de julho. E o bom sinal foi de que a queda se manifestou no atacado, o que tende a ser transferido adiante para o varejo.

O IPA, que mede os preços ao produtor, tinha subido 0,88% em junho e reduziu a alta para 0,49% em julho. O destaque foi a queda nos preços dos alimentos “in natura”. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a variação do custo de vida, esse efeito também foi registrado, resultando em deflação no grupo alimentação.

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